Os ‘envelopes pardos’ de Renato Duque
POR RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO E MATEUS COUTINHO
Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobrás, afirmou à Justiça Federal que cabiam R$ 60 mil em cada envelope e que chegou a repassar US$ 12 milhões de uma só vez a ex-diretor de Serviços da estatal
O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco afirmou à Justiça Federal que repassava propinas para Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, dentro de ‘envelopes pardos’. Cabiam em cada envelope R$ 60 mil, disse Barusco, em depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro na quarta-feira, 11, nos autos do processo contra executivos da empreiteira Andrade Gutierrez.
“Mais ou menos no final de 2004. início de 2005, eu comecei a passar prá ele (Duque) uns volumes em dinheiro, normalmente 60 mil reais. Eu sei, porque eu passava num envelope pardo e a forma de ajustar o dinheiro dentro do envelope pardo dá uns 60 mil. Então, normalmente eram 50, 60 mil reais”, relatou.
Pedro Barusco é um dos delatores da Operação Lava Jato. Ele admitiu ter recebido US$ 97 milhões em propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.
Duque foi preso em fevereiro na Operação ‘Que País é Esse?’ – frase que ele usou ao celular com seu advogado. O ex-diretor de Serviços da Petrobrás, cargo para o qual foi indicado pelo PT, segundo os investigadores da Lava Jato, já está condenado em uma primeira ação criminal. Pegou 20 anos e oito meses de reclusão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em seu depoimento, inicialmente, Pedro Barusco apontou para outro ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP para a área de Abastecimento, a partir de 2004. “Quando o cliente era da Diretoria de Abastecimento a propina era de 2%, sendo que 1% ia para o doutor Paulo Roberto e 1% para a Diretoria de Serviços.”
O 1% para a Diretoria de Serviços, declarou Barusco, era repartido assim. “Desse 1% para a Diretoria de Serviços metade ia pro Partido dos Trabalhadores e metade prá Casa, grupo de pessoas que dividia esse dinheiro e mais operador. A Casa normalmente era eu, o doutor Renato Duque e, eventualmente, mais alguém.”
O juiz Sérgio Moro perguntou ao delator como Duque recebia. “No começo ele não recebia, ele deixava acumular e eu ia fazendo uma espécie de contabilidade. Quando foi mais ou menos final de 2004, início de 2005, eu comecei a passar prá ele uns volumes em dinheiro. Normalmente, 60 mil reais. Eu sei porque eu passava num envelope pardo e a forma de ajustar o dinheiro dentro do envelope pardo dá uns 60 mil. Então, normalmente eram 50, 60 mil reais.”
“Qual a periodicidade?”, questionou o juiz.
“Começou com 15 dias e depois passou semanal e ficou semanal, essa era uma forma assim rotineira.”
“O sr. também recebia em espécie?”, prosseguiu Moro.
“Recebia, recebia em espécie do sr. Mário Góes”, respondeu Barusco, referindo-se a um dos operadores de propinas do esquema na Petrobrás.
Barusco voltou a falar de Renato Duque. “Eu tinha essa contabilidade com o dr. Renato Duque, do que entrava, o que seria direito dele, o que eu pagava aí. Chegou um momento que houve um desequilíbrio. Ele teria direito, pela contabilidade, a um volume muito grande. Eu conseguia dar vazão ao pagamento de uma forma muito pequena, 60 não cobria, não equilibrava. Daí eu falei prá ele: você precisa de um canal, eu estou ficando numa posição muito incômoda, eu estou acumulando um patrimônio seu muito grande.”
O delator contou que viajou com Duque a Paris. “Fomos a um banco em Paris que nos deu duas contas de passagem. Aí comecei a encaminhar os recursos para essas contas de passagem como se fossem recursos para o dr. Renato Duque. Foi aumentando a vazão, o volume que fui repassando a ele, mas mesmo assim ainda estava muito desequilibrado.”
No final de 2012, contou Barusco, ocorreu ‘um grande acerto’ com Renato Duque. “Eu tinha uns 14 milhões de dólares para receber, desses 14, 12 foram para ele, dois prá mim.”
Renato Duque nega ter recebido propinas.
FONTE:
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