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Presidentes vão discutir reforço da cooperação económica e tecnológica, além de conflito na Síria. Relações bilaterais estiveram em crise em finais de 2015, mas têm vindo a ser normalizadas desde o verão de 2016.
O presidente
Recep Tayyip Erdogan está em Moscovo, onde se encontra hoje com o seu homólogo
russo, Vladimir Putin, em mais um sinal de que, após as tensões provocadas pelo
abate de um Su-24 em finais de novembro de 2015 por ter violado o espaço aéreo
turco, as relações bilaterais se encontram totalmente restabelecidas e estão mesmo
a ganhar importância acrescida.
A presença
de Erdogan em Moscovo sucede num momento em que, por outro lado, as tensões se
acentuam entre Ancara e a União Europeia (UE) e o presidente turco comparou a
decisão das autoridades de Berlim de não autorizarem comícios junto da
comunidade do seu país na Alemanha, a propósito do referendo à revisão
constitucional na Turquia, a práticas "típicas do período nazi".
Ainda ontem,
o porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, se fez eco do clima de distanciamento
cada vez mais acentuado entre Ancara, a UE e Berlim, reconhecendo a existência
de "profundas divergências" entre o seu país e a Alemanha, que
permite "aos militantes curdos circularem livremente no país", ao
mesmo tempo que acusava alguns Estados membros da União Europeia de financiarem
a campanha do não à aprovação das mudanças à Constituição turca, que reforçam
consideravelmente os poderes presidenciais.
"Vasta
agenda"
A
importância da presença de Erdogan em Moscovo naquela que é a terceira vez que
se reúne com Putin, após o incidente de novembro de 2015, pode aferir-se pela
"vasta agenda" do encontro, como notou ontem o porta-voz do Kremlin,
Dmitry Peskov. Este destacou a reunião do Conselho de Cooperação de Alto Nível
Russo-Turco, com a presença de uma série de ministros dos dois países.
"Poucos países mantêm este grau de cooperação próxima e estratégica",
salientou Peskov.
A anterior reunião desta natureza realizou-se em dezembro de
2014, recordavam ontem as agências russas. O reforço da
cooperação económica e a materialização dos chamados "megaprojetos",
como o oleoduto conhecido sob o nome de Turkish Stream, a construção da central
nuclear de Akkuyu na Turquia, com tecnologia russa, antecipando-se ainda a
assinatura de novos acordos de parceria em mais áreas, como o turismo.
As sanções
que Moscovo aplicou à Turquia foram levantadas na quase totalidade em finais de
2016. Em 2015, as trocas comerciais entre os dois países situaram-se nos 23,9
mil milhões de dólares. Além da dimensão económica, a questão da guerra civil
na Síria será o outro grande tema em análise, além do estado da investigação à
morte do embaixador russo em Ancara, Andrey Karlov, em dezembro último,
considerado um dos principais artífices da reaproximação entre Erdogan e Putin.
Uma
reaproximação que se iniciou imediatamente após o golpe falhado de 15 de julho
de 2016 na Turquia, com Moscovo a declarar-se incondicionalmente ao lado de
Erdogan. Ainda quando não era claro qual seria o desenlace das movimentações
dos militares revoltosos, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei
Lavrov, indicou que o seu país estava disponível para conceder asilo político
ao presidente turco, em caso de necessidade.
Do lado de
Erdogan, o golpe de julho abriu caminho para a normalização diplomática com
Moscovo, tendo detido os pilotos responsáveis pelo abate do Su-24 russo num
gesto considerado conciliatório.
Sobre o
conflito na Síria, o porta-voz do Kremlin indicou que será analisada "uma
solução política para a crise e o curso de ação para levar a cabo as tarefas
militares" que ambos os países prosseguem em território sírio.
Revés para
os Estados Unidos
O regresso
da cooperação estratégica económica, diplomática e militar entre Ancara e
Moscovo representa, pelo menos, no plano do conflito na Síria um revés para os
Estados Unidos.
De facto,
Washington tem sido o grande ausente nos mais recentes desenvolvimentos na
Síria. O afastamento de Bashar al-Assad do poder em Damasco é uma reivindicação
dos EUA, que Ancara deixou de apoiar, assim como a intensificação das ações
contra os grupos curdos, alguns deles apoiados por Washington, estão a reduzir
a influência americana no conflito.
Associado a
este desenvolvimento, a iminente aprovação da reforma constitucional no
referendo de 16 de abril, naquilo que é visto na UE e em vários setores nos EUA
como "uma deriva autoritária", não deixará de contribuir para um
relacionamento mais distanciado de Ancara com Bruxelas e com Washington. Em
relação a esta última capital, deve-se ter presente que a Turquia pediu a
extradição de Fethullah Gülen, o clérigo islamita que considera o mentor do
golpe de julho, exilado há vários anos nos EUA. E não há certezas de qual será
a atitude da diplomacia americana no caso. A decisão judicial que venha a ser
tomada, terá sempre de ser analisada pelo Departamento de Estado.
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