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Ela parece desconhecer a história da empresa para a qual trabalha
Ela parece desconhecer a história da empresa para a qual trabalha
Míriam Leitão estava hoje pela manhã no centro de uma polêmica no Twitter.
Ela postou um artigo no qual dizia que a presença de Dilma num evento contra o STF – o congresso do PT – “enfraquece a democracia”.
É curiosa a visão que certos jornalistas têm do mundo sob a ótica das empresas para as quais trabalham.
Logo o Twitter foi inundado com observações como as seguintes:
1)  E o filho de Joaquim Barbosa trabalhando na Globo, não enfraquece a democracia?
2)  E o abraço de Merval em Ayres Britto, não enfraquece a democracia?
3)  E a sonegação documentada da Globo, não enfraquece a democracia?
Mas acima de tudo: a Globo de Roberto Marinho – lembremos 1954 e 1964 – promove a democracia?
Não sou um BIM, Brasileiro Indignado com a Mídia. Quer dizer: não leio o Globo. Não vejo a Globonews. Não ouço a CBN.
Isso tudo significa que não acompanho Míriam Leitão.
Tenho, no entanto, uma simpatia longínqua por ela. Na Veja, no início da década de 1980, Míriam foi vítima de uma das demissões mais brutais que vi em minha carreira.
Éramos colegas de redação, ela na seção de Política, eu na de Economia, e éramos iniciantes.
Míriam foi demitida pelo seu chefe, Mario Sergio Conti, de uma forma inacreditável.
Mario Sergio esperou que ela fizesse a última legenda do último texto na seção. Naqueles dias, isso só acontecia por volta das 6 ou 7 horas da manhã de sábado.
Nós chegávamos exaustos aos finais de fechamento. Lembro que quando pegava o carro em direção à Veja nas quintas feiras pensava que só poderia dormir decentemente na noite de sábado.
Míriam estava fisicamente e mentalmente exaurida quando, terminada a última tarefa entre tantas, Mario Sérgio a chamou para a última conversa.
Nunca vi um jornalista tão mau caráter quanto ele. Não é à toa que ele inventou Mainardi, outro canalha fundamental, quando se tornou diretor da Veja, no começo dos anos 1990.
Alpinista social como poucos, Mário Sérgio, diretor de uma Veja ainda respeitada, fazia coisas como passar finais de semana na ilha de Roberto Marinho. Você pode imaginar o tratamento dispensado à Globo pela Veja então.
Bem, os fatos estão aí para provar que a demissão da Veja foi talvez a melhor coisa que aconteceu para Míriam. Logo depois ela ingressaria na Globo e decolaria.
Mas o artigo de hoje mostra que, de alguma forma, ela perdeu contacto com a realidade, ao virar uma estrela da Globo.
É uma patologia comum, aliás, nas redações das grandes empresas jornalísticas.
Leio colunistas defenderem o livre mercado sem saber, aparentemente, que vigora na mídia uma reserva de mercado para companhias brasileiras.
O El País está apanhando do cartel de mídia, nos dias de hoje, porque decidiu colocar no ar um bom site em português.
Leio também vociferações contra o emprego (aliás mínimo, como mostram as estatísticas do Secom) do dinheiro público para sites fora do establishment.
São feitas por jornalistas que parecem desconhecer que suas corporações foram erguidas à base de dinheiro público – empréstimos a juros maternais de bancos oficiais, perdões de dívidas mediante anúncios e outros expedientes que em outros países jamais seriam tolerados.
Os jornalistas parecem desconhecer que até o papel no qual escrevem é livre de impostos – o infame “papel imune”.
Míriam Leitão, com sua preocupação sobre a democracia, parece ignorar a história da empresa para a qual trabalha.
Como simpatizo com ela desde a demissão covarde de Mário Sérgio, dou um conselho: basta consultar o Google.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Fonte:

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