Gerente de marketing de produtos da rede social dá detalhes da nova ferramenta. Objetivo é, no limite, tomar o lugar das buscas do Google
Diego Sieg
Recurso de busca social, do Facebook, permitirá visualizações personalizadas do conteúdo do usuário e seus amigos dentro da plataforma (Divulgação)
Em algum ponto da trajetória do Facebook, surgido em um dormitório de estudantes da Universidade Harvard, em 2004, Mark Zuckerberg, criador, CEO e timoneiro da rede social, intuiu que o serviço deveria se tornar uma espécie de internet dentro da internet. Ou seja, seu objetivo é assumir tal utilidade que seus adeptos não precisem deixar o ambiente por nada, ou quase nada. Na semana passada, Zuckerberg subiu ao palco, em uma apresentação envolta em mistério na Califórnia, para dar mais um passo naquela direção: lançou o Graph Search, chamado Busca Social no Brasil. A ferramenta aprimora o precário sistema de busca no interior da rede: agora, o usuário pode demandar pesquisas relativamente complexas, que vasculham de uma só vez conteúdos compartilhados na rede por seus amigos e oferecem um resultado organizado – por ora, as informações são relativas a pessoas, fotos, interesses e lugares. Se a aposta estiver certa e o serviço funcionar a contento, o mecanismo pode incentivar muitos usuários a, no limite, trocar os buscadores da web pela busca social: saem as listas de links mais relevantes, entram os conteúdos postados por amigos. Trata-se de uma aposta tão alta que Zuckerberg classificou a busca social como o terceiro pilar da rede, ao lado da timeline (página principal do perfil, onde estão as publicações do usuário) e do news feed (em que o usuário acompanha as atualização de seus amigos). Na entrevista a seguir, Kate O'Neil, gerente de marketing de produtos do Facebook, fala sobre o desenvolvimento da busca social, que consumiu mais de um ano de trabalho, avisa que ainda não há prazo para que o serviço seja oferecido aos brasileiros e, sem citar o Google, deixa claro que, aos olhos do Facebook, a busca social vai mesmo brigar com o gigante de buscas: "Se eu usar a busca social, vou obter como resposta não uma relação de links relevantes, mas exatamente o que procuro: a resposta."
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Afinal, o que é a busca social do Facebook? Como ela vai funcionar para o usuário? A busca social é um recurso que permite ao usuário da rede descobrir novas informações dentro do Facebook. Com a ferramenta, é possível ver tudo o que os seus contatos na rede compartilharam com você, por meio de pesquisas simples e ágeis. O produto ainda está na fase beta (de testes, procedimento comum em serviços digitais), o que significa que será aprimorado nos próximos meses.
Qual a diferença entre a busca social e as buscas a que estamos acostumados a fazer no Google, por exemplo? A principal diferença é que a busca social nos apresenta como resposta uma lista única e completamente personalizada de resultados. Essa lista é limitada pelas configurações de privacidade que cada um dos contatos do usuário adota na rede. Um exemplo sobre os dois modos de busca nos ajuda a compreender os contrastes entre eles. Imagine que, da Califórnia, eu faça uma pesquisa em um buscador da internet acerca de um parque nacional; ao mesmo tempo, uma amiga em Nova York faz a mesma pesquisa, lançando mão das mesmas palavras-chave. Obteremos, como resultado, relações de links muito semelhantes, ordenados pela relevância que o buscador dá aos endereços. Agora, imagine que eu faça a seguinte busca social no Facebook: "Meus amigos que visitaram o Rio de Janeiro": vou obter uma resposta completamente diferente da que você obteria digitando a mesma sentença. Isso acontece porque nossos amigos na rede são diferentes e porque eles compartilham suas informações de maneira diversa na plataforma. Isso faz com que os resultados de busca nunca sejam iguais. Se eu usar a busca social, vou obter como resposta não uma relação de links relevantes, mas exatamente o que procuro: a resposta.
