AFP / Bryan R. Smith Reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU sobre crise síria, Nova York, 25 de setembro de 2016
Os países ocidentais criticaram a Rússia, neste
domingo (25), na reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova
York, após mais uma noite de bombardeios aéreos sobre Aleppo, lançados por
forças do governo sírio e de seu aliado russo.
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos convocaram o
Conselho para aumentar a pressão sobre a Rússia e insistir em que busque conter
o governo de Bashar al-Assad em sua campanha de bombardeios nos bairros
rebeldes de Aleppo.
"Crimes de guerra estão sendo cometidos em
Aleppo", disse o embaixador da França, François Delattre, à imprensa.
"Não devem ficar sem castigo. A impunidade
simplesmente não é uma opção na Síria", acrescentou.
"Logo quando pensávamos que as coisas não
podiam ficar pior na Síria, ficaram", concordou o embaixador britânico,
Mattew Rycroft.
"As munições incendiárias lançadas em Aleppo
são indiscriminadas e são uma clara violação das leis internacionais, assim
como as bombas de barril que caem dos céus", afirmou o diplomata.
United Nations/AFP / Manuel ELIAS O embaixador da França na ONU, François Delattre, discursa no Conselho de Segurança sobre a situação da Síria, em 25 de setembro de 2016
"Qual desculpa tem para fazer menos do que
tomar fortes medidas para deter um crime deliberado? Quanto tempo mais aqueles
que têm influência vão permitir que essa crueldade continue? Insto todas as
partes envolvidas a trabalhar firmemente para pôr fim ao pesadelo",
declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Bombardeios sem cessar Os países ocidentais tentam frear a ofensiva
lançada na sexta-feira (23) pelo governo sírio e por Moscou para reconquistar
os bairros insurgentes de Aleppo.
A embaixadora americana Samantha Power indicou que
houve mais de 150 bombardeios sobre a cidade nas últimas 72 horas e acusou
Síria e Rússia de lançar uma "ofensiva total".
Em Aleppo, "o que a Rússia apoia e faz não é
luta antiterrorista, é barbárie", disse Power.
Seu homólogo russo, Vitali Tchurkin,
responsabilizou a coalizão internacional.
"Centenas de grupos foram armados, o país
bombardeado sem critério", denunciou.
"Nessas condições, trazer a paz é, em
consequência, uma tarefa quase impossível", completou.
A chuva de bombas já deixou pelo menos 124 mortos,
25 deles ao amanhecer deste domingo, segundo um novo balanço divulgado pelo
Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Entre eles, figuram 19 crianças
e mulheres soterrados pelos escombros dos prédios destruídos.
"Os bombardeios não pararam durante a noite
toda", contou Ahmad Hajjar, de 62, morador do bairro rebelde de Al
Kallassé.
"Não preguei o olho até as quatro da
manhã", completou.
Na véspera, Ban Ki-moon já havia se declarado
"consternado" com a "assustadora escalada militar" em
Aleppo e advertiu que o uso de armas avançadas constitui crime de guerra.
Massacre
Hajjar conta que sua rua está cheia de bombas de
fragmentação que não explodiram. "Um vizinho foi morto por uma delas. Eu o
vi tropeçar nela, ela explodiu e arrancou suas pernas e braços. Foi uma cena
horrível", recorda.
"Não sei por que o regime nos bombardeia dessa
maneira selvagem. Não temos para onde ir", observou Imad Habbouche, que
mora no bairro de Bab Al-Nayrab.
As 250.000 pessoas que moram nos bairros rebeldes
não recebem ajuda externa há quase dois meses e não têm acesso à água corrente
desde sábado por causa dos bombardeios, segundo o Fundo das Nações Unidas para
a Infância (Unicef).
A União Europeia denunciou "uma violação
inaceitável da lei humanitária internacional".
Em um comunicado comum da UE, Estados Unidos e os
chanceleres de França, Itália, Alemanha e Grã-Bretanha apontam claramente a
Rússia como responsável pela retomada dos combates.
"A Rússia deve provar que está disposta e que
é capaz de tomar medidas excepcionais para salvar os esforços
diplomáticos", afirma a nota.
A coalizão da oposição síria no exílio pediu, em
Istambul, que a comunidade internacional aja para acabar com o massacre em
Aleppo.
A frágil trégua negociada por Estados Unidos e
Rússia se manteve apenas por uma semana, até a segunda-feira passada (19).
Desde então, os esforços diplomáticos realizados no âmbito da Assembleia Geral
da ONU fracassaram.
Neste domingo, o presidente turco, Recep Tayyip
Erdogan, afirmou que a Turquia está disposta a participar de uma operação com
os Estados Unidos para expulsar os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) de
Raqa, no norte da Síria, desde que as milícias curdo-sírias não façam parte
dessa força.
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