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                     Para executivo do Google, plataformas proprietárias, como o Facebook, podem ser ameaça para o futuro da internet                         

Por Claudia Tozetto - O Estado de S.Paulo


Os cabelos quase que totalmente brancos e as linhas de expressão não escondem que o norte-americano Richard Gingras tem uma longa carreira, que começou há 30 anos, antes da popularização da internet. Depois de passar por uma série de grupos de mídia dos EUA, como CBS e NBC, além empresas de tecnologia como a Apple, ele diz estar vivendo seu melhor momento no Google, onde lidera os esforços do gigante das buscas na área de notícias, como o serviço Google News, e parcerias com os veículos de comunicação.

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    O principal projeto de Gingras no Google até o momento foi o lançamento do Accelerated Mobile Pages (AMP), nova tecnologia de código aberto que acelera a navegação de sites em smartphones. O projeto chegou ao Brasil em fevereiro deste ano e tem o Estado entre os parceiros. Na última semana, Gingras concedeu uma entrevista exclusiva onde falou sobre os objetivos em comum da empresa e dos veículos da imprensa e por que todos devem se preocupar em manter a web como um território livre e aberto. Confira os principais trechos da entrevista.
    Para Gingras, sites lentos perdem atratividade dada a rapidez das redes sociais
    Quais o principal desafio que a internet impôs ao jornalismo?
    A internet tem mudado diferentes indústrias e teve um tremendo impacto na forma como as pessoas encontram, consomem e compartilham informações. Hoje temos um mercado diferente para conteúdo, que trouxe desafios e oportunidades para os publishers. Eles precisam decidir o tipo de experiência que querem prover no futuro, de forma que possam criar experiências valiosas para sua audiência atual e para as novas. Isso representa uma grande oportunidade. É por isso que precisamos criar padrões que permitam que os publishers possam inovar de forma mais rápida.
    Como surgiu o projeto AMP?
    No último um ano e meio, passamos muito tempo conversando com publishers pelo mundo para entender onde estavam os desafios e achar uma forma de resolvê-los, de forma colaborativa. Uma das conclusões foi que, conforme o mundo migra para as plataformas móveis, a web não é mais tão rápida como nós gostaríamos. Ela deixou de ser tão fácil e divertida de navegar como era há 20 anos. Conforme a publicidade evoluiu, os sites se tornaram mais lentos. As redes sociais também se tornaram muito populares e essas plataformas proprietárias são velozes. De certa forma, podemos dizer que o crescimento do tempo que as pessoas passam nas redes sociais é resultado de a web não ser mais tão divertida.
    Por que você acha isso?
    Todos já tivemos a experiência, particularmente em dispositivos móveis, de pensar duas vezes antes de clicar em um link, porque sabemos que a página vai demorar entre 10 e 20 segundos para carregar. Isso é suficiente? Qualquer coisa inferior a instantâneo reduz a inclinação das pessoas em se engajar. Por isso criamos o projeto AMP de forma colaborativa com mais de 200 entidades. A missão não está cumprida, mas já começamos a ver o poder que o AMP tem que realmente muda a forma como a web funciona. Já existem versões AMP de 750 mil sites em todo o mundo, com origem em mais de 120 países. No Google, já indexamos mais de 600 milhões de páginas no formato AMP.
    Por que é importante para o Google que os publishers criem conteúdo de qualidade para a web?
    Nós todos valorizamos a web aberta. Se olharmos para trás, há 25 anos, quando a web foi criada, havia 25 mil sites de internet e hoje há mais de 1 bilhão. É extraordinário. Mas não podemos assumir que ela continuará assim para sempre. O Google e os publishers compartilham de um mesmo objetivo, que é garantir que a web continue sendo aberta. A busca do Google depende de um ecossistema rico em conhecimento para funcionar. Os publishers tem na web aberta seu meio de distribuição, o caminho para encontrar novas audiências. Então é muito importante que a web continue aberta, que não evolua para ser um ambiente de plataformas proprietárias, de jardins murados.
    Uma grande parte da audiência está hoje dentro do Facebook. Qual sua opinião sobre isso?
    O Facebook é um produto atrativo e muitas pessoas passam muito tempo lá. Eu mesmo uso o site todos os dias. Mas queremos garantir que a web seja tão atrativa quanto qualquer experiência proprietária. As pessoas devem ter um ambiente dinâmico de experiências possíveis na internet. Mais importante que isso, a web deve continuar aberta. Eu acredito muito em liberdade de expressão e a web tem sido extraordinária nisso. Desde o início da civilização, nós nunca tivemos nada que tornasse tão simples para as pessoas se expressarem entre si e para o mundo. Isso é magnífico. Mas, nós temos que monitorar sempre, fazer esforços constantes para garantir que ela mantenha a qualidade.
    O que você vê como uma ameaça a internet aberta?
    De certa forma, plataformas proprietárias são uma ameaça à internet aberta. Quando eu trabalhava na Apple, desenvolvemos uma plataforma chamada eWorld. É o que podemos chamar de jardim murado. Era como o portal da América Online (AOL). E uma das coisas que eu sei sobre jardins murados é que eles tem um grande poder sobre quem resolve brincar ali dentro. Não critico o valor dessas experiências proprietárias, mas se o nosso interesse é diversidade de opiniões, se queremos que existam publishers de todos os tipos e que eles sejam capazes de ter sucesso, então um ambiente aberto é crucial.




                                                  Fonte:        ESTADÃO
    Link Estadão






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