POR JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT E FAUSTO MACEDO
Vitor Delphim, parceiro de João Henriques, que seria ligado a membros do partido de Minas e ao presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha, pode levar força-tarefa a novas descobertas
Nas investigações que tem como alvo do o operador de propinas do PMDB João Augusto Rezende Henriques – preso em setembro de 2015 na 19ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Nessum Dorma (ninguém dorme) – a Polícia Federal aprendeu anotações de um “sócio” que sugerem pagamentos ao PMDB e interesses em projetos da Petrobrás e também de criação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), primeiro grande projeto na saúde do governo Lula, em países da América Latina.
“As anotações corroboram a conclusão de que UPA refere-se à Unidade de Pronto Atendimento e que isso fora tratado com pessoas ligadas ao PMDB, com Ronald – ainda não identificado – e Amigo – trata-se, possivelmente, de José Carlos Vilar Amigo, gerente da área Internacional da Petrobrás”, informa relatório do delegado Filipe Hille Pace. “Chama igualmente atenção a anotação feita por Vitor Pereira Delphim como item da reunião com Ronald: “Adiantamento PMDB”.
Depois de desmontar a sistemática usada pelo PP e pelo PT no esquema de corrupção e propinas na Petrobrás, a Lava Jato foca agora contratos e áreas que devem desvelar a atuação de membros do PMDB. João Henriques, o operador do partido, é um dos nomes principais dessa frente.
Delphim é ex-assessor da Presidência do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), conduzido coercitivamente para depor em setembro e ligado comercialmente a João Henriques, o principal operador de propinas do PMDB atingido até agora pela Lava Jato. Foi assessor parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, entre fevereiro de 2009 e março de 2010, e chefe de Gabinete do deputado estadual Ademir Melo.
Sócio da Delpha Consultoria, desde novembro de 2010 até julho de 2015, a Procuradoria aponta que a firma é uma sociedade que aparece como responsável pelo assessoramento de empresas estrangeiras interessadas em se cadastrar na Petrobrás. “Além de todas as evidências supracitadas, constata-se que a maior parte das visitas de Vitor Pereira Delphim a Petrobrás ocorreram nos 18º e 28º andares do prédio do centro, local onde funcionavam as diretorias da estatal”, destaca a força-tarefa.
As UPAs foram um projeto do governo Lula, para ser um serviço intermediário entre os cuidados básicos nos postos de saúde e as emergências dos grandes hospitais do País e que foi “exportado” para outros países da América Latina.
Em setembro de 2015, o Lula inaugurou na Argentina junto com a ex-presidente Cristina Kirchner a primeira UPA local, que foi batizada com o nome do ex-presidente.
Petrobrás. Delphim tem relações diretas com os negócios do operador de propinas do PMDB. Eles foram sócios na Trend Participações, empresa de João Henriques que recebeu milhões em intermediações de contratos da Petrobrás. Para a Lava Jato, a empresa era usada para receber e pagar propinas.
Delphim entrou na mira da Procuradoria da República depois da identificação do repasse de R$ 1.392.160,14 para ele de João Henriques. Segundo a força-tarefa, Delphim apareceu como ‘beneficiário da distribuição de lucros’ da Trend Empreendimentos.
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Segundo a Procuradoria da República, a Trend Empreendimentos teria recebido R$ 20,2 milhões de empresas do cartel que fatiava obras na Petrobrás, pagando propinas a agentes públicos, partidos e políticos.
A PF apreendeu nas coisas de Delphim ainda um contrato de uma sociedade de conta de participação (SCP) entre Delphim e a Trende referentes aos contratos da empresa do operador com as “Helibarra Táxi Aéreo Ltda, celebrado em 27 de abril de 2011”, “Concremat Engenharia Tecnologia, celebrado em 10 de maio de 2011” e com a “Georadar Levantamentos Geofísicos S/A, celebrado em 23 de dezembro de 2010”. Nas anotações de reuniões de Delphim na estatal, há referência a tais negócios.
PMDB. Em delação premiada, o ex-gerente da área Internacional da Petrobrás Eduardo Musa afirmou que ouviu do próprio operador de propinas que ele era indicado pelo PMDB de Minas Gerais, mas quem tinha a palavra final da área “era Eduardo Cunha” – o presidente afastado da Câmara dos Deputados.
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Em um dos depoimentos que deu à Lava Jato, João Henriques afirmou que abriu uma conta na Suíça e que depositou valores que tiveram como beneficiário Eduardo Cunha. João Henriques não especificou valores e nem a data. Segundo ele, a suposta transferência para Cunha está ligada a um contrato da Petrobrás relativo à compra de um campo de exploração em Benin, na África. A conta teria sido indicada por Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), morto em 2009.
João Henriques foi preso em setembro de 2015, por determinação do juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato, nunciado em agosto pelo Ministério Público Federal por corrupção. Ele teria envolvimento no pagamento de uma propina de US$ 31 milhões em negócio da Diretoria Internacional da Petrobrás, em 2009, então sob comando de Jorge Luiz Zelada, sucessor de Nestor Cerveró. Ambos estão presos em Curitiba, base da missão.
Parte desse valor, US$ 10,8 milhões, teria sido repassada para o PMDB, segundo o Ministério Público Federal. A propina total – US$ 31 milhões – teria saído de contratos de US$ 1,8 bilhão, de afretamento do navio-sonda da Petrobrás Titanium Explorer. Na época, a diretoria Internacional da estatal era conduzida por Jorge Luiz Zelada, preso na Operação Lava Jato por suspeita corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Procurado via defesa, Eduardo Cunha não foi localizado. O presidente afastado da Câmara tem negando veementemente o envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.
COM A PALAVRA, O PMDB
O PMDB nega envolvimento em ilícitos. O presidente do partido, senador Roméro Jucá, divulgou nota via assessoria de imprensa. “O PMDB sempre arrecadou recursos seguindo os parâmetros legais em vigência no País. Doações de empresas eram permitidas e perfeitamente de acordo com as normas da Justiça Eleitoral nas eleições citadas”, afirmou ele, cotado para assumir o Ministério do Planejamento de um eventual governo de Michel Temer.
Na nota, o partido informa que “em todos esses anos, após fiscalização e análise do Tribunal Superior Eleitoral, todas as contas do PMDB foram aprovadas não sendo encontrado nenhum indício de irregularidade”.
O PMDB negou todas as acusações de delatores até aqui. E disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos.
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