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"Últimas conversas" será publicado em Setembro, mas jornal Corriere della Sera, antecipou revelações.
Bento XVI reafirma que não foi pressionado a renunciar ALBERTO PIZZOLI/AFP
O Papa emérito Bento XVI reafirma no seu último livro de memórias que ninguém o pressionou a deixar a chefia da Igreja Católica, mas admite que não teve em muitos momentos a determinação necessária para resolver os problemas do Vaticano. Refere-se também, pela primeira vez, ao grupo a que a imprensa italiana apelidou de “lobby gay” – uns poucos responsáveis da Igreja que tinham como principal objectivo proteger as suas carreiras, diz.
O livro “Últimas Conversas”, o resultado de longas horas de entrevista com o jornalista alemão Peter Seewald, só será publicado no início de Setembro, mas o jornal Corriere della Sera, que comprou os direitos de publicação, antecipou já algumas das principais revelações feitas por Bento XVI, que vive desde 2013 num convento nos jardins do Vaticano. E nenhuma é tão mediática como a confirmação de que havia na cúpula do Vaticano “quatro ou cinco” homossexuais que estavam organizados para tentar influenciar decisões da Cúria.
A existência deste suposto lobby foi noticiada pela primeira vez em 2012, depois de um mordomo de Bento XVI ter passado a um jornalista italiano documentos secretos que exponham esquemas de corrupção e as lutas de poder no interior do Vaticano, perante um Papa fragilizado e isolado. O escândalo, conhecido como “Vatileaks”, é visto por muitos observadores como uma das principais razões que levaram Bento XVI a renunciar, o que nenhum outro Papa fizera em mais de 600 anos.  
Mas na versão que Bento XVI contou a Seewald este grupo não seria tão vasto como foi sugerido e teria como única missão proteger as carreiras dos seus membros dentro da hierarquia do Vaticano. O Papa emérito assegura ainda que, ao contrário do que foi sugerido, ele “desmantelou este grupo de pressão” mal tomou conhecimento da sua existência.
Estes e outros “pecados” da Cúria romana foram alvo de um inquérito encomendado por Bento XVI, que ainda hoje permanece secreto.
Francisco, que teve acesso ao documento após ter sido eleito, em Março de 2013, garantiu que, apesar de “tanto se ter escrito sobre o lobby gay” ainda não tinha “encontrado ninguém no Vaticano com um documento a dizer ‘gay’”. “Dizem que há lá [no Vaticano] alguns, mas eu acredito que quando falamos com um pessoa que o seja devemos distinguir entre o facto de essa pessoa ser gay e o facto de alguém estar a formar um lobby, porque nem todos os lobbies são bons”, afirmou o novo Papa, antes de acrescentar a já célebre frase: “Se alguém é homossexual, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”.

As surpresas dos conclaves

No livro de memórias, Bento XVI diz que tal como ficou “incrédulo” quando o Conclave o elegeu, em 2005, para suceder a João Paulo II, também ficou “surpreendido” com a escolha de Francisco – de quem não sendo teologicamente muito distante é, em temperamento e atitude pastoral, muito diferente. Tinha alguns nomes em mente, mas “não o dele”, afirma, descrevendo a “alegria” que sente ao ver como o sucessor comunica com os fiéis e lidera a Igreja.
Sobre o seu próprio pontificado, Bento XVI não admite que tenha sido um Papa demasiado “académico”, mas parece confirmar a ideia de que o temperamento reservado não o talhava para a tarefa de liderar uma Igreja que reivindica mais de 1200 milhões de fiéis. Sobre a corrupção no banco do Vaticano ou os escândalos de pedofilia, o anterior Papa admite que “não foi suficientemente determinado” na forma como tentou renovar a Igreja – uma preocupação que se tornou central no Conclave que elegeu Francisco.
Revela ainda que quando tomou a decisão de renunciar ao cargo, por sentir que não tinha já a força e a saúde necessárias, informou apenas as pessoas que lhe eram mais próximas, temendo uma nova fuga de informação. Conta também que durante os oito anos de papado escreveu um diário, mas promete destruí-lo antes de morrer, mesmo sabendo que a informação nele contida seria uma prenda para os historiadores
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