Marlon Mendez tem dez anos e é um admirador de Fidel Castro, que hoje faz 90 anos
| REUTERS/ENRIQUE DE LA OSA
Dado várias
vezes como morto na última década, o ex-líder cubano está afastado dos olhares
públicos mas continua a ser um referente ideológico numa ilha a abrir-se ao
mundo
"Em
breve vou fazer 90 anos, isso nunca me tinha passado pela cabeça e não foi
fruto de um esforço, foi capricho da sorte. Em breve serei como todos os
outros, a todos chega a nossa vez, mas ficarão as ideias dos comunistas
cubanos." As palavras que parecem de despedida foram proferidas por Fidel
Castro, no VII Congresso do Partido Comunista Cubano, em abril, na última vez
que o ex-líder foi visto em público. Hoje, Fidel festeja 90 anos num país muito
diferente daquele que entregou, por problemas de saúde, ao irmão Raúl em julho
de 2006.
Há dez anos,
no dia do seu 80.º aniversário e apenas duas semanas após ter sido operado de
emergência, eram publicadas as primeiras imagens de Fidel, onde surgia a
segurar o jornal Granma como "prova de vida". O secretismo em torno
da sua saúde tinham ocasionado vários rumores sobre a gravidade da situação e,
desde então, qualquer ausência mais prolongada dos olhares públicos tem
levantado questões - múltiplas vezes foi dado como morto. Mas, uma década mais
tarde, Fidel continua vivo, seguindo nas sombras as mudanças em Cuba - a mais
importante das quais a normalização das relações com os EUA.
O governo
cubano não preparou uma festa para o 90.º aniversário de Fidel, mas um conjunto
de iniciativas musicais, estando previstos vários concertos com coros infantis
espalhados por toda a ilha para homenagear o ex-presidente. Não foi contudo
anunciada a visita de qualquer líder internacional - há dez anos, festejava ao
lado do seu principal aliado, o então presidente venezuelano, Hugo Chávez (que
viria a morrer em 2013). E também não se sabe se vão ser reveladas novas
imagens de Fidel, uma das pessoas mais influentes no século XX, que ainda marca
a identidade coletiva de Cuba.
Durante os
seus 47 anos no poder, Fidel foi uma presença constante para os cubanos, mas
proibiu as estátuas, retratos ou outros tributos que eram normais em líderes
que apostavam no culto da personalidade. Atualmente, a sua imagem está por todo
o lado, escreve a agência AP, e Fidel é mencionado da mesma forma que José
Martí, o poeta que é o herói da independência de Cuba. Para a nova geração há
até uma nova app de telemóvel que permite aceder a citações dos seus livros e
discursos.
"A
revolução cometeu muitos erros mas o povo cubano é crente em Fidel porque as suas
ideias eram nobres", disse Marisel Avila, uma cantora de 49 anos.
"Temos de recuperar a nossa economia sem nos vendermos, sem negarmos a
nossa história, mas também não podemos viver no passado", acrescentou em
declarações à agência AP.
De Birán
para o mundo
Fidel Castro
nasceu a 13 de agosto de 1926 em Birán, filho de um camponês galego que fez
fortuna na ilha e da sua segunda mulher. Estudou Direito na Universidade de
Havana e quando concorria a um lugar como deputado, em 1952, deu-se o golpe de
Fulgencio Batista que suspendeu as eleições.
A partir da
oposição ao ditador, liderou em 1953 o falhado assalto ao quartel Moncada, pelo
qual seria condenado a 13 anos de prisão, tal como o irmão mais novo, Raúl. Por
pressão popular, acabam exilados no México - onde Fidel conheceu o argentino
Che Guevara. É desse país que lança a revolução, desembarcando em Cuba no iate
Granma em 1956. Depois de uma luta de guerrilha, entra vitorioso em Havana em
1959, assumindo primeiro a chefia do governo e na década de 1970 a presidência.
Pelo meio,
tinha feito a aproximação à União Soviética à medida que se distanciava dos EUA
- que a partir de 1960 instituíram o embargo a Cuba após a nacionalização de
várias empresas. Em 1961, depois da falhada invasão da baía dos Porcos por
parte de opositores cubanos treinados pela CIA, declara o carácter socialista
da revolução - que tenta exportar para outros países na América Latina e
África. Um ano depois, o mundo ficou à beira da guerra nuclear durante a crise
dos mísseis. A ligação a Moscovo seria abalada com o fim da URSS, nos anos
1990, que trouxe a primeira grande crise económica à ilha e obrigou a um
primeiro movimento de abertura, até que o petróleo venezuelano substituiu os
apoios soviéticos.
Mas foi a
doença de Fidel e a chegada ao poder de Raúl que possibilitaram as grandes
mudanças de hoje em Cuba. Sem perder a ideologia e a estrutura comunista, a
ilha está a empreender reformas económicas (alguns dizem demasiado lentamente)
e a aproximar-se do inimigo histórico, os EUA. No último ano, milhares de
turistas norte-americanos visitaram aquela que durante mais de cinco décadas
foi "ilha proibida" e o início dos voos regulares com Cuba deverá
levar ainda mais à Pérola das Caraíbas, possibilitando um crescimento da economia
cubana.
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