BARANIDHARAN RAMAN
Marinha
americana atribui mais de 670 mil euros a uma equipa da Universidade
de Washington para desenvolver o novo ciborgue. Protótipo deverá
estar pronto em dois anos
A
marinha americana deu uma verba de 750 mil dólares (quase 678 mil
euros) a uma equipa de investigadores da Universidade de Washington,
em St. Louis, nos Estados Unidos, para estes desenvolverem um novo
dispositivo de deteção de bombas e de explosivos. E a grande aposta
tecnológica é... um gafanhoto ciborgue, com um pequeno transmissor
às costas para cumprir as suas missões.
Podia
até parecer brincadeira, mas não é. O primeiro protótipo deverá
ser testado já daqui a um ano e, dentro de dois, a equipa conta ter
operacionais os primeiros gafanhotos "snifadores", para os
entregar à marinha de guerra dos Estados Unidos.
Usar
o poderoso olfato de animais para detetar explosivos não é
novidade. Os cães treinados, por exemplo, conseguem cheirar
explosivos ocultos - e droga, sangue, cadáveres... depende da
especialidade que se lhes atribuiu -, e a marinha americana há mais
de meio século que usa golfinhos e leões-marinhos para detetar e
recuperar explosivos no mar ou colocados em casos de embarcações.
Essa "tropa especial" esteve, aliás, muito ativa no
Vietname e, mais recentemente, também na invasão do Iraque (ver
caixa). Mas um gafanhoto ciborgue é outra coisa.
Além
de aproveitarem a particular capacidade que os gafanhotos têm de
detetar um odor específico num ambiente que pode estar inundado de
muitos outros, os cientistas liderados pelo especialista em
engenharia biomédica Barani Raman pretendem introduzir no cérebro
do animal um dispositivo eletrónico miniatural capaz de traduzir em
impulsos elétricos a atividade neural do animal relacionada com o
processamento olfativo. Os sinais elétricos serão depois captados
por uma antena por um retransmissor, ambos colocados nas costas do
gafanhoto, e a informação é em seguida visualizada num computador.
Barani
Raman, que dirige na Universidade de Washington um laboratório com o
seu próprio nome, o Raman Lab, estuda há anos o sistema olfativo e
a forma como os seus sinais são processados em cérebros simples,
como são os dos gafanhotos, o que lhe permitiu chegar a um
conhecimento muito detalhado de como esse processamento funciona.
No
âmbito desse trabalho, o grupo de Barani Raman demonstrou que é
possível treinar gafanhotos para reconhecer um odor - que
corresponde, afinal, a uma substância química -, mesmo quando ele
está misturado no ambiente circundante com muitos outros.
"A
biologia conseguiu chegar a uma solução para este problema [a
identificação de um cheiro, mesmo quando há outros presentes] e
portanto é preciso conhecer os seus princípios fundamentais para
podermos imaginar dispositivos de engenharia para a mesma função",
explica Barani Raman, citado num comunicado da sua universidade.
Por
outro lado, "dado que a natureza chegou a este refinamento, para
quê reinventar a roda? Porque não havemos de tirar partido da
solução biológica que já existe?", pergunta-se o cientista.
A
sua resposta não podia ser mais clara: aproveite-se a solução
biológica, ou seja, o gafanhoto, equipe-se o animal com o que lhe
falta para o propósito desejado - os implantes cerebrais eletrónicos
e a mochila com os transmissores - e faça-se deste inseto ciborgue o
mais sofisticado dos "snifadores" bombas e explosivos que
já existiram. No caso dos gafanhotos há uma vantagem acrescida,
garante Barani Raman. É a rápida recuperação da intervenção
para colocar um minúsculo chip no seu minúsculo cérebro.
"No
dia seguinte estão como se não tivesse acontecido nada", diz o
cientista.
A
equipa, que inclui Srikanth Singamaneni, engenheiro de materiais, e
de Shantanu Chakrabartty, investigador em computação, vai começar
por monitorizar a atividade neural de gafanhotos para determinar os
sinais correspondentes a cada odor, o que depois vai ser tratado em
computador. E será a partir dessa base de dados que se fará o
resto.
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