Os “torcedores” de Vasco e Atlético ouviram o chamado da Fifa (“chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”...). E mostraram seu "valor” poucas horas depois do sorteio da Copa. A imagem do país no exterior está manchada, dizem os jornais. O sentimento é de grande tristeza. As cenas de barbárie tomaram conta da internet.
A preocupação com a imagem do Brasil no exterior é comovente mas está atrasada – assim como as obras da Copa e tudo o mais. Infelizmente, a imagem do Brasil no exterior está manchada há bastante tempo. Alguns já sabem disso. Outros fingem não saber. E há sempre aqueles que não sabem, ou fazem questão de não ficar sabendo.
O cerco se fechou de uma vez por todas e, de fato, o sentimento é de grande tristeza. O gringo que vem ao Brasil já percebeu, há pelo menos dois anos, que o discurso portentoso sobre a pujança econômica brasileira era um pastel de vento. É a nossa mania de achar que “no final tudo dá certo”. Claro, ainda não chegamos ao final dessa história. A Copa do Mundo é daqui a seis meses e ainda teremos os Jogos Olímpicos. No entanto, sabemos que a gestão desses torneios tornou-se o maior abacaxi da nossa história política – e urbana – recente.
Observem por exemplo a discreta declaração do técnico da Alemanha, Joachim Löw, no dia do sorteio de grupos: “No Brasil, as coisas nem sempre funcionam e é preciso ter paciência”. Löw batizou o Mundial vindouro: “Copa das adversidades”.
A “análise sociológica” do alemão é coerente com a experiência cotidiana de todos nós, ricos e pobres deste país “abençoado por Deus e bonito por natureza”. Aqui, têm sorte as pessoas que conseguem viver suas vidas à margem do sistema viário, que não são obrigadas a enfrentar “o metrô das seis”, que podem se dar ao luxo de não ter um carro e não depender de um telefone. Sem falar na educação e na saúde públicas.
No curto intervalo de alguns meses, diversas reportagens foram produzidas por jornais estrangeiros, antes mesmo que as manifestações de junho turbinassem essa “nova-velha” visão internacional a respeito do que está acontecendo por aqui. Nossa coluna comentou algumas delas, anteriormente.
Quando veio a pancadaria de junho, o jornal inglês The Guardian liderou mundialmente a produção de um novo entendimento a respeito da realidade brasileira. Fez reportagens sobre o Brasil, muitas delas melhores do que as reportagens feitas por nós mesmos, por nossos jornais locais. Os manifestantes mostraram aos ingleses que o “Brasil Bombado” é coisa para inglês ver.
Curiosamente, nas manchetes de nossos jornais de hoje, as bestas envolvidas na batalha de Joinville não são classificadas como “vândalos” – como foram alguns manifestantes, no último mês de junho – e sim como “torcedores”. Isso ajuda a entender uma parte do problema. Nossa imprensa também deveria estar na lista das coisas que “nem sempre funcionam”.
(por josé guilherme pereira leite – para a série "Coisas do Brasil")
Fonte:
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