Advogado de Marcos Pereira da Silva diz que acusação não tem fundamento; polícia identificou suspeito, que teve o corpo queimado e está internado
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O religioso, líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), está preso desde 7 de maio, acusado de estuprar duas fiéis de sua igreja. Ele ainda é investigado pela Polícia Civil por homicídios e ligação com traficantes do Comando Vermelho, facção que dominava o conjunto de favelas até a pacificação. Antigos aliados, Júnior e Pereira romperam em fevereiro de 2012, após o ativista acusar o pastor publicamente de envolvimento com o tráfico e de orquestrar a onda de ataques que levou pânico aos cariocas em 2006. A defesa do pastor nega todas as acusações.
"Eu e o AfroReggae passamos a ter problemas desde que fiz aquelas acusações contra o pastor. As constantes ameaças contra alguns membros nossos; o ataque à UPP Vila Cruzeiro antes da corrida Desafio da Paz, em maio; e agora esse incêndio... nada disso é coincidência. Tudo faz parte de uma estratégia do pastor de nos atingir. Não tenho a menor dúvida de que, se aparecer droga em alguma unidade do AfroReggae ou se algum integrante for morto, é coisa do crime organizado, do qual o pastor faz parte", afirmou Júnior, no início da tarde desta terça-feira, antes de prestar depoimento na 22ª Delegacia de Polícia (Penha), que investiga o incêndio.
Advogado do religioso, Marcelo Patrício disse que as afirmações de Júnior não têm fundamento. "Somente na semana passada que o pastor passou a receber a visita da filha e da irmã. Como a gente não acreditava que ele ficaria muito tempo preso, elas demoraram a pedir a autorização para visitá-lo na cadeia. Até então, ele só recebia os advogados. O pastor não tem o dom da telepatia, e é impossível que ele tenha orquestrado esse incêndio. Daqui a pouco Júnior vai acusá-lo de ser o responsável pela derrubada do World Trade Center", ironizou Patrício, referindo-se aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2011 nos Estados Unidos.
Suspeito identificado. Um homem identificado como Wagner Moraes da Silva, de 20 anos, teve 30% do corpo queimado no incêndio. Ele foi resgatado no local por bombeiros e levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, zona norte, onde continua na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) em observação. Seu estado de saúde é estável.
Informalmente, ele contou a investigadores da 22ª DP que entrou no imóvel por um basculante para apagar o incêndio, e acabou se queimando. "Esse incêndio está esquisito. O imóvel tem três andares, e só teve fogo no primeiro e no terceiro. Funcionários do AfroReggae dizem que ele não é funcionário da ONG e não o conhecem. Moradores da região dizem que ele não é de lá. Além disso, encontramos do lado de fora do imóvel televisão, cafeteira, e outros objetos que foram furtados da redação do jornal, que ficava no terceiro andar. Também achamos uma lata de combustível no local. Por isso achamos que o incêndio foi criminoso, e o rapaz ferido é o principal suspeito", explicou o delegado.
Reginaldo Guilherme disse ainda que vai investigar as denúncias de Júnior sobre o suposto envolvimento do pastor Marcos Pereira no episódio. "O ferido não tem antecedentes criminais. Precisamos descobrir se ele tem alguma ligação com o tráfico ou com o pastor, e também a motivação do incêndio. Se o objetivo era apenas furtar os objetos, por que ele não pegou as coisas e foi embora?"
O delegado vai aguardar Wagner Silva ter alta hospitalar para ouvi-lo formalmente no inquérito.
Twitter. O estudante Renê Silva Santos, de 19 anos, que fundou o Voz da Comunidadeem 2005, estava em casa quando recebeu uma ligação de um amigo que mora perto da redação do jornal dizendo que saía muita fumaça do local. "Saí correndo e quando cheguei os bombeiros já tinham acabado de apagar as chamas. Perdemos todo o material gráfico, como jornais, revistas e edições antigas, além de equipamentos, como ar condicionado, micro-ondas, ventiladores... Por sorte, os computadores e as câmeras do estúdio ficam guardados em nossas casas. Mas é muito triste", disse o jovem, que ganhou a redação em 2012, ao participar de um quadro do programa Caldeirão do Huck, da TV Globo.
O rapaz ganhou notoriedade ao transmitir em tempo real, por meio de redes sociais, a ocupação do Complexo do Alemão pelas forças de segurança, em novembro de 2010. Ele disse que já recebeu mensagens de diversas pessoas pelo Twitter querendo ajudar a reequipar a redação do jornal comunitário. Marcelo Gomes - O Estado de S. Paulo
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