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Quem vai fazer o power-point do Temer?

A poucas horas do novo depoimento do
ex-presidente Lula a Moro, o MPF apresentou mais uma denúncia contra ele. Não importa que seja “injurídica e imoral”,
como disse a defesa, a criminalização de uma medida provisória oriunda do
governo FHC, de incentivo à desconcentração regional da indústria
automobilística. Importante, para o
Ministério Público, é o espancamento moral permanente do ex-presidente, com
vistas à sua inabilitação eleitoral, já que a popularidade mostrou-se incólume
aos ataques. Vindo ontem, ela competiu
com as revelações gravíssimas da Polícia Federal sobre Michel Temer, que falam do recebimento de propinas no valor
de R$ 31,5 milhões e o apontam como chefe da quadrilha do PMDB da Câmara, organização que seguiu em atividade mesmo
depois de sua posse como presidente.
O grupo capitaneou o golpe de 2016, com ajuda
do PSDB, da mídia e da omissão do STF.
Há material farto para que um procurador da escola de Deltan
Dallagnol produza agora um
power-point, como aquele dedicado a
Lula, mostrando todas as conexões de Temer, as partidárias e as
empresariais. Mas não haverá, é claro, o
power-point do Temer.
A Polícia Federal está convencida de que o
ocupante do Planalto era o líder inconteste do grupo integrado por Eduardo
Cunha, Henrique Alves, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Geddel Vieira
Lima. Todos os grandes negócios do
esquema careciam de sua anuência e de sua palavra final sobre o destino do
butim, fossem eles com a JBS, com as
empreiteiras ou outras empresas.
Ou com concessionários de portos, a exemplo do decreto que ele editou
este ano, prorrogando concessões, negócio que é objeto de outro inquérito, fora
da Lava Jato, que tem agora como relator no STF o ministro Roberto Barroso.
Com a entrega do relatório da PF ao STF,
Rodrigo Janot ganhou mais elementos para a segunda denúncia contra Temer,
restando saber o que fará amanhã o plenário do STF sobre seu pedido para que
nenhuma denúncia seja apresentada com base na delação da JBS até que haja uma
decisão sobre sua validade. Vamos
acreditar que o STF não chegará a este ponto, o de imobilizar o braço de Janot
na disparada de sua última flecha, depois das trapalhadas na negociação do
acordo com a JBS. Se quiser, agora Janot
pode até denunciar Temer sem valer-se da
delação da delação da JBS, tantos são os indícios de seus crimes, baseados em
outras investigações. Janot pode deixar
de lado o caso de obstrução da justiça, baseado na conversa noturna com Joesley
Batista, na qual incentivou a compra do
silêncio de Cunha e Lucio Funaro, e
centrar fogo na acusação de formação de organização criminosa.
Não tivesse o Brasil se transformado no
paraíso dos cínicos, não haveria
governistas dizendo, como o servil deputado Beto Mansur, que a denúncia chegará
à Câmara “fragilíssima”. Pelo contrário,
todos os sinais são de que agora, precisando salvar a honra da Lava Jato, além de mandar prender Joesley, Janot
apresentará contra Temer uma denúncia melhor fundamentada que a
primeira. A maioria governista,
entretanto, não está interessada em consistência ou fundamentação. Seu negócio, mais uma vez, será saber o
quanto poderá cobrar de Temer, e o quanto ele ainda poderá pagar para salvar o
pescoço.
Temer apodreceu e não sabe mas não é ele que
está no centro da trama. O que ele está
recebendo são estilhaços, é a pólvora que sobra
da caçada que realmente importa à coalizão judiciária, a caçada a Lula. Mas seu power-point,
convenhamos, seria muito mais interessante que o feito para o ex-presidente.
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