Na sua visão, qual a principal inovação da busca social? Projetamos a ferramenta para ajudar os usuários a encontrar, de maneira muito simples, as informações realmente importantes compartilhadas na rede por seus amigos. De volta ao exemplo: nunca fui ao Rio, mas tenho diversos amigos que já visitaram a cidade e que compartilharam essa informação na rede. Até agora, não existia no Facebook uma maneira prática de descobrir quais dos meus amigos tinham visitado o Rio: para isso, eu teria que entrar na timeline do perfil de cada um e pesquisar tudo o que eles já fizeram. É uma tarefa inviável, tão trabalhosa quanto mandar um e-mail a cada um de meus contatos. Nós tínhamos que oferecer algo melhor a nossos usuários. Então, agora, basta digitar uma simples sentença no campo de busca, como "Meus amigos que visitaram o Rio de Janeiro": isso vai gerar uma relação com os meus amigos que estiveram lá. O mesmo vale para outras pesquisas: "Fotos feitas no Brasil por meu amigos", "Fotos feitas no Rio por meus amigos" e assim por diante.
O Facebook já tem um modelo de negócio para a ferramenta? É muito difícil especular sobre isso. Nosso objetivo é oferecer um serviço melhor, o que fará do Facebook uma ferramenta mais útil e aumentará o engajamento do usuário. Assim, ele passará mais tempo no site, interagindo mais com outras pessoas, empresas e propagandas. Em termos de publicidade, devemos incluir anúncios nas páginas de resultados de busca, mas não imediatamente. Deve-se levar em conta ainda que, com a busca social, marcas e empresas ganharão visibilidade. Antes, para descobrir se um amigo tinha curtido a página de uma marca, a Coca-Cola, por exemplo, você precisava ver a notificação no seu news feed. Outra maneira era entrar no perfil dele e procurar na timeline por essa ação. Agora, com a busca social, é possível encontrar marcas de maneira totalmente diferente. Posso fazer a seguinte busca: "Fotos postadas pela Coca-Cola" ou "Fotos de Coca-Cola que meus amigos curtiram", além de "Fotos de restaurantes em Nova York" ou "Lugares em Nova York em que meus amigos jantaram".
A senhora disse que a expectativa é que os usuários fiquem mais tempo na rede. De quanto poderia ser esse acréscimo? Não temos esse dado. A busca social ainda funciona num modelo de testes, justamente para que possamos entender como as pessoas interagem com o novo produto. Afinal, trata-se de uma maneira bem diferente de as pessoas investirem seu tempo na plataforma, enquanto descobrem coisas.
Qual o desafio imposto pelo projeto? É um enorme desafio técnico para nosso time. Estamos trabalhando neste produto há mais de um ano. Como todos sabem, o Facebook tem hoje mais de 1 bilhão de usuários e recebe quase 1 milhão de novos adeptos ao dia. Então, para realizar a busca social, temos de enfrentar desafios como indexar todas as fotos disponíveis: diariamente, são mais de 300 milhões de imagens adicionadas à rede. Esse é apenas um pequeno exemplo do tipo de desafio de infraestrutura tecnológica com o qual temos de lidar para criar um produto tecnológico que atenda usuários de todo o mundo, sem criar dificuldades para eles.
A ferramenta explora recursos de web semântica, que "ensina" a computadores o significado de sentenças, e processamento de linguagem natural, que busca a compreensão automática de idiomas. Qual a complexidade desse trabalho? Até agora, o processo consumiu um ano e contou com um time muito maior do que aqueles com que estamos acostumados a trabalhar. Nosso objetivo sempre foi permitir que as pessoas possam fazer buscas da maneira mais natural, como se estivessem pensando ou falando. Assim, para encontrar "amigos que curtem encontros", alimentamos o sistema com todas as possibilidade semânticas relacionadas e suas combinações. Tentamos prever ainda diversas construções gramaticais que permitam à interface responder de forma mais familiar ao usuário. E isso é um desafio enorme.
Quando poderemos fazer buscas em português? Eu não tenho resposta a essa pergunta. O processamento de linguagem natural é muito mais complexo do que uma simples tradução do texto para outro idioma. Para empreender uma versão em português, nós precisamos conhecer a fundo a maneira como os brasileiros pensam e também como falam sobre determinados assuntos. E ainda existem diferenças em relação à língua usada em Portugal. O que queremos capturar neste produto é a maneira mais natural possível para que as pessoas possam utilizar em todo o mundo. No momento, estamos trabalhando para fazer o melhor possível em inglês. Depois disso, tentaremos ampliar.
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