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Marcelo Camargo / Agência Brasil
Nada.
Absolutamente
nada. Estamos, grosso modo, perdendo o bonde da história, aquele que está
passando, e por medo de não sabermos direito o itinerário, ficamos parado no
ponto esperando que venha o de sempre.
O bonde de
sempre é guiado pelos rostos de sempre. Aqueles que todos conhecem. Gente do
naipe de Eduardo Cunha & Cia.
Em maio de
1968 os estudantes parisienses tomaram as ruas
e foram fazer aquilo que ninguém
estava disposto a fazer por eles.
Pediam uma reforma estudantil que lhes
possibilitasse estudos e um futuro melhor.
Outubro de
2016 nossos secundaristas estão nas escolas, pedindo a mesma coisa. Suas
reivindicações são no mínimo legítimas. Se posicionam contra a Reforma do
Ensino Médio e contra a PEC 241.
A princípio
eles possuem esse direito, o do protesto. E a modalidade escolhida por eles
foram as ocupações, o que por si só, diz bastante.
Diz muito
porque a palavra ocupar, pré supõe habitar um espaço que não era habitado. O
aluno que ocupa a escola está gritando para nós, que ele ia todos os dias para
a escola, mas que não a percebia como sua. Este comunicado é grave,
principalmente quando falamos de um universo de mais de mil escolas ocupadas.
O que leio
em sites e/ou páginas diversas no Facebook são pessoas e entidades chamando os
alunos que promovem essas ocupações de alienados, vagabundos, doutrinados.
Também escuto o mesmo vindo de professores, meus colegas de profissão, e me
lembro de Rubem Alves: não devo, não quero falar mal de meus companheiros
professores. Mas já falei.
São muitos
os professores que não acreditam nos seus alunos. Pensam que os adolescentes a
quem ensinam são de fato alienados, vagabundos, doutrinados. E isso é triste.
Mas verdade seja dita, há muitos que, como eu acreditam não apenas na educação,
como nos protagonistas dela, os alunos.
Conheço
muitos professores que se comprometem com a educação. Mas infelizmente, conheço
pessoalmente, muito mais professores que representam o oposto.
E aí como
faz?
É preciso
olhar o discurso de dez minutos de Ana Júlia, 16 anos e secundarista paranaense
e ver o que ela tem a dizer. Não por ela ser um prodígio, mas antes porque ela
diz algo que poderia sair da boca de milhões de outros alunos do país com igual
valentia, brilho, dignidade. Poderia sair da boca de meus alunos, de seus
filhos, de seus vizinhos, netos.
Você não
precisa concordar com Ana, nem com aqueles que ela representou com bastante
maturidade, basta reconhecer o óbvio: este movimento estudantil precisa ser
acolhido, compreendido, reconhecido ao invés de ser ignorado como está sendo
tanto pela imprensa quanto pela sociedade.
Que as
ocupações escolares possuem problemas, acho que é desnecessário dizer. Não há
movimento social que não os possua. Por exemplo, infelizmente um adolescente
faleceu esfaqueado. Seu nome não será pronunciado neste texto pois a dor de
seus familiares, creio, deve ser respeitada.
Por isso,
exatamente por isso, a presença de pais, autoridades, professores, junto a
essas crianças e adolescentes se faz necessária. Para evitar que tragédias
iguais se repitam.
Não digo que
eles precisam de apoio. Estes jovens não o tiveram da maioria da sociedade, até
o presente momento e conseguiram um feito digno de nota.
Eles
precisam que nós aprendamos algo com eles, para que enfim, nós os possamos
ajudar da maneira que precisam. E eles não precisam aprender apenas a apertar
porcas e parafusos, assinar cheques e contratos, conectar cabos e instalar
softwares.
Eles
precisam aprender a ser humano, no sentido mais amplo e belo de sua essência.
Um ser
humano capaz de ler Tolstói, apreciar Van Gogh, refletir com Nietzsche, se
emocionar com Walt Whitman, resolver equações, enfim compreender seu lugar no
mundo e vivencia-lo de modo pleno.
Se formos
inteligentes e os escutarmos, eles estão tentando no dizer como podemos
ajuda-los a fazer isso.
Se não
formos, vamos nos ausentar desse rico debate, e nossa ausência custa caro.
Não podemos
nos dar a esse luxo.
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