Oposição denuncia onda de repressão antes de grande marcha na capital da Venezuela, enquanto governo alerta sobre planos golpistas. Jornalistas estrangeiros são impedidos de entrar no país.
Uma série de ativistas
e apoiadores da oposição venezuelana foi presa às vésperas de uma marcha
convocada para esta quinta-feira (01/09), chamada de "Toma de
Caracas" (Ocupação de Caracas). Políticos da oposição rechaçam a onda de
repressão, enquanto o governo denuncia supostos planos golpistas relacionados à
manifestação, que deve reunir dezenas de milhares de pessoas.
O partido opositor
Primero Justicia (PJ) denunciou que 11 de seus militantes foram detidos pela
Guarda Nacional Bolivariana ao se dirigirem à capital do país para participar
do protesto, que tem como objetivo agilizar um referendo para revogar o mandato
do presidente Nicolás Maduro.
"A detenção é uma
amostra do medo que o governo tem da contundência que terá a Gran Toma de
Caracas neste 1º de setembro. Está claro que nesta quinta-feira se inicia a
rota rumo à mudança apor meio do referendo presidencial revogatório de Nicolás
Maduro", disse o partido em comunicado.
As autoridades
venezuelanas confirmaram nesta quarta-feira que dois dirigentes opositores
haviam sido detidos e denunciaram um plano "desestabilizador"
previsto para a manifestação desta quinta-feira.
Segundo o ministro do
Interior, Néstor Reverol, foi descoberto um suposto plano de fuga do prefeito
de San Cristóbal, Daniel Ceballos, que cumpria pena domiciliar em consequência
das manifestações de 2014 contra o governo. Ceballos foi transferido para um
presídio e arquivos do político revelaram detalhes de planos
desestabilizadores, envolvendo vários "atores da ultradireita". Tais
arquivos resultaram na prisão de dois dirigentes, do Voluntad Popular e do
Avanzada Popular, por posse de materiais explosivos.
"Os detidos têm
antecedentes de atos desestabilizadores em nosso país, e não se descartam
outras detenções de geradores de violência da ultradireita que pretendem criar
o caos e a violência no país", disse Reverol.
De acordo com o
ministro, o dirigente Lester Toledo, do partido Voluntad Popular, é alvo de uma
ordem de prisão por financiamento de terrorismo. Reverol afirmou ainda que as
autoridades estão investigando outras informações para "derrotar o golpe
de Estado e a violência no nosso país e seguir avançando com a construção da
revolução bolivariana."
Nesta terça-feira,
Maduro disse que o Voluntad Popular é o "braço armado" do
imperialismo e que está envolvido numa eventual tentativa golpista nesta
quinta-feira.
Jornalistas barrados
O Sindicato Nacional
de Trabalhadores da Imprensa da Venezuela denunciou nesta quinta-feira, a
poucas horas da manifestação da oposição em Caracas, que as autoridades do país
estavam impedindo a entrada e expulsando jornalistas estrangeiros que iriam
cobrir o protesto.
Segundo Marco Ruiz,
porta-voz do sindicato, as autoridades alegam que os jornalistas tiveram a
entrada no país negada, mas na verdade não estão permitindo a entrada de
funcionários de meios de comunicação internacionais.
Nesta terça-feira,
três jornalistas da emissora Al Jazeera que pretendiam cobrir a marcha em
Caracas foram detidos ao chegarem ao aeroporto venezuelano de Maiquetía.
Segundo a imprensa venezuelana, uma jornalista do México foi expulsa do país no
mesmo dia.
O governo venezuelano
também fechou nesta quinta-feira os acessos à capital que seriam usados por
manifestantes. Dentro de Caracas, pelo menos quatro estações de metrô foram
fechadas.
Apoiadores de Maduro
também devem ocupar as ruas de Caracas nesta quinta-feira. Os defensores do
regime já deram início à sua manifestação nesta quarta-feira, em resposta a um
apelo do chefe de Estado venezuelano que denunciou que setores opositores estavam
preparando, com o apoio dos Estados Unidos, um golpe de Estado.
Os simpatizantes de
Maduro assumiram o compromisso de permanecer nas ruas até esta quinta-feira com
a missão de garantir a paz e impedir alegadas tentativas de criar violência nas
concentrações da oposição.
Em meio à grave crise
econômica e política, a Venezuela está dividida. Apesar de ter as maiores
reservas petrolíferas do mundo, a economia atravessa grandes dificuldades que
levaram o presidente a decretar, em janeiro deste ano, estado de emergência
econômica. A população sofre com a escassez de alimentos e medicamentos.
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