Ex-diretor da Petrobrás afirmou em audiência na Justiça Federal no Paraná que grupo do PMDB lhe exigiu 700 mil dólares por mês para ficar no cargo; na ocasião, partido era comandado pelo atual presidente da República
Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
O juiz Sérgio Moro não autorizou que um advogado completasse pergunta ao ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional) sobre o presidente Michel Temer. O episódio ocorreu nesta quinta-feira, 24.
“Essa proposta financeira que o sr. recebeu para se manter no cargo de pagar 700 mil dólares por mês também foi levada ao presidente do PMDB à época?”, indagou o advogado, defensor do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), em audiência na Justiça Federal em Curitiba.
“Não dr, aí estou indeferindo essa questão”, interrompeu Moro, imediatamente. “Isso não é objeto da acusação e não tem competência desse juízo para esse tipo de questão”, completou o juiz da Lava Jato.
A preocupação de Moro é com a citação a autoridades detentoras de foro privilegiado perante tribunais superiores – caso do presidente da República.
A menção a pessoas nessas condições em processo de primeiro grau judicial pode levar até à anulação do caso ou provocar o deslocamento dos autos.
Cerveró foi arrolado pela defesa de Eduardo Cunha, réu da Lava Jato e preso em Curitiba por ordem de Moro.
Na audiência, Cerveró disse que foi nomeado para o cargo na Petrobrás em janeiro de 2003 ‘no novo governo Lula’.
O advogado do ex-presidente da Câmara indagou do ex-diretor da estatal petrolífera se
‘houve participação’ do então senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS) em sua indicação.
“Sim, minha indicação (foi feita) pelo (ex) governador Zeca do PT (MS), por indicação do senador Delcídio.”
Indagado se houve ‘pagamento de vantagem indevida a Delcídio’, Cerveró respondeu. “Não na ocasião, mas posteriormente.”
O advogado de Eduardo Cunha perguntou a Cerveró quando ele ‘se aproximou do PMDB’. Na época, em 2006, Cerveró estava sendo pressionado para deixar o cargo.
“Foi o PMDB que se aproximou de mim, em 2006, logo depois do Mensalão, através do ministro Silas Rondeau que fazia parte do grupo do PMDB”, respondeu. “Fui procurado pelo Silas que me apresentou ao senador Renan (Calheiros) e, na época, ao deputado Jáder Barbalho (PMDB/PA). Me informaram que eu passaria a ser apoiado por esse grupo.”
Em sua delação premiada, Cerveró afirmou que em 2006 pagou US$ 6 milhões a Renan ‘a título de participação nos negócios da Petrobrás’. Renan nega.
“Realmente foi um acerto que houve com esse comando do PMDB. Delcídio não fazia parte desess seis milhões, mas houve uma destinação dessses seis milhões de dólares para esse grupo (do PMDB) de propinas (no âmbito) da primeira sonda que a Petrobrás contratou. Delcídio não fez parte. Dois anos depois fui substituído.”
“Minha substituição não foi de uma hora para outra, se iniciou com uma pressão do PMDB da Câmara. Fui cobrar o apoio do grupo do PMDB do Senado, mas esse grupo estava muito enfraquecido na ocasião porque o senador Renan teve que renunciar (à presidência da Casa) por conta da história da filha dele. Esse grupo tinha perdido (força)”, relatou Cerveró, que acabou caindo em 2008.
O advogado de Eduardo Cunha questionou Cerveró se ele foi pressionado a fazer pagamento mensal de US$ 700 mil ‘ao grupo do PMDB’ para se manter no cargo. Ele confirmou.
Cerveró contou que esteve com Michel Temer. Na ocasião, Temer era deputado e presidia o PMDB. “Estive com Michel Temer, (fui) levado pelo dr. Bumlai (pecuarista José Carlos Bumlai, réu da Lava Jato). Ligou, marcou uma audiência com o deputado Michel Temer, no escritório dele em São Paulo. Fui lá, ele (Temer) me recebeu muito bem, mas disse que não podia contrariar os interesses da bancada que ele comandava, ele era o presidente do PMDB.”
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