Aleppo, 6 de
agosto. Uma mulher faz com os dedos o símbolo da vitória. A população festeja a
notícia do fim do cerco à cidade depois da ofensiva dos opositores ao regime de
Assad |
REUTERS/ABDALRHMAN ISMAIL
Opositores
do presidente conseguiram quebrar barreira, mas forças de Assad contra-atacam e
garantem que mantêm o controlo
A batalha
pela cidade de Aleppo é decisiva. Há mais de cinco anos que a Síria vive
afundada numa guerra civil. De um lado os rebeldes. Do outro as forças do
regime de Bashar al-Assad. Ganhar ou perder Aleppo, dizem os analistas, poderá
ditar o desfecho do conflito. O mesmo pensamento têm os dois lados. Por isso, a
luta pelo controlo de Aleppo tem sido tão intensa.
Desde o
verão de 2012 que a cidade está dividida. A zona leste nas mãos dos rebeldes e
a área ocidental dominada por Assad. A tensão aumentou ainda mais no mês
passado. Em julho, forças do regime conseguiram impor um cerco aos rebeldes.
Tem sido essa a estratégia de Assad, encapsular as cidades e bombardeá-las, com
o apoio da aviação russa, até que elas desistam de lutar.
Era suposto
ter sido assim com Aleppo. O último corredor que ligava os 250 mil sírios que
vivem no lado controlado pelos rebeldes foi fechado a 17 de julho. Deixaram de
entrar mantimentos. Deixou de chegar ajuda médica. Aleppo, o último grande
bastião urbano ainda nas mãos dos opositores, iria cair mais tarde ou mais
cedo. O regime ficaria em posição de força, sem necessidade de se sentar à mesa
para negociar um cessar-fogo com os rebeldes, sem precisar de fazer concessões.
Mas, contra
as previsões, os opositores do regime, apoiados por diversos grupos jihadistas
e islamistas, não se entregaram e ripostaram. Uma ofensiva, entre sexta-- feira
e sábado, poderá ter alterado a equação de forças. Os rebeldes tomaram o
controlo de Ramosa, na zona sul da cidade, conseguindo dessa forma abrir um
corredor entre duas áreas sob o seu controlo. Pouco tempo depois, os habitantes
saíram à rua para festejar o fim do cerco que os empurrava para uma situação
cada vez mais catastrófica do ponto de vista humanitário.
"O
significado desta vitória excede o facto de termos conseguido abrir uma
ligação. Pode representar uma inversão de forças", explica, citado pelo
The Guardian, Abu Mohammad al-Jolani, líder da Jabhat al-Nusra, um grupo que,
até quebrar essas ligações no mês passado, funcionava como uma espécie de
sucursal síria da Al-Qaeda.
Em
declarações à AFP, o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos,
Rami Abdel Rahmane, também atribuía aos rebeldes uma vitória importante:
"O exército e os seus aliados sofreram uma séria derrota."
Terá o cerco
chegado ao fim? Talvez não. Afinal não tardou muito até as forças do regime
desmentirem o desaire. "Os rumores de que o cerco aos bairros de leste foi
quebrado são falsos", podia ler-se num comunicado divulgado pela estação
televisiva Al Manar, associada ao Hezbollah, organização xiita libanesa que
combate ao lado de Assad.
Durante o
dia de ontem, os rebeldes que levaram a cabo a ofensiva viram-se debaixo de
intensos ataques aéreos levados a cabo pelas forças pró-governamentais,
apoiadas pelos aviões russos.
A situação é
volátil. É cedo para perceber para que lado irá cair a vitória na batalha por
Aleppo. As cartas na mesa não permitem sequer avaliar se o cerco foi ou não
quebrado. "Neste momento temos controlo absoluto sobre a zona de Ramosa.
Estamos nas nossas trincheiras, mas os ataques aéreos têm sido de uma
ferocidade sem precedentes. O regime está a usar bombas de fragmentação e de
vácuo", disse ontem à Reuters Abu al-Hasanien, comandante de um dos outros
grupos que apoiam os rebeldes.
A
confirmar-se a vitória dos rebeldes, o fim do cerco seria visto com bons olhos
pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, mas também sublinharia, como explica o
The Telegraph, o falhanço da diplomacia ocidental, ao não ter sido capaz de
convencer a Rússia a usar a sua influência no terreno para terminar o
sofrimento dos habitantes de Aleppo.
Por outro
lado, do ponto de vista estratégico no combate ao islamismo radical, o Ocidente
também poderá ter sofrido um revés: "Com o fim do cerco de Aleppo, os
jihadistas são agora os heróis da população. Venceram a batalha e ganharam
também o coração e a cabeça das pessoas", sublinhava ontem uma repórter da
estação televisiva árabe Al Aan, sediada no Dubai.
Também
ouvido pelo The Telegraph, Zaher Sahloul, médico sírio-americano que até há
poucas semanas servia em Aleppo, não tem dúvidas de que o regime de Assad irá
intensificar a retaliação. "Vão fazer tudo o que puderem para reconquistar
o poder. Eles sabem que o mundo não vai responder."
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