CLARA BARATA
Pela primeira vez, Damasco bombardeou milícias curdas e pôs em risco os conselheiros militares americanos no Norte da Síria. Aviões americanos foram ao encontro dos de Assad.
Numa cidade do Norte da Síria disputada entre os
curdos e o regime sírio, os aviões dos Estados Unidos enfrentaram pela primeira
vez a aviação de Bashar Al-Assad. O regime de Damasco está a bombardear desde
quinta-feira posições curdas na cidade de Hassaka, ao redor da qual há base
onde se encontram alguns dos de cerca de 300 militares norte-americanos, que
aconselham as milícias YPG, as forças paramilitares curdas que têm sido as mais
eficazes no terreno a conter o avanço do Estado Islâmico.
Foram enviados caças norte-americanos ao encontro
de aviões sírios SU-24, que bateram em retirada. “Isto foi feito para proteger
as forças da coligação” anti-jihadista, explicou o capitão Jeff Javis,
porta-voz do Pentágono. Não há tropas americanas em Hassaka, mas há bases
americanas a cerca de seis quilómetros para Norte da cidade. “Mostrámos
claramente que os aviões americanos defenderiam as tropas no solo se fossem
ameaçadas.”
Mas este sábado os aviões sírios regressaram, diz a
AFP.
Alepo é Omran multiplicado por milhares
Os bombardeamentos da aviação síria contra alvos
curdos são uma novidade nesta complexa guerra que se arrasta desde Março de
2011. Assad e o Estado Islâmico (EI) são um inimigo comum das Unidades de
Defesa do Povo (YPG) curdas, pelo que o regime de Damasco tem mais ou menos
fechado os olhos ao estabelecimento de uma entidade curda que se diz federal e
se tornou virtualmente independente no Norte da Síria.
Esta entidade, Rojava, transformou-se também no
maior aliado dos norte-americanos e coligação internacional na luta contra o
terrorismo, que têm dado aos curdos treino militar e armas para que eles possam
lutar contra o EI na sua terra.
Esse apoio, que alimenta as ambições curdas de
construir um Estado verdadeiramente independente, em territórios retirados à
Síria e Turquia, não é vista com bons olhos em Ancara – que sublinha as
ligações das YPG ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma
organização classificada como terrorista. A Turquia tem bombardeado sem cessar
as posições curdas, temendo que a entidade independente curda criada na Síria
se estenda para o seu Sudeste, de maioria curda, formando uma nova nação. Por
isso, trata esta região com mão-de--ferro.
Por essa razão, embora a Turquia faça parte da NATO
e considere Assad um inimigo, saudou os bombardeamentos da aviação do
Presidente Assad sobre Hassaka: “É uma situação nova. Parece claro que o regime
[sírio] compreendeu que a estrutura que os curdos tentam formar no Norte do
país começou a tornar-se uma ameaça também para a Síria”, declarou o
primeiro-ministro turco Binali Yildirim, citado pela AFP.
As causas próximas dos bombardeamentos da aviação
de Damasco parecem ter a ver com uma ofensiva curda lançada para obter o
controlo total da cidade de Hassaka, que antes da guerra tinha 300 mil
habitantes, metade árabes e metade curdos, e ainda acolheu 114 mil deslocados.
Hoje, dois terços dacidade estão na posse das YPG, e o centro é controlado
pelas milícias leais a Assad. Mas nas últimas duas semanas tem havido grandes tensões
na cidade, com violentos combates e acusações mútuas de detenções e raptos, diz
o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização com informadores no
terreno.
Milhares de pessoas fugiram na cidade, em resultado
dos combates. Os curdos exigem a dissolução das Forças de Defesa Nacional
(milícias pró-regime) nesta cidade. Por seu lado, o exército sírio acusou a
polícia curda (Asayish) de estar na origem da violência, de ter criado
“provocações, incluindo o bombardeamento de posições da milícia que levaram à
morte de soldados e civis.
Estes bombardeamentos, disse uma fonte
governamental local à AFP, “são uma mensagem para os curdos, para que deixem de
fazer este tipo de reivindicações territoriais que afectam a soberania
nacional”.
Até que ponto se abre uma nova frente de batalha,
não é ainda certo. Mas este sábado ter-se-ão realizado conversações de paz
preliminares, anunciou a rádio Sham FM, próxima do Governo de Damasco, diz a
Reuters – num indício da relutância em criar uma nova frente nesta guerra,
sobretudo quando o regime está a investir na tomada de Alepo.
Fonte:
Deixe o seu comentário clicando no balãozinho no topo da postagem próximo ao titulo.
0 Comentários