PÚBLICO
Calcula-se que nas últimas 24 horas tenham abandonado a cidade iraquiana cerca de quatro mil pessoas. Forças governamentais mantêm cerco.
Milhares de
pessoas têm conseguido abandonar a cidade iraquiana de Falluja nas últimas
horas, depois de as forças governamentais terem conseguido abrir uma via
terrestre segura no sábado.
A rota
chama-se al-Salam, que significa “paz”, e é isso que pode representar para as
dezenas de milhares de civis que permanecem em Falluja — cidade que nas últimas
semanas tem sido alvo de uma ofensiva conjunta do exército iraquiano, forças
paramilitares xiitas e serviços de contra-terrorismo. As Nações Unidas estimam
que estejam na cidade cerca de 90 mil civis sem hipótese de sair e sem acesso a
água e comida.
Há duas
semanas que as forças leais ao governo do primeiro-ministro iraquiano, Haider
al-Abadi, entraram em Falluja e mantêm a cidade cercada. O objectivo da
operação é retirar o controlo da cidade — a apenas 50 quilómetros a oeste de
Bagdad — ao autoproclamado Estado Islâmico, que a tem sob seu poder desde
Janeiro de 2014.
A abertura
do entroncamento de al-Salam tem permitido a fuga de milhares de civis. “Já
havia vias de saída anteriormente, mas esta é a primeira a estar completamente
protegida e é relativamente segura”, disse à Reuters o porta-voz das forças
iraquianas, Yahya Rasool.
Nas
primeiras 24 horas após a abertura da estrada, cerca de quatro mil pessoas
conseguiram fugir de Falluja, confirmou o porta-voz do Conselho Norueguês para
os Refugiados, Karl Schembri. “Esperamos que milhares sejam capazes de sair nos
próximos dias”, acrescentou. O exército não avançou qualquer estimativa quanto
ao número de civis que usaram a saída.
A via
através do cruzamento de al-Salam foi assegurada depois de os militares terem
feito recuar os militantes do EI dos bairros localizados na margem ocidental do
rio Eufrates, explicou o porta-voz do exército.
Desde que a
ofensiva iraquiana começou, a 23 de Maio, já fugiram da cidade 20 mil civis,
segundo a ONU, muitas vezes em condições muito perigosas por causa da falta de
saídas seguras. Há relatos de pessoas que morreram afogadas quando tentavam
atravessar o Eufrates a bordo de frigoríficos vazios ou armários de madeira,
que serviam de embarcações improvisadas.
Para além do
cerco, sobre os civis paira também o perigo dos combates no centro de Falluja.
As organizações internacionais temem que os militantes do Estado Islâmico usem
civis como escudos humanos.
A tomada de
Falluja tem uma dupla importância para o governo iraquiano. Por um lado, priva
o Estado Islâmico de uma base estratégica a partir de onde tem lançado
atentados na capital do país. Por outro, uma vitória no terreno vem também dar
alguma margem de manobra ao primeiro-ministro, Haider al-Abadi, para reduzir o
nível de contestação que o seu governo enfrenta.
As dúvidas
que neste momento se levantam dizem sobretudo respeito à gestão de Falluja
pós-libertação. A cidade de maioria sunita era um bastião do regime de Saddam
Hussein e foi lá que a resistência à invasão norte-americana de 2003 foi maior.
Acima de tudo, teme-se uma repetição dos erros dos últimos anos, em que poucos
anos depois de ter sido libertada, Falluja voltou a cair em mãos extremistas. A
cidade tornou-se num terreno fértil para organizações como a al-Qaeda e,
posteriormente, o Estado Islâmico — que a tomou em Janeiro de 2014, meio ano
antes de fundar um “califado” no Iraque e na Síria.
Para a
coligação internacional que tem bombardeado as posições do Estado Islâmico nos
dois países é Mossul o grande objectivo no teatro iraquiano. No terreno, as
forças iraquianas e os seus aliados peshmerga continuam a progredir, tendo
alcançado Hajj Ali, uma aldeia nas margens do rio Tigre e muito próxima da
cidade de al-Qayyarah — o derradeiro bastião jihadista antes de Mossul.
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