Modernização e exploração ficam nas mãos de empresas francesas e deverão dobrar número anual de passageiros para a marca de 10 milhões. Diplomacia de Hollande começa a render frutos.
De olho no
rápido crescimento do número de turistas e um pouco antes do início dos voos
regulares entre Estados Unidos e Cuba, o governo cubano fez um anúncio inédito:
a privatização de um aeroporto. O terminal internacional José Martí, em Havana,
será operado em breve pela empresa francesa Aéroports de Paris (ADP). Já a
expansão e modernização ficarão a cargo da construtora francesa Bouygues
Bâtiment International.
O anúncio
foi feito no início de agosto pelo vice-ministro dos Transportes de Cuba,
Eduardo Rodríguez, em Havana. A francesa ADP administra – além do aeroporto
Charles de Gaulle, em Paris – outros 31 terminais espalhados pelo mundo. Por
sua vez, a Bouygues participou de vários outros grandes projetos, como a
construção do Stade de France, do Eurotúnel e do aeroporto de Hong Kong.
O projeto em
Cuba, que deve ser estendido ao aeroporto regional de San Antonio de los Baños,
a oeste de Havana, "prevê o financiamento e execução de medidas imediatas
para melhorar a qualidade dos serviços, bem como investimentos de médio e longo
prazo de acordo com o crescimento estimado de passageiros", afirmou a
televisão estatal cubana. Não foram divulgados detalhes do modelo adotado na
concessão nem os investimentos previstos.
Novas
parcerias não são descartadas
Após a
expansão, o aeroporto de Havana deverá receber mais de 10 milhões de
passageiros por ano, afirmou a Aéroports de Paris. Em 2015, 3,5 milhões usaram
o terminal, e neste ano os números tendem a ser ainda maiores. Mais da metade
dos turistas estrangeiros que visita o país entra pelo aeroporto da capital.
Até agora, o
governo cubano havia concedido licenças de exploração para empresas
estrangeiras apenas no setor hoteleiro. Há anos que empresas europeias e
canadenses estão ativas na ilha. Em junho, depois de mais de 50 anos, uma rede
americana – a Starwoods Hotels – abriu uma unidade do Four Points by Sheraton
em Cuba.
O anúncio da
privatização do aeroporto da capital é apenas o início de novas concessões para
empresas estrangeiras na área de infraestrutura. "Transporte e
infraestrutura são elementos estratégicos e prioritários na economia e
sociedade cubana", declarou o Ministério do Transporte do país. E acrescentou:
"Parcerias como as descritas acima serão estimuladas também para outros
terminais no país".
A presidente afastada Dilma e Raúl Castro participaram da inauguração do porto de Mariel em janeiro de 2014
Turismo tem boom, mas infraestrutura não acompanha
Com a
concessão, o governo em Havana reage aos diversos desafios de infraestrutura da
ilha por causa do crescente número de visitantes. São esperados quase 4 milhões
de turistas até o final deste ano. No primeiro semestre de 2016, a quantidade
de viajantes em comparação ao mesmo período do ano anterior cresceu 12%.
O verdadeiro
boom, porém, ainda está por vir: os americanos já estão liberados para viajar a
Cuba, apesar de ainda serem obrigados a preencher um dos pré-requisitos das 12
categorias para a autorização das viagens – como desportivas, culturais,
universitárias ou religiosas. As restrições para viagens individuais deverão
ser em breve retiradas pelo Congresso.
Além disso,
após mais de 50 anos de interrupção, voos regulares voltarão a fazer a rota
entre EUA e Cuba no final de agosto. O governo americano calcula até 155 voos
por semana. As licenças para as ligações ainda não foram emitidas, até porque o
aeroporto de Havana já atingiu sua capacidade máxima. São frequentes as
reclamações de usuários sobre serviços ruins, problemas na entrega de bagagens
e as longas esperas.
Planos para
a modernização e expansão do terminal já existem, porém, há muito tempo. No
início do ano passado, a empreiteira brasileira Odebrecht, que já participou da
ampliação do porto de Mariel, foi contratada por 207 milhões de dólares para a
expansão de um terminal do aeroporto de Havana. Ainda não está claro em que
medida esse projeto será afetado após a concessão aos franceses.
França:
parceira frequente de negócios
Não é coincidência
que empresas francesas tenham obtido a concessão do aeroporto de Havana.
"Cuba é um país-chave na região, com o qual desejamos uma cooperação
estreita", anunciou já no início de 2015 o chanceler francês, Laurent
Fabius. Por sua vez, em maio do ano passado, o presidente François Hollande foi
o primeiro líder da Europa Ocidental a visitar Havana em 29 anos. Em fevereiro,
o presidente cubano, Raúl Castro, retribuiu a visita em Paris.
Enquanto
outros países europeus, como a Alemanha, agem de forma contida na ilha, uma
série de empresas francesas já está ativa há anos em Cuba: ao lado da Bouygues,
as empresas de energia Total e Alstom, a Alcatel-Lucent (telecomunicações), a
Pernod-Ricard (coproprietária da marca de rum Havana Club), a Accor (rede
hoteleira) e a companhia aérea Air France.
Tradicionalmente,
a França tem boas relações com Cuba, sendo que elas tiveram suas origens na
oposição do ex-presidente Charles de Gaulle às sanções econômicas americanas.
Desde então, em contraposição a Washington, os gaulistas nas fileiras dos
conservadores franceses apoiam uma política cubana independente.
Além disso,
há muitas ligações culturais. A sucursal cubana do instituto cultural francês
Alliance Française é uma das maiores do mundo. A França também desempenhou um
papel importante na conclusão bem-sucedida das negociações da dívida de Cuba
com o Clube de Paris. Agora, a ofensiva diplomática de Hollande em Cuba começa
a render frutos.
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