Operação Cui Bono?, deflagrada nesta sexta 13, põe ex-ministro de Temer no papel de protagonista de milionário esquema de corrupção na Caixa
Fábio Fabrini, de Brasília
Investigadores da Operação Cui Bono? (a quem beneficia?), deflagrada nesta sexta 13 pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, sustentam que Geddel Vieira Lima, ex-ministro do presidente Michel Temer, era braço-direito do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba, em esquema para liberar empréstimos a empresas ‘dispostas a realizar negociações ilícitas’.
No pedido de buscas e apreensões enviado à Justiça Federal, a PF afirma que, valendo-se do cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, o qual exerceu entre 2011 e 2013, ainda no governo Dilma Rousseff, Geddel agia internamente, em ajuste com Cunha, para beneficiar as empresas suspeitas de pagamento de propina.
A ele caberia fornecer informações privilegiadas para ‘outros membros do grupo criminoso’, que incluiria o ex-presidente da Câmara, o também ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto, que delatou o esquema na Caixa, e o operador do mercado financeiro Lúcio Bolonha Funaro.
Ente as empresas suspeitas de pagar suborno, segundo a Operação Cui Bono? estão BR Vias, Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, Marfrig, J&S Investimentos, Bertin, JBS Comporte Participações, Big Frango e Digibras.
As evidências contra Geddel surgiram em mensagens de um celular apreendido na casa de Cunha na Operação Catilinárias. Elas revelam diálogos entre Cunha e Geddel indicando, por exemplo, que ‘já tinham saído votos favoráveis às operações da Marfrig, de que os valores estavam liberados’.
Após essas conversas, a Marfrig repassou R$ 469,5 mil à Viscaya Holding, de Funaro, que seria um dos captadores de propina para Cunha.
O executivo da Marfrig à época dos fatos, Marcos Antônio Molina dos Santos, que pleiteava a liberação do dinheiro, está sendo investigado.
Marcos Roberto Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos da Caixa, cujo imóvel foi alvo de buscas nesta sexta, tinha “papel importante” na liberação dos créditos pretendidos por Cunha, Geddel, Funaro e Cleto.
Também são alvos da ‘Cui Bono? o servidos da CEF José Henrique Marques da Cruz, citado em algumas mensagens apreendidas pela PF como Henrique da Vigan (Vice-Presidência de Atendimento e Distribuição da Caixa). Esse setor, segundo a PF, exercia função essencial na liberação dos recursos, conforme mensagens trocadas entre Geddel e Cunha. Elas mencionavam as pendências de análise do “Henrique”, suspeito de ter “proximidade ilícita” com o grupo investigado.
O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal, em Brasília, autorizou acesso a dados telefônicos, telemáticos, bancários e fiscais dos envolvidos, eventualmente apreendidos. Também permitiu buscas na vice-presidência de Tecnologia da Informação da Caixa, com o objetivo de esclarecer melhor como se dava o trâmite dos processos sob suspeita.
A ordem é apreender mídias e comunicações, por canais corporativos, dos envolvidos.
O magistrado sustenta que há ‘fortes indícios de que todas as pessoas relacionadas (na investigação) tiveram participação nos fatos que ensejaram as referidas irregularidades/ilícitos”, escreveu, na decisão que autorizou as medidas.
A operação apura crimes de corrupção, associação ou organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Repórter
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