AFP / STR Venezuelanos marcham em Caracas para exigir o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro, no dia 1º de setembro de 2016
A oposição venezuelana colocou nesta quinta-feira 1 milhão de
pessoas nas ruas de Caracas, em um protesto histórico pela realização do
referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, apesar das
ameaças de distúrbios e violências.
"Mostramos ao mundo o tamanho imenso da Venezuela que
quer a mudança. É uma passeata histórica", disse o líder opositor Jesús
Torrealba, qualificando o protesto de "maior mobilização das últimas
décadas" no país.
A oposição estima que "entre 950.000 e 1,1 milhão de
pessoas" marcharam na capital, sem levar em conta "as centenas de
milhares" de manifestantes do interior que não conseguiram chegar, devido
aos "bloqueios" de autoridades na estrada, declarou o
secretário-executivo da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Ao anunciar o "início da etapa definitiva" da luta
pelo referendo, Torrealba precisou que no dia 7 de setembro haverá outra
passeata em direção à sede do poder eleitoral, e sete dias depois nas capitais
dos Estados.
Após a passeata desta quinta-feira, agentes da Polícia e da
Guarda Nacional lançaram gás lacrimogêneo contra um grupo de manifestantes que
atirava pedras.
AFP / Federico Parra A oposição venezuelana iniciou nesta quinta-feira sua manifestação nas ruas de Caracas, no que se espera que seja uma marcha histórica pela realização do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro, que responderá ao desafio com outra manifestação, em meio a temores de distúrbios e violência
Ao fim da chamada "Tomada de Caracas", cerca de 400
pessoas se mobilizaram na autoestrada Francisco Fajardo, principal via da
capital venezuelana, que estava fora do trajeto traçado pela liderança
opositora.
Um grupo de encapuzados jogou pedras nos agentes, que
responderam com balas e bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes devolveram
o ataque. Até o momento, esse confronto parece ter sido um episódio isolado.
"Atentos! Denunciamos a presença de infiltrados (...)
pedindo a tomada da autoestrada em Las Mercedes", denunciou a aliança
opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), no Twitter, que já havia
comemorado o fato de a marcha ter acontecido de forma pacífica.
Dirigentes da oposição e de organizações de direitos humanos
relataram atos de violência nas cidades de Maracay (Aragua) e San Cristóbal
(Táchira).
"Maracay foi tomada por homens armados, que causaram
estragos no comércio roubando e intimidando as pessoas que estavam nas ruas de
maneira pacífica apoiando a Tomada de Caracas", disse Delson Guarate, um
prefeito opositor de Aragua.
Os saques em Maracay foram confirmados pela ONG Foro Penal,
que também verificou "ataques" de grupos ligados ao governo chavista
a ônibus em Puerto Ordaz e Barcelona que seguiam para o protesto em Caracas.
Em San Cristóbal, foco da onda de protestos em 2014 contra
Maduro, manifestantes denunciaram "ataques por parte de grupos ligados ao
governo nacional" e da polícia, que deixaram 15 pessoas feridas.
Mudança já
Usando branco e gritando o slogan "Mudança Já",
milhares de opositores saíram às ruas da capital para participar do protesto.
"Esta manifestação vai marcar o novo rumo da Venezuela.
Hoje vamos demonstrar que o referendo deve acontecer este ano porque isso é um
clamor popular", declarou à AFP Jose Castillo, funcionário da estatal
Petróleos da Venezuela (PDVA), afirmando não ter medo das represálias por
marchar com a oposição.
O opositor atualmente preso Leopoldo López opinou que a
manifestação conseguirá uma mudança política na Venezuela, em carta publicada
no jornal espanhol El País.
"Estamos convencidos de que (...) com esta pressão
popular e pacífica e o acompanhamento dos democratas do mundo (...)
conseguiremos a mudança política", afirma López em carta escrita na prisão
em que se encontra desde 2014.
A oposição espera que a "Tomada de Caracas"
pressione o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para ativar o recolhimento de
quatro milhões de assinaturas necessárias para realizar o referendo
revogatório.
Segundo o instituto Datanálisis, oito em cada dez
venezuelanos querem a mudança de governo.
AFP / JUAN BARRETO Policiais lançam gás lacrimogênei contra manifestantes, em Caracas, no dia 1º de setembro de 2016
Militares e policiais foram colocados em locais estratégicos
para acompanhar o protesto convocado pela opositora Mesa da Unidade Democrática
(MUD), que realizou o objetivo de reunir, em três grandes avenidas, um milhão
de pessoas para exigir que o poder eleitoral acelere o referendo.
Passando para a ofensiva, os chavistas realizaram uma
mobilização, também nesta quinta-feira, que chamaram de "Tomada da
Venezuela" para "defender a revolução".
"Hoje derrotamos o golpe de Estado (...), fracassaram
mais uma vez, a vitória é nossa", disse Maduro do palanque, afirmando que
o protesto opositor não reuniu mais de "25.000 a 30.000"
participantes.
Maduro acusa a oposição de planejar um "golpe de
Estado" e ameaça mandar para a prisão dirigentes opositores, caso haja
violência: "Berrem, chorem ou gritem, irão presos!" - sentenciou.
Henrique Capriles, líder opositor, disse que o governo está
"desesperado" e tem "medo" de que a manifestação seja
gigantesca e, diante disso, pediu a seus seguidores que protestem
pacificamente.
O CNE descartou a possibilidade de antecipar a data de
recolhimento das assinaturas, reiterando que será feito na última semana de
outubro e advertindo que eventuais distúrbios na manifestação irão paralisar o
processo.
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