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Apesar de sua importância no combate ao "Estado Islâmico", curdos peshmerga não vão entrar em Mossul. Em entrevista, especialista em segurança fala sobre a decisão e sobre próximos passos na luta pela cidade iraquiana.
Soldado peshmerga
Enquanto as forças iraquianas continuam a campanha para recuperar a cidade de Mossul das mãos do grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI), surgem questões sobre como o conflito vai se desenvolver e, ainda, sobre as forças que vão participar da batalha.
Os peshmerga, as forças militares curdas do Iraque conhecidas por seus êxitos contra o EI, anunciaram que não vão se juntar às forças de segurança iraquianas para entrar no coração da cidade.
Para analisar a campanha em curso, a DW conversou com Tomas Olivier – presidente-executivo da consultoria de segurança Lowlands Solutions, baseada na Holanda, e ex-oficial superior do Ministério da Defesa holandês. Em entrevista, Olivier fala sobre a expectativa para as próximas semanas e meses e destaca o risco de agravamento de questões sectárias existentes na região após a libertação de Mossul.
Deutsche Welle: Levando em conta que os curdos peshmerga são enaltecidos como uma das melhores forças na luta contra o EI, por que eles não estão mais avançando em direção a Mossul?
Tomas Olivier: O líder das forças peshmerga, Masoud Barzani, afirmou sabiamente há uma semana que as forças peshmerga não vão entrar em Mossul e se juntar ao Exército iraquiano na operação que visa libertar a cidade. Apesar de estar em vigor uma estreita coordenação entre as forças peshmerga e o Exército iraquiano, os curdos decidiram se concentrar em outros focos de resistência no norte do Iraque e na cidade de Kirkuk, controlada pelos curdos, onde o EI começou uma campanha desesperada de violência em resposta aos avanços do Exército iraquiano em direção a Mossul. Em comunicado, Barzani afirmou que se opõe fortemente à participação de elementos não iraquianos na libertação de Mossul. Sendo assim, a participação curda, no mínimo, não seria inteligente.
Como será a próxima fase do processo de libertação de Mossul?
O mais provável é um cenário de combate urbano, rua a rua, especialmente devido ao fato de que os militantes do EI aumentaram a resistência em algumas áreas de Mossul. Os militares americanos estimam que o grupo jihadista possui aproximadamente entre 4 mil e 5 mil combatentes na cidade. Portanto, a operação de desmantelamento vai demorar várias semanas, se não meses. O EI teve meses para preparar uma rede de defesa, sistemas de túneis e posições fortificadas em Mossul e, atualmente, usa uma combinação de pequenas armas de fogo, mísseis antitanque e homens-bomba para bloquear o avanço do Exército iraquiano.
O Exército iraquiano tem que ser extremamente cauteloso em seu procedimento para libertar a cidade e minimizar as perdas. Devido ao risco de baixas civis, a coalizão liderada pelos EUA pode somente fazer uso de munições de precisão nas proximidades da área por onde avança o Exército iraquiano. O cenário de combate rua a rua é, portanto, a única opção militar prática e efetiva para libertar a cidade de todos os núcleos de resistência do EI.
Como isso difere de operações anteriores?
A coalizão liderada pelos EUA e o Exército iraquiano não podem contar com apoio aéreo devido ao risco considerável de mortes de civis. É um exemplo clássico de combate urbano tradicional, no qual o Exército iraquiano tem que ter paciência para ser bem-sucedido. Deverá ser realizada uma operação de busca e apreensão em todos os bairros, construções, prédios e quintais. Devido ao fato de que Mossul é uma cidade muito grande, isso vai, provavelmente, levar meses.
É esperado que o EI mantenha suas posições ou fuja? Como isso deve impactar a operação?
Embora existam exemplos de desertores do EI nas últimas semanas, é de se esperar que os combatentes extremistas do grupo ainda presentes na cidade lutem e não tenham a intenção de "balançar a bandeira branca", por assim dizendo. Isso se deve ao fato de que muitos dos supostos desertores foram executados publicamente pelo EI nas últimas semanas.
Uma operação de forças xiitas – as tropas apoiadas pelo Irã conhecidas como Unidades de Mobilização Popular – e aliados curdos vai possivelmente interromper rotas de fuga do EI para as partes oeste e norte da cidade. Por isso, é de se esperar que o Exército iraquiano não enfrente uma batalha fácil e tenha que realizar uma ação militar de forma lenta e seguindo o manual.
Qual deve ser a situação quando Mossul for libertada?
A questão do que acontece após a libertação de Mossul é, sem dúvida, a pergunta mais importante com que a comunidade internacional, a coalizão liderada pelos EUA e o governo iraquiano estão se deparando. Historicamente, os árabes sunitas controlavam a província de Nínive, localizada no norte do país. No entanto, a região tem numerosos grupos étnicos e sectários.
Assim, o risco de agravamento das tensões sectárias está muito presente. Esta é a razão de milícias xiitas apoiadas pelo Irã não entrarem em Mossul, por exemplo. Outro importante fator será os atuais desenvolvimentos entre o governo turco e iraquiano no que diz respeito à presença de tropas turcas nas proximidades de Mossul, e a atual formação de colunas blindadas do Exército turco na fronteira iraquiana.
Muitos habitantes de Mossul se sentiam alienados pelo governo iraquiano liderado por árabes xiitas. Não é de se esperar que a mudança leve a uma unificação tranquila de todos esses elementos étnicos e sectários após a libertação de Mossul. Portanto, a verdadeira batalha começa no dia em que Mossul for declarada livre. 


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