POR POR BEATRIZ BULLA, DE BRASÍLIA, E VALMAR HUPSEL FILHO, DE SÃO PAULO
Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, disse à Procuradoria-Geral da República ter ouvido do doleiro Alberto Youssef que Mário Negromonte perdeu a cadeira no Ministério das Cidades, em 2012, porque estaria 'roubando para ele próprio'
O delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, disse que ouviu do doleiro Alberto Youssef – peça central da Operação Lava Jato – que o ex-deputado Mário Negromonte (PP/BA) perdeu o cargo de ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff, em 2012, porque não estava destinando dinheiro de propinas para o partido, mas para o próprio bolso. “Não estava’fazendo caixa’ para o Partido Progressista, uma vez que estaria ‘roubando apenas para ele próprio'”, declarou Ceará em seu Termo de Colaboração número 5 diante da Procuradoria-Geral da República.
Confira a íntegra dos termos de declaração de Carlos Albertode Souza:
Documento
- DELACAO CEARA PDF
Ceará fez dezenove depoimentos, entre 29 de junho e 2 de julho de 2015. Ele era o entregador de dinheiro de Youssef, operador de propinas no esquema instalado na Petrobrás. Um dos relatos trata especificamente de Negromonte, que foi ministro de Dilma entre 2011 e 2012. “Alberto Youssef comentava com o declarante que Mário Negromonte, entre os políticos, era ‘o mais achacador’. Negromonte tinha um telefone ‘ponto a ponto’ para falar com Alberto Youssef.”
O delator disse que Youssef lhe contou que, na campanha de 2010, repassou R$ 5 milhões a Negromonte.
Mário Negromonte atualmente é conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia.
Ceará contou que entregou dinheiro em espécie para o ex-ministro em um apartamento funcional em Brasília, onde também se encontravam outros parlamentares à época, hoje réus e presos da Lava Jato, como Luiz Argôlo (SD/BA) e Pedro Corrêa (PP/PE).
O delator confirmou que Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro, trabalhava para Youssef também para ‘transporte de valores em espécie’. Segundo ele, Adarico virou empregado do doleiro a pedido do ex-ministro.
Ceará relatou que fez entregas de dinheiro vivo para Negromonte em um apartamento funcional em Brasília, no ano de 2010.
“O declarante tomou conhecimento que Alberto Youssef enviava dinheiro para Salvador, destinado a Mário Negromonte, o transporte desses valores era feito pelo próprio irmão de Mário Negromonte, Adarico, tendo Rafael Ângulo Lopez (carregador de malas do doleiro) também realizado viagens àquela capital com o mesmo propósito. Em 2012 ou 2013, o declarante tomou conhecimento, por Alberto Youssef, que este custeou a compra de um veículo Kia Soul, de cor vermelha (e também a instalação de blindagem), destinado à filha de Mário Negromonte, que residia em São PauJo, em apartamento que era de José Janene (apontado pela Polícia Federal mentor do esquema Lava Jato e morto em 2010).”
Ceará destacou que um ‘certo dia’, Adarico Negromonte saiu do escritório de Youssef, em São Paulo, ‘com dinheiro em espécie para pagar o carro ou a blindagem’.
Segundo Ceará, ‘mesmo depois que Alberto Youssef perdeu o ‘caixa’ do Partido Progressista em 2012, alguns políticos mantinham contato com ele, indo inclusive ao seu escritório e recebendo dinheiro, porque havia débitos de empreiteiras em atraso, relativos ao esquema de corrupção na Petrobrás que estavam sendo pagos ao longo do tempo’.
COM A PALAVRA O EX-MINISTRO MÁRIO NEGROMONTE
Ao Estado, Negromonte disse que as acusações contra ele feitas por Youssef e Ceará são frutos de uma ‘combinação’ entre chefe e subordinado para prejudicá-lo. “Isso é uma combinação dele com o chefe dele. O Ministério Público já devia ter identificado isso”, disse. “Trata-se de um criminoso querendo se livrar dos crimes acusando sem prova material”, disse. Segundo Negromonte, Youssef estaria agindo dessa forma porque teve seus interesses contrariados. “Ele mesmo disse que quando eu era ministro não atendi ele”, disse.
O advogado de Negromonte na Lava Jato, Carlos Fauaze, disse não ver consistência na delação. De acordo com a defesa, o ex-ministro nunca teve contato com Ceará e apenas sabe do trabalho dele com Youssef em razão de seu irmão ter trabalhado com o doleiro. Sobre a saída de Negromonte do Ministério das Cidades, o advogado afirmou que houve uma divisão interna no PP na ocasião e uma corrente do partido se sobrepôs a outra, o que teria gerado uma troca “normal” no ministério.
Em depoimento à Polícia Federal no âmbito da Lava Jato, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, falou sobre a troca no comando do Ministério das Cidades. De acordo com ele, a própria presidente Dilma Rousseff e o governo “em geral” tinham uma avaliação negativa a respeito de Negromonte. Carvalho afirmou que surgiram boatos envolvendo o nome de Negromonte em casos de corrupção, sem detalhar aos investigadores quais seriam os escândalos supostamente ligados ao político do PP. Além da questão da corrupção, segundo Carvalho em depoimento prestado no dia 10 de dezembro, havia uma insatisfação com o desempenho técnico de Negromonte.
O ex-ministro já foi citado também na delação de Rafael Ângulo, outro entregador de dinheiro enviado pelo doleiro Alberto Youssef. Nos depoimentos, o emissário do doleiro disse que um dos endereços funcionais de Brasília onde realizava entregas de dinheiro era o de Negromonte, que recebia entre R$ 100 e R$ 150 mil entre uma e duas vezes por mês.
Investigações
Negromonte já é alvo de ao menos três inquéritos relacionados à Operação Lava Jato. O ex-ministro é investigado perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de ter operado um esquema que renderia vantagens econômicas de R$ 25 milhões a serem repartidos entre partidos políticos. Ele é suspeito de conduzir tratativas, enquanto ministro, para implementar no País um sistema de rastreamento de veículos que renderiam repasses irregulares para o PP e para o PT.
Negromonte já é alvo de ao menos três inquéritos relacionados à Operação Lava Jato. O ex-ministro é investigado perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de ter operado um esquema que renderia vantagens econômicas de R$ 25 milhões a serem repartidos entre partidos políticos. Ele é suspeito de conduzir tratativas, enquanto ministro, para implementar no País um sistema de rastreamento de veículos que renderiam repasses irregulares para o PP e para o PT.
No Supremo Tribunal Federal, ele é um dos políticos sob suspeita no inquérito que investiga a formação de quadrilha no âmbito da Lava Jato e recentemente foi incluído em um inquérito já existente que apura a participação do ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC) no esquema de corrupção na Petrobras. Neste último inquérito, também é investigado o deputado federal Mário Silvio Negromonte Jr. (PP-BA), filho do ex-ministro das Cidades.
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