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Viuvez, sondagens e problemas judiciais aceleraram decisão. Antigo presidente falará já como concorrente num evento no Nordeste. Manifesto de artistas serviu de arranque

Um manifesto de 400 artistas e intelectuais a pedir a candidatura de Lula da Silva à presidência marcou o início oficioso da corrida eleitoral do ex-presidente ao Palácio do Planalto. "Para o povo brasileiro recuperar o orgulho, a dignidade e a autonomia que perdeu", atores como Dira Paes e Marieta Severo, músicos como Martinho da Vila e Beth Carvalho e escritores como Fernando Morais, Leonardo Boff e Fábio Comparato assinaram o documento. E, claro, Chico Buarque, um apoiante de primeira hora do PT e de Lula. Caetano Veloso e Gilberto Gil, seus contemporâneos e parceiros musicais, preferem outras opções.

O discurso oficial do candidato, que fará 73 anos no mês das eleições, outubro de 2018, e já presidiu o país de 2002 a 2010, será em Monteiro, o pequeno município onde todos os caminhos políticos do Brasil vão desaguar. Lá, o presidente em exercício Michel Temer inaugurou recentemente a Transposição do Rio São Francisco, que porá fim a séculos de seca no Nordeste. O pré-candidato presidencial Geraldo Alckmin planeia ir na semana que vem recordar que foi ele, enquanto governador de São Paulo, quem emprestou tecnologia essencial à conclusão da obra. E Lula, o chefe do Estado em cuja gestão se iniciou o processo, falará aos monteirenses, e por extensão a todos os brasileiros, como concorrente às eleições, pela primeira vez, no fim do mês.

O primeiro passo de Lula para assumir a candidatura foi aceitar ser presidente do PT, depois de concluir que só ele pode unir um partido desmoralizado pelo impeachment de Dilma Rousseff, dizimado nas eleições municipais e dividido em correntes. "As correntes do partido, as principais lideranças, o próprio Rui Falcão, atual presidente do PT, e os amigos conseguiram convencê-lo de que ele tem de ser o próximo comandante, o que será referendado em congresso em junho", revelou o Brasil 247, jornal digital ligado ao partido.

Para tal, diz ainda o jornal citando fontes próximas de Lula, contribuiu a morte em fevereiro de Marisa Letícia, sua mulher. Disse o ex--presidente a amigos que sente saudades "de entrar em casa e, mesmo brigando com ela, saber que ela estava lá", por isso, "decidiu, por um lado, mudar de casa e, por outro, colocar o pé na estrada", começando pela tal visita a Monteiro, na Paraíba.

Com a economia na boca do povo, o antigo presidente tem-se reunido com especialistas da área para a elaboração do que chamará uma "nova plataforma" que visa apresentar soluções para o futuro sem esquecer de atacar o presente, leia-se o governo Temer, e lembrar o seu passado no Planalto - por isso, o tema da Transposição do Rio São Francisco é visto como oportunidade de ouro.
Na política, escreve a colunista da Globo News Cristiana Lôbo, "a ideia é enterrar de vez o discurso do "golpe", que, segundo Lula, já se esgotou", e capitalizar as sondagens - nas últimas, de finais de janeiro, o ex-sindicalista liderava todos os cenários de primeira e segunda voltas à frente de Marina Silva e Ciro Gomes, da área da esquerda, de Aécio Neves e de Geraldo Alckmin, do centro-direita, e de Jair Bolsonaro, um adepto da ditadura militar. Criar candidaturas fortes à Câmara dos Deputados, cuja importância na vida política nacional ficou evidente na queda de Dilma, e dividir com uma direção experiente a tarefa de fazer alianças regionais no emaranhado puzzle eleitoral brasileiro são as outras prioridades.

O envolvimento com a justiça - é réu em cinco processos, incluindo na operação Lava-Jato -, embora pareça à partida um obstáculo, serviu de acelerador para a decisão, como escreveu no jornal O Estado de S. Paulo a jornalista Vera Magalhães. "A candidatura visa interditar, no grito, as investigações contra ele", afirma. Rui Falcão, um dos que defendem a tese de que será muito mais difícil criminalizar um Lula candidato do que um Lula não candidato, já disse a propósito que impedir a candidatura de Lula com base em questões legais seria "o golpe dentro do golpe".


Em Sâo Paulo


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