FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO
Dirceu, que foi denunciado à Justiça Federal na última sexta (4) sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, contratou empresas de assessoria, jornalistas, historiadores e até cineastas para reverter o desgaste que sofria desde a saída da Casa Civil no governo Lula, em 2005.
Entre os anos de 2009 e 2013, a soma de despesas com essas atividades foi de ao menos R$ 2,1 milhões, segundo dados da Receita Federal e informações prestadas pelos contratados à Polícia Federal.
O delegado Marcio Adriano Anselmo, que assinou o relatório de indiciamento do ex-ministro, afirmou no documento que a única atividade da empresa do petista, a JD Consultoria, era “albergar uma esquadra de jornalistas voltados a polir a imagem do investigado e seu grupo político”.
Segundo a investigação, as receitas da JD vinham do pagamento de empreiteiras investigadas na Lava Jato, sem contrapartida da consultoria.
Anselmo citou como exemplo da “guerrilha” na mídia o repasse de R$ 120 mil ao site “Brasil 247″ por meio de uma empresa do delator Milton Pascowitch, que diz ter intermediado propina a Dirceu.
Em 2011, Dirceu tinha contrato com uma empresa de comunicação que atuava com três profissionais na assessoria e na elaboração de artigos. Pagava ainda R$ 12,8 mil mensais a um outro jornalista que trabalhava com uma de suas prioridades, o “Blog do Dirceu”.
Em 2012, ano do julgamento do mensalão, a JD pagou R$ 677 mil a três empresas de jornalistas e a um assessor de imprensa –o patrimônio declarado pelo petista naquele ano foi de R$ 1,6 milhão.
Na mesma época, Dirceu contratou uma empresa para monitorar as menções nas redes sociais ao seu nome e ao termo “mensalão”.
Em documentos anexados ao inquérito, há detalhes como o interesse do ex-ministro “em ampliar o espaço como articulista em veículos regionais” e no envio de cartas a jornais para rebater críticas ao governo federal.
‘O HOMEM INVISÍVEL’
Dirceu também pagou R$ 238 mil à produtora do cineasta Luiz Carlos Barreto para bancar o projeto de um filme sobre sua vida, que se chamaria “O Homem Invisível”.
Mais tarde, o ex-ministro e o cineasta mudaram o foco da produção, que virou uma minissérie sobre o movimento estudantil de São Paulo na ditadura, batizada de “Pauliceia 68″. O projeto está suspenso desde 2010, mas a produtora pretende retomá-lo.
Outro gasto expressivo da JD foi com uma equipe contratada para organizar o acervo de documentos e fotos do ex-ministro, especialmente do período da ditadura.
Em relatório anexado ao inquérito, a Trajetórias Comunicação, empresa responsável pelo projeto, cita a possibilidade de “abrir o acervo à consulta pública”.
Maria Alice Vieira, que trabalhou na organização do acervo, diz que o projeto está parado e que o objetivo era encaminhar o material para alguma instituição de pesquisa, como o Arquivo Nacional.
OUTRO LADO
A atual assessoria de imprensa do ex-ministro José Dirceu diz que, após ter o mandato cassado na Câmara dos Deputados em 2005, ele “investiu na organização de sua defesa pública” ao longo da tramitação do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Também afirma que a “trajetória” do ex-ministro, como líder estudantil e político, representa um “rico acervo” sobre o combate à ditadura militar e a redemocratização do Brasil, o que sempre interessou a historiadores.
Os advogados dele, que consideram a prisão “política”, dizem que a empresa de consultoria prestava serviços a empresas nacionais e estrangeiras. A editora do “Brasil 247″ sustenta que recebeu o dinheiro de Milton Pascowitch “para a produção de conteúdo” sobre engenharia.
Maria Alice Vieira, assistente de Dirceu que trabalhou na organização do acervo do ex-ministro, diz que ele sentia que precisava fazer publicamente uma “defesa” diante do processo no Supremo.
“Me parece natural. Naquele momento, no processo, havia uma questão política forte e ele se defendeu publicamente. Para isso, as ferramentas são comunicação, as redes”, diz ela.
Um amigo do ex-ministro disse à reportagem que Dirceu gastou tentando refazer sua imagem por uma “necessidade”, já que era hostilizado nas ruas ou ao frequentar restaurantes.
Colaborou BELA MEGALE, de São Paulo
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