Depois de semanas seguidas de notícias negativas para o governo, a presidente Dilma Rousseff enfrentará um fim de semana que pode ser decisivo para seu futuro.
No sábado, o PMDB realiza em Brasília sua Convenção Nacional para reeleger o vice-presidente Michel Temer como líder do partido. As alas adversárias ao Planalto tentarão pôr em votação a saída da legenda do governo. A aprovação de um rompimento poderia ser determinante para o impeachment de Dilma no Congresso.
Já para o domingo estão convocadas manifestações antigoverno em diversas cidades do país. Embora esses protestos tenham encolhido de tamanho desde março de 2015 - quando 210 mil pessoas foram às ruas apenas em São Paulo, segundo cálculo do instituto Datafolha -, seus líderes acreditam que as novas denúncias contra Dilma e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva possam reverter essa tendência.
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Nas últimas duas semanas, Lula foi alvo de uma ação da Polícia Federal e teve sua prisão solicitada pelo Ministério Público de São Paulo. O ex-presidente é acusado de ter sido favorecido por empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Lava Jato com doações, contratações em palestras e reformas em imóveis supostamente seus – o que ele nega.
Na semana passada também foi revelado pela revista IstoÉ o suposto conteúdo de um depoimento do senador Delcídio Amaral (PT-MS) à PF em que ele acusa Lula e Dilma de tentarem intervir na operação Lava Jato. Ele teria dito também que ambos sabiam sobre a existência de corrupção dentro da Petrobras.
"Até uma semana atrás, se eu tivesse que fazer uma aposta, eu diria que as manifestações desse domingo não seriam do porte que foram em março de 2015. Entretanto, os acontecimentos da última semana, sobretudo a ação da Polícia Federal contra Lula, acirraram os ânimos, tanto dos que querem manter o governo quanto dos que querem a saída de Dilma", afirma a cientista política Maria Hermínia Tavares, professora da USP.
Na sua visão, o mais importante não são as manifestações em si, mas como elas serão "lidas" pelos políticos, principalmente os da base do governo.
"Acho que se houver um confronto (entre manifestantes contra e pró governo), uma coisa muito feia, acho que isso poderia ser lido (pelos políticos) como 'não dá mais para (o governo) ficar assim'. Mas não acredito que haverá confronto porque o PT se manifestou em sentido oposto e protestos de apoio ao governo previstos também para domingo foram adiados".
Imprevisibilidade
O desfecho de ambos os eventos parece imprevisível. No entanto, é possível dizer que o cenário poderia ser ainda pior para o governo se a ordem dos acontecimentos fosse invertida, nota o cientista político Rafael Moreira, que estuda o PMDB em seu doutorado pela USP.
"Não sei se (os peemedebistas) deram sorte ou azar que a convenção deles vai ser antes das manifestações. Imagina se houvesse manifestações no sábado, com apoio popular monstruoso, cobertura da imprensa, e eles, no dia seguinte, tivessem uma convenção. Acho que seria uma pressão enorme para romperem".
"Mas sendo no dia anterior (às manifestações), acho que talvez eles consigam de alguma maneira empurrar com a barriga (a decisão de deixar o governo) para ver o termômetro do dia seguinte nas ruas", afirmou.
Para Tavares, a convenção pode ser mais determinante para o governo Dilma que os protestos.
"A convenção talvez seja até mais importante porque nesse momento o PMDB é o fiel da balança que pode dar ou não maioria para o processo de impeachment no Congresso", analisa a professora.
"O PMDB está dividido sobre essa questão, mas a postura da maioria tem sido de apoio ao governo até muito recentemente. Entretanto, à medida que a crise se agrava alguns setores do partido já começam a dizer que talvez possam sair desse barco", ressalta.
Sair ou ficar?
Parlamentares de oposição à Dilma afirmam que a maioria da base do partido quer deixar o governo. No entanto, acreditam que Michel Temer, presidente do partido, pode impedir que o assunto seja colocado em votação no sábado.
"Quem vai decidir se vota ou não vota é o Michel. Se for à votação, vai dar 70%, 80% para sair do governo", disse o deputado federal Osmar Terra, vice-presidente estadual do PMDB no Rio Grande do sul.
"Ele pode botar para votar ou segurar isso para decidir depois com o diretório (do partido). Pode ser uma alternativa", acrescentou.
Em tese, a maioria da plenária reunida na convenção até poderia pressionar para derrubar uma eventual decisão do presidente, mas isso causaria um constrangimento ao líder do partido, e a ideia é que evento ressalte a unidade do PMDB em torno de Temer, explica o deputado.
"O problema é que o Michel está numa situação delicada, ele é o vice-presidente da República. Se o PMDB se afastar, desestabiliza muito o governo e pode parecer que ele está patrocinando isso. E ele não quer passar essa ideia até porque ele não está patrocinando mesmo (a saída), afirmou o deputado.
Terra é um dos principais defensores do desembarque do governo, com a entrega dos sete ministérios que hoje estão nas mãos do PMDB.
De acordo com ele, ao menos 14 dos 27 Estados querem abandonar Dilma: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Tocantins, Roraima, Rondônia e Acre.
Ceará e Goiás estariam indefinidos. Já os demais onze querem permanecer no governo – Rio de Janeiro, Minas Gerais, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Amazonas, Pará, Amapá e Mato Grosso.
A distribuição dos votos na Convenção é proporcional ao tamanho dos partidos em cada Estado.
Segundo Terra, o que explica o apoio, em geral, são os cargos no governo. Minas Gerais, por exemplo, negocia indicar o novo secretario de Aviação Civil (SAC). A expectativa é que o deputado mineiro Mauro Lopes seja indicado após a convenção, na próxima semana.
"Os (diretórios estaduais) que estão esperando ministério ou que tem ministro é mais complicado (de aprovar a saída do governo). O que não significa que a base não pense diferente. Acho que a base de Minas Gerais deve ter muito mais gente querendo sair do que se manter no governo", afirma.
Senado
Dentro do Congresso, é a bancada do PMDB no Senado que tem sido mais fiel à Dilma. O presidente da casa, Renan Calheiros, inclusive protagonizou no ano passado embates públicos com Temer, quando o vice parecia se articular em favor do impeachment.
No entanto, ambos se reconciliaram, Renan decidiu apoiar sua reeleição para presidente do partido e se tornou mais discreto no apoio ao governo.
Na noite de quarta-feira, senadores peemedebistas (Eunício Oliveira, Romero Jucá e Calheiros) e tucanos (Aloysio Nunes, Aécio Neves e Cássio Cunha Lima) se reuniram para discutir a crise política. Na saída, parlamentares dos dois partidos deram declarações de que "PMDB e PSDB vão caminhar juntos em busca de solução para o país".
O encontro parecia indicar um afastamento dos senadores peemedebistas do governo, mas no dia seguinte Calheiros tratou de diminuir a temperatura dos boatos.
"O PMDB deve fazer sua convenção com muita responsabilidade porque qualquer sinalização que houver com relação ao posicionamento do PMDB pode diminuir ou aumentar a crise", disse a jornalistas.
Na própria manhã da quarta-feira, o presidente do Senado havia se reunido também com Lula, a quem presenteou com uma edição da Constituição Federal, gesto que foi visto como uma crítica à ação da Lava Jato contra ele.
"É mais uma vez o PMDB jogando em todas as frentes, para tentar entender o cenário", avalia o cientista político Rafael Moreira.
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