Quando os trovões ecoam nas tardes da primavera, começam a estourar nas panelas da pacata cidade de Silveiras, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, as formigas içá. O inseto conhecido como uma ameaça à lavoura vira refeição, sendo servido de várias formas. A caça movimenta grande parte da população do município, que tem pouco mais de 6 mil habitantes, e que esperam o ano todo ansiosamente para saborear a iguaria.
Os trovões são um alerta de que chegou a temporada da caça às içás, as fêmeas da formiga saúva, conhecidas também como bitu ou içá-bitu. Após as pancadas de chuva ocorrem as revoadas de acasalamento entre as içás e os bitus. Mas, em vez de saírem do formigueiro para encontrar parceiros e darem origem a uma nova colônia, os insetos têm um outro destino: as panelas.
A tradição é centenária e leva adultos e crianças à busca pela iguaria entre os meses de outubro e novembro.O hábito foi herdado dos indígenas e passado através dos tempos aos tropeiros. A tradição se mantém até hoje. Quando acontecem as revoadas os "catadores de içás" saem nos campos buscando por formigueiros. Com gravetos, vão cutucando os buracos fazendo com que as içás saiam, sendo prezas fáceis. Com garrafas plásticas nas mãos, eles vão apanhando formiga a formiga até completarem o recipiente. A falta de proteção nas mãos garante algumas mordidas doloridas, já que as formigas tem ferrões que se assemelham a uma tesoura.
Depois da caçada chega a hora da limpeza. Com algumas formigas ainda vivas, os caçadores vão retirando as partes inutilizáveis, deixando apenas o abdômen. Após a retirada das asas, pernas e o ferrão, a içá está pronta para ser consumida. Hé quem prefira comê-las cruas, mas a melhor e mais tradicional maneira de servi-las é com farofa.
Alguns moradores estocam as içás e as congelam para comer o ano todo. Outros ainda veem o aperitivo como uma forma de lucrar: uma garrafa plástica de dois litros recheada com os insetos chega a custar cerca de R$ 40.
A formiga não conquistou apenas o paladar dos caipiras do interior de São Paulo, mas também de algumas figuras famosas do Brasil. As içás eram chamadas pelo escritor Monteiro Lobato de "caviar do Vale do Paraíba", que ele degustava devagar enquanto escrevia. Outro admirador do prato é Maurício de Sousa, que já estampou nos quadrinhos a sua paixão pela iguaria. Seu personagem Chico Bento aparece em uma história preparando a içá, acompanhado de um amigo e supervisionado pela mãe.
A culinária atingiu rumos internacionais e foi tema de uma reportagem do Jornal The New York Times, que enviou repórteres até a cidade para retratar esse hábito tão peculiar. Veja a receita da farofa de içá:
Ingredientes:
- 1 litro de içás limpas
- 200 gramas de banha de porco
- Sal com alho e farinha de mandioca crua.
- Coloca-se a banha de porco uma panela e depois, em fogo baixo, joga-se as içás, mexendo até que comecem a torrar.
- Quando chegar no ponto ideal de fritura, ou seja, quando estiver bem crocante, retira-se a mistura do fogo, acrescentam-se sal com alho e farinha de mandioca crua.
- A farofa está pronta para ser consumid.
Tempo de preparo:
Aproximadamente 5 minutos
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