JOÃO RUELA RIBEIRO
Bombas de cloro terão feito perto de uma centena de feridos em bairro controlado pelas forças rebeldes. Governo nega acusações.
O Governo sírio foi acusado de ter lançado um novo ataque de
bombas de cloro sobre um bairro controlado pelos rebeldes nos arredores de
Alepo. Pelo menos uma pessoa morreu e 70 ficaram feridas. As acusações são
divulgadas a poucas horas do início de um encontro entre grupos da oposição em
Londres, reunidos para discutir um novo projecto de transição política para a
Síria.
Um vídeo divulgado pelos grupos rebeldes mostra crianças a
tossir e a respirarem apenas com recurso a botijas de oxigénio, na sequência de
um ataque no bairro de Sukkari. O cloro pode ter efeitos destrutivos para o
organismo humano. No estado líquido, pode queimar a pele; quando é inalado,
transforma-se em ácido clorídrico e queima os pulmões, provocando a morte (por
afogamento) pela acumulação de líquidos.
Mais de 70 pessoas terão sufocado na sequência do mais
recente ataque, esta terça-feira, de acordo com o Observatório Sírio para os
Direitos Humanos — uma organização com sede em Londres que possui uma rede de
informadores no terreno. Membros dos grupos oposicionistas dizem que as forças
governamentais usaram um helicóptero para deixarem cair duas bombas de cloro,
matando pelo menos uma pessoa e ferindo quase uma centena, segundo a Al-Jazira.
Another reported use of chlorine gas in besieged eastern #Aleppo City. Casualties include many children. pic.twitter.com/HTQ2jcL0kJ— SAMS (@sams_usa) 6 de setembro de 2016
O Governo do Presidente Bashar al-Assad, que no passado já foi acusado de ataques semelhantes, negou ter levado a cabo os bombardeamentos.
Os rebeldes que combatem o exército sírio são igualmente acusados por Damasco e
pela Rússia de terem anteriormente usado gases tóxicos em ataques.
As denúncias do recurso a armas químicas pelas forças sírias
contra a própria população não são novas. Em Agosto, uma investigação conjunta
da ONU e da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) concluiu que Damasco usou gás de cloro em ataques na província de Idlib em várias ocasiões,
entre 2014 e 2015.
Há três anos, o regime de Assad comprometeu-se a destruir o seu arsenal químico, no âmbito de um acordo negociado com os Estados Unidos e a Rússia. Em causa estava a acusação de que o Governo teria ordenado uma série de ataques com gás sarin em Ghoutta, nos arredores de Damasco, em que terão
morrido cerca de 14 mil pessoas. O Governo sírio negou sempre as acusações, mas
aceitou abrir mão do uso e produção de armas químicas, evitando uma intervenção militar externa prometida antes por Washington.
O cloro não integra a lista de substâncias sujeitas a
destruição — tem uma ampla aplicação industrial —, mas o seu uso com fins
militares viola a Convenção para a Proibição das Armas Químicas, que a Síria
ratificou na sequência do acordo com os EUA e a Rússia.
Oposição projecta futuro
Os combates pelo controlo de Alepo continuaram nos últimos
dias, com uma nova ofensiva lançada pelas forças rebeldes para tentar reocupar
território entretanto perdido. Aquela que era a maior cidade da Síria e centro
comercial vibrante está totalmente devastada por vários anos de confrontos. A
cidade encontra-se dividida há anos entre uma zona controlada pelo Governo, a
oeste, e bairros rebeldes a leste. A ONU estima que 300 mil pessoas vivam em
zonas cercadas de Alepo pelas forças sírias.
Londres recebe esta quarta-feira um encontro que tenta sentar
à mesma mesa os vários grupos de oposição ao regime de Assad, para tentar
traçar um plano de transição política para a Síria. O chefe da diplomacia
britânica, Boris Johnson, recebe representantes do chamado Alto Comité de
Negociações, uma organização que reúne mais de 30 grupos políticos e militares
cujo único fim partilhado é a saída de Assad.
O projecto para o futuro político da Síria inclui um período
de negociações de seis meses que irá culminar com a formação de um governo
interino — sem Assad ou elementos do seu círculo próximo — para levar a cabo um
processo de descentralização. As eleições presidenciais e municipais seriam
marcadas para daí a 18 meses.
Apesar de contarem com vários apoios internacionais, os
planos de transição das forças oposicionistas parecem frágeis perante a
realidade. A Rússia deverá bloquear qualquer tentativa de solução política que
afaste Assad, um dos seus principais aliados na região. Para além disso, é
incerto até que ponto o plano do ACN congrega o apoio efectivo de algumas das
forças mais influentes que combatem o regime sírio, como por exemplo as
Unidades de Protecção Popular curdas.
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