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EUA mudam de tom com Assad e ameaçam com ação unilateral
AFP / Mohamed al-Bakour Crianças são atendidas em um hospital da cidade síria de Maaret al-Noman após o suposto ataque com gás tóxico em Khan Sheikhun
O presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira que o suposto
ataque químico no noroeste da Síria mudou sua opinião sobre Bashar al-Assad e
ameaçou tomar uma atitude unilateral para o que qualificou de "afronta à
humanidade".
Pelo menos
86 pessoas morreram, entre elas 30 crianças, na terça-feira durante um ataque
em Khan Sheikhun, uma pequena aldeia da província rebelde de Idlib. Os médicos
no terreno viram todos os sintomas próprios de um ataque químico: pupilas
dilatadas, convulsões e pessoas espumando pela boca.
"Cruzaram
vários limites [...] Quando matam crianças inocentes, bebês [...] isso é cruzar
muitos, muitos limites, muito além de apenas uma linha vermelha", disse
Trump durante uma coletiva de imprensa conjunta com o rei da Jordânia, Abdullah
II, na Casa Branca.
"Suas
mortes são uma afronta à humanidade. Estes atos de ódio [cometidos] pelo regime
de Assad não podem ser tolerados", acrescentou o presidente, sem dar
detalhes de quais atitudes poderiam ser tomadas pelos Estados Unidos.
Trump disse
que sua "postura em relação à Síria e a Assad mudou". "Agora
estamos falando de outro nível, completamente diferente". "O que
aconteceu é inaceitável para mim".
Em um claro
exemplo desta mudança de tom, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki
Haley, assumiu uma agressiva retórica contra a Rússia no Conselho de Segurança
e até ameaçou com ações unilaterais de Washington na Síria.
A guerra
separou o Ocidente de Moscou desde seu início, há seis anos, bloqueando
qualquer esforço para pôr fim ao conflito que já deixou mais de 320.000 mortos.
"Quando
as Nações Unidas fracassam constantemente em sua tarefa de atuar de forma
coletiva, há momentos na vida dos Estados que nos vemos impulsionados a agir
por nossa conta", disse Haley em uma reunião de emergência do Conselho de
Segurança.
A
representante americana pediu que a Rússia faça valer sua influência sobre o
governo sírio.
"Quantas
crianças mais terão que morrer antes de a Rússia agir?" - perguntou.
O secretário
de Estado americano, Rex Tillerson, se somou à demanda pedindo que a Rússia
reconsidere seu apoio ao governo de Bashar al-Assad.
"Não
temos qualquer dúvida de que o regime sírio sob a liderança de Bashar al-Assad
seja o responsável por este horrendo ataque", disse Tillerson a
jornalistas no Departamento de Estado. "E pensamos que seja a hora de os
russos analisarem muito cuidadosamente seu contínuo apoio ao regime de
Assad".
Enquanto a
comunidade internacional acusa Assad pelo suposto ataque, a Rússia considera
"inaceitável" o projeto de resolução do Conselho apresentado por
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos para condená-lo, além do pedido para que
o painel da Organização para Proibição de Armas Químicas e a ONU investiguem o
ataque.
- Agentes
neurotóxicos -
A composição
exata das substâncias não foi especificada, mas a organização Médicos Sem
Fronteiras (MSF) falou de "um agente neurotóxico com o gás sarin".
As vítimas
começaram a sofrer convulsões quando estavam em suas casas ou nas ruas no
momento do bombardeio, ocorrido na terça-feira às 07H00 (01H00 de Brasília).
Este anúncio
confirma o constatado pelos médicos no terreno, que asseguram que os sintomas
dos pacientes são similares aos produzidos por um ataque o químico.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quarta-feira que há
"sinais compatíveis com uma exposição (...) a agentes neurotóxicos".
Nesta
quarta-feira, o Exército russo desculpou em parte o governo de Damasco fazendo
alusão a informações "inteiramente confiáveis e objetivas", segundo
as quais a aviação síria bombardeou um "depósito" rebelde onde havia
"substâncias tóxicas" e, ao explodir, elas teriam se disseminado pela
área.
Na
terça-feira à noite, o Exército sírio desmentiu "categoricamente" as
acusações.
-
"Espectador" -
A oposição
síria criticou nesta quarta-feira as últimas declarações de Washington sobre o
governo sírio.
"Até
agora, esta administração [americana] não fez nada e adotou uma atitude de
espectadora, fazendo declarações que dão ao regime a oportunidade de cometer
mais crimes", declarou o vice-presidente da Coalizão Nacional Síria,
Abdelhakim Bashar.
Ele estava
se referindo a declarações como do secretário Rex Tillerson, que afirmou na
semana passada que o destino de Assad deveria ser decidido pelo "povo
sírio", enquanto a embaixadora Nikki Haley, acrescentou que a prioridade
de Washington já não era a saída do presidente sírio do poder e sim a luta
contra o extremismo.
A tragédia
ameaça fragilizar ainda mais a trégua em vigor na Síria desde 30 de dezembro de
2016, que é violada diariamente pelos bombardeios do regime em vários redutos
rebeldes e por combates entre os insurgentes.
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