Ao amanhecer no deserto de Negev, sul de Israel, Mahmud Kashua faz a primeira oração do dia com uma arma ao seu lado. Ele faz parte do crescente número de árabes israelenses que voluntariamente servem no exército do Estado judeu.
"Eu me considero um árabe e um muçulmano, mas também me considero parte deste país", diz Kashua em um intervalo do treinamento de tiro. "É nosso Estado e temos que retribuir, ajudar tanto quanto for possível o Estado que nos protege."
Há mais de seis meses uma equipe de documentaristas da BBC teve acesso à Gadsar, uma unidade exclusivamente árabe de 500 soldados na Força de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).
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O número de árabes israelenses - muçulmanos e cristãos - que se juntam à IDF atualmente é dez vezes maior do que três anos atrás.
"Nossa missão é alistar tantos quanto pudermos", afirma o coronel Wajdi Sarhan, chefe da Unidade de Minorias da IDF. "Temos algumas centenas (de soldados) e queremos dobrar esse número no próximo ano."
Cerca de 20% da população de Israel é árabe, mas apenas 1% deles servem no exército. Alistar-se é um ato controverso em muitas de suas comunidades.
Hanin Zoabi, uma deputada árabe israelense que se identifica como palestina, é uma das críticas da escolha desse grupo.
"Esse pequeno e marginalizado grupo no exército israelense, que serve a Israel contra seu povo, sabe que está cruzando uma linha patriótica", afirma.
"Noventa por cento dos árabes que servem no exército israelense não tem igualdade (de direitos) com os israelenses. Israel não precisa deles para garantir sua segurança, é uma questão política - primeiro conquistar e depois dominar."
'Servindo à ocupação'
A equipe da BBC acompanhou a Gadsar quando esta se tornou a primeira unidade árabe israelense lotada na ocupação na Cisjordânia, onde vivem 1,7 milhão de árabes.
No último ano, 37 israelenses foram mortos em uma onda de ataques por palestinos ou árabes israelenses.
Mais de 200 palestinos - a maior parte responsável por ataques, segundo Israel - também foram mortos no período.
Em um ponto de controle entre dois assentamentos israelenses, Mohammed Ayashi, um soldado muçulmano, para alguns carros palestinos.
"Às vezes é difícil porque sou árabe como eles, e eles me olham de maneira depreciativa. Mas no fim das contas estou fazendo meu trabalho, tenho que fazer isso", diz Ayashi.
"Percebemos que algumas pessoas não nos suportam pela maneira como nos respondem - elas nos olham com desprezo."
Um motorista diz entender que Ayashi está fazendo seu trabalho e é livre para fazer o que quiser, mas outro fica claramente irritado.
"Gostaríamos que um soldado árabe não fizesse isso - somos todos árabes", diz o motorista. "Nós o consideramos um palestino, e ele está servindo ao exército da ocupação. Eu não sei o que pensar disso."
'Auxílio à integração'
Na base da Gadsar, Mahmud Kashua e os outros novos recrutas fazem o juramento de lealdade a Israel. Seus pais e sua noiva estão presentes para vê-lo jurar sobre o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ao mesmo tempo em que recebe sua arma.
"Estou orgulhoso. Essa é uma escolha dele, e nós apoiamos. Estamos felizes por ele estar feliz", afirma Jamil Kashua, pai dele.
Em um churrasco é feito em homenagem ao solado em uma cidade árabe no norte de Israel, ele diz que só usa o uniforme quando está na casa da família.
"Algumas pessoas me viram usando o uniforme e me disseram que eu era um traidor. Eu disse que isso era um assunto meu, mas não me importo com o que os outros falam", afirma. "Se sou um traidor, por que ele mora nesse Estado?"
Ao contrário de muitos de seus amigos, Kashua ganha um bom salário como soldado. E ,diferente dos recrutas judeus, ele pode entrar com um pedido de terra para construir sua própria casa.
"Quem se alista no exército tem uma boa posição e vive confortavelmente", diz Jamil. "O exército dá apoio financeiro e eles podem melhorar de vida."
Já para o governo de Israel, aumentar o número de árabes no exército é crucial para a integração entre as duas comunidades.
"Estamos fazendo o máximo para integrar minorias árabes ao exército para manter o status quo demograficamente," afirma o coronel Sarhan.
"Servir no exército é uma ótima maneira de conectar a comunidade muçulmana ao Estado de Israel."
Segurança para o futuro
Políticos árabes israelenses, entretanto, acusam o governo de suborno.
"Israel está em busca de pessoas pobres e que não têm trabalho para servir no exército", diz Hanin Zoabi.
"Entre 52% e 54% do nosso povo palestino em Israel está abaixo da linha da pobreza - e a política do governo de criar pobreza obriga as pessoas a procurar pela única solução que conseguem encontrar."
Enquanto o processo de paz parece não avançar - a solução de criar dois Estados ainda é uma perspectiva distante - muitos jovens árabes veem a integração às Forças Armadas israelenses como seu futuro.
"Dez pessoas da minha cidade estão servindo no exército neste momento. Eu tenho amigos que querem se alistar", afirma Mahmud Kashua. "Eu incentivo todos a fazer isso - para melhorar a vida deles, olhar para o futuro."
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