Forças Armadas irão intervir nas zonas do Rio de Janeiro onde a violência já fez mais vítimas
| REUTERS/ADRIANO MACHADO
Às 22.30 de uma terça-feira de julho, Aga Lopes
Pinheiro bebia uma cerveja com o marido na esplanada de um bar na cidade de
Magé, no estado do Rio de Janeiro, quando quatro homens desceram de um carro e
dispararam dezenas de tiros contra ela. O marido saiu ileso. Aga, 49 anos, era
líder comunitária dos moradores do bairro da Barbuda e pré-candidata a
vereadora na cidade pelo partido Democratas (DEM) às eleições municipais de
outubro.
Dez dias antes, Sérgio de Almeida, 37 anos, saiu às
09.00 de casa, em Duque de Caxias, também no Rio, diretamente para o carro
quando foi bloqueado por outro veículo de onde saíram dois homens com luvas
brancas, toucas ninja, metralhadoras e pistolas e começaram a disparar.
Almeida, que concorria a vereador da cidade pelo Partido Social Liberal (PSL),
foi o nono candidato assassinado em nove meses. Aga a 11.ª. Entretanto, o
número já subiu para 14, com três mortes na segunda metade de agosto.
Segundo a Polícia Civil, seis dos casos foram
causados por disputas ente milícias, ou seja, grupos paramilitares, formados
por agentes e ex-agentes da polícia e bombeiros em atividade e bombeiros
reformados, criados nos anos 1990 para proteger por conta própria os cidadãos
dos criminosos mas que derivaram, na maioria dos casos, para o crime. Nasceram
no Rio de Janeiro mas espalharam-se por toda a região em redor da capital do
estado, conhecida como Baixada Fluminense, onde Sérgio Almeida, Aga Pinheiro e
mais 12 políticos foram assassinados.
Outros dois crimes, ainda de acordo com as investigações
da Polícia Civil, resultaram da ação de grupos de extermínio, ou seja um bando
de assassinos profissionais de aluguer que atuam nos arredores das principais
cidades brasileiras (nas regiões do interior do país chamam-se jagunços).
Quatro teriam sido fruto de envolvimento dos candidatos a vereadores com
traficantes e, nos restantes dois, a Polícia Civil ainda não encontrou relação
entre a atividade política das vítimas e os crimes.
De qualquer forma, como nas municipais de 2012 se
registou apenas o homicídio de um candidato, o Tribunal Superior Eleitoral
decidiu neste ano pedir a presença das Forças Armadas em municípios da região
da Baixada Fluminense, formada por 12 municípios e com 3,6 milhões de
habitantes, e também na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
"Não podemos passar pela vergonha das
municipais de 2012 ou das eleições gerais de 2014 quando os candidatos eram
impedidos de fazer campanha e os eleitores obrigados a votar num determinado
candidato", afirmou Sidney Madruga, procurador eleitoral. "Quando os
Jogos Paralímpicos acabarem, as Forças Armadas terão de começar a cuidar das
zonas pobres do estado e não apenas da Zona Sul", continuou, referindo-se
à região onde se situam as praias cariocas e o maior fluxo de turistas.
"Nós temos informações da inteligência no
sentido de que determinados candidatos têm a simpatia de milícias que depois
agem em relação aos opositores, o que é inadmissível", concluiu Madruga.
Na onda a que os jornais locais chamaram
"política da bala", registaram-se mortes em localidades como
Paracambi, Seropédica, Nilópolis, Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de
Meriti, Duque de Caxias e Magé. Há candidatos de partidos como o DEM, de Aga
Pinheiro, o mais à direita no país, ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o
mais à esquerda, passando pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB), do presidente Michel Temer, ao Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB), de Aécio Neves, ou por independentes. Os crimes ocorreram nas
esplanadas de bares, em parques de estacionamento, no centro das cidades, à
porta de casa das vítimas ou em emboscadas, sempre com armas de fogo.
As eleições municipais decorrem a 2 de outubro - e
30, em caso de necessidade de segunda volta - e envolvem cerca de seis mil
municípios e mais de meio milhão de candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e
vereadores.

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