Enquanto diplomacia falha, maiores bombardeios do regime de Assad contra rebeldes na cidade síria elevam drama de civis. Mais de 250 mil estão encurralados e temem início de invasão por terra.
Os bombardeios do regime de Bashar
al-Assad contra áreas rebeldes em Aleppo, maior cidade síria, se intensificaram
nesta sexta-feira (23/09), numa ofensiva descrita por moradores como sem
precedentes e a qual muitos temem que possa anteceder uma invasão por terra.
Com apoio da Força Aérea russa, os
bombardeios já deixaram dezenas de mortos – mais de 30, segundo ativistas;
acima de 70, segundo rebeldes – e sucedem ao fracasso nas negociações
diplomáticas para renovar o cessar-fogo, que durou apenas uma semana.
As bombas despejadas por Assad
miraram sobretudo o leste de Aleppo, que é controlado por rebeldes e onde cerca
de 250 mil civis estão retidos desde julho passado. O governo pediu aos
moradores que se mantenham afastados "das posições dos grupos
terroristas".
"As pessoas estão esperando pela
misericórdia divina. Ninguém está saindo de casa. Elas só querem um corredor
humanitário para sair de Aleppo, não querem mais nada", diz Ibrahim
al-Hajj, voluntário do grupo Defesa Civil Síria, cujos membros são conhecidos
como "capacetes brancos".
O Observatório
Sírio dos Direitos Humanos, que monitora a guerra civil, descreveu incursões de
jatos sofisticados que, segundo ele, devem pertencer aos russos. Moradores
relataram também uma chuva de bombas de barris de petróleo, uma tática
geralmente atribuída ao Exército de Assad.
Destruição em Aleppo: "Nós sentimos o chão sacudindo, tremendo sob nossos pés"
"Nós sentimos
o chão sacudindo, tremendo sob nossos pés. Aleppo está queimando", conta
Bahaa al-Halabi. Outros começam a relatar escassez de comida, com famílias
vivendo à base de arroz e lentilha. "Não vou comer minha última
batata", diz Rami, também morador do leste da cidade.
As Forças Armadas
sírias prometeram que os civis que saírem dos bairros orientais e se dirigirem
a postos do Exército não vão ser detidos nem interrogados, e será proporcionado
refúgio. Os moradores, porém, dizem continuarem encurralados.
"Nada do que o
regime disse sobre corredores humanitários é real, nada. Como nós vamos sair às
ruas, se não nos sentimos seguros? Se fosse verdade o que diz o governo, eu
fugiria agora", diz Mustafa, de 48 anos, que vive no leste de Aleppo com
os pais, mulher e filha.
Segundo o Observatório,
o regime de Assad tenta forçar os moradores a saírem das zonas sob controle
rebelde para que a comunidade internacional não o responsabilize por mortes
civis. Fontes do Exército sírio garantem que o bombardeio prepara o terreno
para uma ofensiva terrestre.
O bombardeio
intenso mostra que Assad e Moscou rejeitaram o apelo do secretário de Estado
americano, John Kerry, para que deixassem seus aviões em solo e mantivessem a
trégua, que durou uma semana até desmoronar, na segunda-feira.
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