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Chanceler austríaco diz que bloqueará a abertura de novos capítulos no processo de adesão turco. Berlim pede que “os golpistas sejam punidos no quadro do Estado de direito”. Chefe de Estado turco a caminho da Rússia.
Turcas na manifestação gigante de domingo em Istambul UMIT BEKTAS/REUTERS
Foi o que se esperava, tarde e noite, uma manifestação gigante (três milhões, segundo os jornais pró-Governo; mais de um milhão, dizem os outros) de turcos, o povo do AKP e o da oposição não curda, todos juntos no comício “da democracia e dos mártires”, em Istambul. Recep Tayyip Erdogan com os turcos a seus pés e a multidão embrulhada numa mesma bandeira, a aproveitar para repetir que “se o povo quer a pena de morte, os partidos seguirão a sua vontade”.

Conversa, à partida não será mais do que isso, espera-se. O Presidente turco ajudou à onda, claro, um país inteiro picado pelo mosquito do nacionalismo é o que mais quer, que a onda alastre e dure é o que deseja. Sempre que pode, Erdogan fala na reinstalação da pena de morte para que os suspeitos de envolvimento na tentativa falhada de golpe de Estado de 15 de Julho sejam enforcados. Claro que a Justiça pode estar debaixo de fogo na Turquia, mas os golpistas nunca poderiam ser condenados à morte quando esta não estava em vigor no momento do crime.

Erdogan faz o seu papel, e cavalga o que pode no pós-golpe, a União Europeia faz o seu e repete que a pena de morte (abolida em 2004) não é conciliável com a adesão, um processo que estava moribundo até Bruxelas ter decidido que precisava de Ancara para impedir milhões de refugiados de chegar à costa grega e receber de volta milhares que já estão na Grécia. A Turquia, disse esta segunda-feira o chanceler austríaco, Christian Kern, “está a afastar-se da Europa” e “o que lá se está a passar não é compatível com os valores fundamentais europeus”.

“Eu tenho um lugar no conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros, que decide por unanimidade se serão abertos novos capítulos com a Turquia. E eu sou contra”, afirmou Kern.

Horas depois do megacomício de Istambul (que deveria marcar o fim dos apelos à mobilização popular, três semanas de manifestações, mas não, afinal, Erdogan quer mais uma apoteose, na quarta-feira), no domingo, outros líderes europeus comentaram as declarações do Presidente e ex-primeiro-ministro turco, homem forte do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder desde 2002). Depois de uma visita ao Parlamento, em Ancara (bombardeado pelos golpistas), o secretário de Estado dos Assuntos Europeus de Berlim, Markus Ederer, insistiu que “os golpistas sejam punidos no quadro do Estado de direito”.

Mas Berlim, de onde têm chegado algumas das vozes mais críticas face à reacção pós-golpe de Erdogan (que foi proibido de se dirigir por vídeo a uma manifestação de turcos em Colónia, no dia 1 de Agosto), também sabe que “se o golpe tivesse sido bem-sucedido isso teria sido uma catástrofe para a Turquia, a Alemanha e a região”, admite Ederer. Importante, repetiu, “é que as investigações sejam conduzidas de acordo com os critérios da UE, do Conselho da Europa e da OSCE” (Organização para a Segurança e Cooperação), disse o diplomata.

Os turcos, partido no poder, toda a oposição, analistas e académicos, apontam o dedo ao movimento do imã Fethullah Gülen, o pregador moderado que vive nos Estados Unidos e foi um importante aliado do AKP nos anos da consolidação do poder. Desde o golpe fracassado, 60 mil turcos foram demitidos de cargos na função pública (burocratas, médicos, juízes, professores…) por supostas simpatias com os gulenistas. Mais de 10 mil pessoas foram detidas (incluindo dezenas de jornalistas) e enfrentam acusações graves.


Organizações como a Amnistia Internacional não têm dúvidas: os detidos são sujeitos a tortura, passam fome e sede, muitos não sabem do que são acusados até irem a tribunal (o que, segundo o estado de emergência declarado, pode demorar 30 dias), quase nenhuns podem escolher o advogado que desejem e o acesso à defesa está a ser limitado. Contas feitas, Erdogan e o AKP aproveitam para calar os críticos que restavam e a retórica nacionalista e belicista (empolada pelos 239 mortos de 15 de Julho, a maioria civis, que enfrentaram os tanques e os militares) alimenta a polarização social e dá azo ao surgimento de grupos de vigilantes que atacam suspeitos, familiares ou advogados, ou, simplesmente, gente diferente.



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