O jornal Libération desta terça-feira(1), traz uma entrevista com Gilberto Gil e Caetano Veloso.RFI
O jornal Libération desta terça-feira (1°) publica uma entrevista com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Os dois músicos brasileiros, muito admirados na França, conversaram com o repórter Jacques Denis sobre o lançamento na França do álbum duplo e de um DVD da turnê mundial "Two Friends, One Century of Music", mas também sobre a crise na política brasileira.
"O Brasil está, evidentemente, em uma má situação", responde Caetano ao ser perguntado sobre as desordens políticas, econômicas e ecológicas no país. Para ele, o brasileiro é educado para aprender a lidar com a pobreza, as desigualdades e a incompetência. Mas, segundo o músico, esses problemas parecem tão resistentes nesse momento que abalam a esperança da população.
O Brasil precisa de novas propostas, "uma terceira via", respondeu Caetano sobre os slogans pedindo a volta da ditadura militar, nas manifestações do ano passado. "O país poderia encontrar uma forma de resolver essa situação política, mas está paralisado diante de uma esquerda que não quer guerra nem sangue para realizar mudanças profundas", completou.
Já Gilberto Gil se disse preocupado com "a sociedade humana em geral". O Brasil, segundo ele, faz parte de um caleidoscópio e "é apenas uma das pequenas peças que se acendem e se apagam no interior do tubo". Para o músico, "há uma incompatibilidade surpreendente entre os avanços técnicos e científicos e os atrasos da coabitação político-social" no país.
Além disso, Gil acredita que a política se mostra a cada dia mais como "um problema" no lugar de ser "uma resposta". Por isso, segundo ele, diante da falta de propósito dos governos, o engajamento dos artistas se torna inapropriado.
Caetano encerra a entrevista dizendo que não está otimista sobre um mundo mais igualitário e mais justo. "Um amigo, Jorge Mautner, grande escritor e compositor, repete que 'ou o mundo vai se abrasileirar ou se tornar nazista", cita. E justifica: "Jorge é o filho de um judeu austríaco que fugiu do nazismo, e que ensinou o filho a amar o Brasil melhor que os descendentes de mulatos lusófonos, como eu".
Fonte:
Brasil
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