EPA/SEBASTIAO MOREIRA
Viuvez,
sondagens e problemas judiciais aceleraram decisão. Antigo presidente falará já
como concorrente num evento no Nordeste. Manifesto de artistas serviu de
arranque
Um manifesto
de 400 artistas e intelectuais a pedir a candidatura de Lula da Silva à
presidência marcou o início oficioso da corrida eleitoral do ex-presidente ao
Palácio do Planalto. "Para o povo brasileiro recuperar o orgulho, a
dignidade e a autonomia que perdeu", atores como Dira Paes e Marieta
Severo, músicos como Martinho da Vila e Beth Carvalho e escritores como
Fernando Morais, Leonardo Boff e Fábio Comparato assinaram o documento. E,
claro, Chico Buarque, um apoiante de primeira hora do PT e de Lula. Caetano
Veloso e Gilberto Gil, seus contemporâneos e parceiros musicais, preferem
outras opções.
O discurso
oficial do candidato, que fará 73 anos no mês das eleições, outubro de 2018, e
já presidiu o país de 2002 a 2010, será em Monteiro, o pequeno município onde
todos os caminhos políticos do Brasil vão desaguar. Lá, o presidente em
exercício Michel Temer inaugurou recentemente a Transposição do Rio São
Francisco, que porá fim a séculos de seca no Nordeste. O pré-candidato
presidencial Geraldo Alckmin planeia ir na semana que vem recordar que foi ele,
enquanto governador de São Paulo, quem emprestou tecnologia essencial à
conclusão da obra. E Lula, o chefe do Estado em cuja gestão se iniciou o
processo, falará aos monteirenses, e por extensão a todos os brasileiros, como
concorrente às eleições, pela primeira vez, no fim do mês.
O primeiro
passo de Lula para assumir a candidatura foi aceitar ser presidente do PT,
depois de concluir que só ele pode unir um partido desmoralizado pelo
impeachment de Dilma Rousseff, dizimado nas eleições municipais e dividido em
correntes. "As correntes do partido, as principais lideranças, o próprio
Rui Falcão, atual presidente do PT, e os amigos conseguiram convencê-lo de que
ele tem de ser o próximo comandante, o que será referendado em congresso em
junho", revelou o Brasil 247, jornal digital ligado ao partido.
Para tal,
diz ainda o jornal citando fontes próximas de Lula, contribuiu a morte em
fevereiro de Marisa Letícia, sua mulher. Disse o ex--presidente a amigos que sente
saudades "de entrar em casa e, mesmo brigando com ela, saber que ela
estava lá", por isso, "decidiu, por um lado, mudar de casa e, por
outro, colocar o pé na estrada", começando pela tal visita a Monteiro, na
Paraíba.
Com a
economia na boca do povo, o antigo presidente tem-se reunido com especialistas
da área para a elaboração do que chamará uma "nova plataforma" que
visa apresentar soluções para o futuro sem esquecer de atacar o presente,
leia-se o governo Temer, e lembrar o seu passado no Planalto - por isso, o tema
da Transposição do Rio São Francisco é visto como oportunidade de ouro.
Na política,
escreve a colunista da Globo News Cristiana Lôbo, "a ideia é enterrar de
vez o discurso do "golpe", que, segundo Lula, já se esgotou", e
capitalizar as sondagens - nas últimas, de finais de janeiro, o ex-sindicalista
liderava todos os cenários de primeira e segunda voltas à frente de Marina
Silva e Ciro Gomes, da área da esquerda, de Aécio Neves e de Geraldo Alckmin,
do centro-direita, e de Jair Bolsonaro, um adepto da ditadura militar. Criar
candidaturas fortes à Câmara dos Deputados, cuja importância na vida política
nacional ficou evidente na queda de Dilma, e dividir com uma direção experiente
a tarefa de fazer alianças regionais no emaranhado puzzle eleitoral brasileiro
são as outras prioridades.
O
envolvimento com a justiça - é réu em cinco processos, incluindo na operação
Lava-Jato -, embora pareça à partida um obstáculo, serviu de acelerador para a
decisão, como escreveu no jornal O Estado de S. Paulo a jornalista Vera
Magalhães. "A candidatura visa interditar, no grito, as investigações
contra ele", afirma. Rui Falcão, um dos que defendem a tese de que será
muito mais difícil criminalizar um Lula candidato do que um Lula não candidato,
já disse a propósito que impedir a candidatura de Lula com base em questões
legais seria "o golpe dentro do golpe".
Em Sâo Paulo
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