AFP / Antoine AGASSE Mãe de Abdel Petitjean concede uma entrevista à AFP em sua casa, na localidade de Aix-les-Bains
Adel Kermiche e Abdel Malik Petitjean degolaram um
padre no noroeste da França em nome do grupo Estado Islâmico. Contudo, seus
pais haviam tentando, em vão, mudar sua conduta. Mas como fica a vida quando um
filho se radicaliza?
Preocupada com a intenção de viajar à Síria do
jovem Adel, a família Kermiche contactou as autoridades para sinalizar o seu
desaparecimento no momento da sua primeira tentativa, em março de 2015.
Depois de tentar fazer a viagem uma segunda vez, em
maio de 2015, sua mãe foi entrevistada pelo jornal suíço La Tribune de Genève,
mencionando um "menino feliz, que foi enfeitiçado, como em uma
seita".
A família tentou endireitar o jovem a qualquer
preço. Em vão.
Mais de um ano depois, Adel Kermiche e Abdel Malik
Petitjean, ambos de 19 anos, juraram fidelidade ao grupo extremista Estado
Islâmico. Na terça-feira, eles entraram numa igreja de Saint Etienne du Rouvray
(noroeste) e degolaram o padre Jacques Hamel, de 86 anos.
Mais de um ano antes do ataque, a mãe de Adel
reconhecia sua impotência frente a situação: "não sabemos a quem recorrer
para nos ajudar".
Mais e mais famílias se veem afetadas por fenômenos
de radicalização ou pela partida repentina de um parente, e buscam associações
de apoio.
De acordo com os números mais recentes, pelo menos
680 cidadãos franceses ou residentes na França estariam presentes na Síria e no
Iraque.
"Totalmente impotentes, as famílias que buscam
ajuda das associações passam por um grande sofrimento e um grande sentimento de
culpa", explica à AFP Amélie Boukhobza, psicóloga clínica e membro da
organização Entr'Autres, presente em toda a França.
O objetivo destes atores não é tanto ajudar os
menores radicalizados, "que de toda forma não pedem [esta ajuda]",
mas os pais.
Entre o amor e a injúria
"Não há perdão", reconhece a
especialista, mas "o amor dos pais está presente o tempo todo",
apesar de tudo.
"Eu amo você, eu sinto sua falta", dizia
em uma mensagem de voz na quarta-feira a mãe de Abdel Malik Petitjean, segundo
jihadista de Saint Etienne du Rouvray. Ela não podia acreditar no envolvimento
de seu filho, que estava prestes a ser revelado.
Mesmo quando os filhos partem para se juntar às
fileiras extremistas, as famílias tentam manter uma ligação, algumas têm um
contato regular e até mesmo diário.
Trocam fotografias, vídeos, relatam sobre o seu
dia, o tempo que passa, antes que apareçam as "injúrias": os filhos
começam a tratar seus pais como "infiéis", repreendendo-os por
continuar a viver no Ocidente, explica Amélie Boukhobza.
"Eu cortei todas as relações [com a minha
filha] há cinco meses", diz Ivan Sovieri, cuja filha, A., de 29 anos, foi
para a Síria com o marido e os filhos. "Sofria quando conversávamos, então
não quis saber mais dela", relata.
Depois de algumas conversas tensas, A. chegou a
rejeitar seu pai. "Para minha filha, a única coisa que importa é Alá e
nada mais", afirma Ivan Sovieri, convencido de que "não a verá
novamente."
"Para essas famílias, uma partida [para a
Síria ou o Iraque] significa uma morte de qualquer maneira. É uma perda quase
certa, diria 99% certa", diz Patrick Amoyel, psicanalista e responsável
por Entr'Autres.
A isso, soma-se o pânico generalizado de que seu
filho seja responsável por um ataque.
Cada vez que há um ataque na França, "as
famílias têm apenas um medo: será que meu filho estava entre as pessoas e
cometeu este ato?", indaga Amélie Boukhobza.
"Não há nada a fazer", lamenta Ivan.
"Apenas cruzar os dedos para que nada aconteça".
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