POR FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT E MATEUS COUTINHO
Mulher do parlamentar consumiu US$ 854.387,31 em artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas
Na denúncia que entregou à Justiça Federal contra a mulher do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Procuradoria da República sustenta que Cláudia Cruz usou propina paga ao marido no esquema de corrupção da Petrobrás para cobrir elevadas despesas com luxos comprados no exterior. Segundo a acusação, recebida nesta quinta-feira, 9, pelo juiz federal Sérgio Moro, a mulher do parlamentar consumiu US$ 854.387,31 em artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas.
“Os recursos que aportaram na conta de Cláudia Cruz foram utilizados, por exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no exterior”, aponta a Procuradoria, que atribui à ré os crimes de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas.
“Outra parte dos recursos foi destinada para despesas pessoais diversas da família de Cunha, entre elas o pagamento de empresas educacionais responsáveis pelos estudos dos filhos do deputado afastado, como a Malvern College (Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados Unidos).”
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De acordo com a denúncia, Cláudia Cruz ainda manteve depósitos não declarados às repartições federais na offshore Köpek em montante superior a US$ 100 mil entre os anos de 2009 e 2014, o que constitui crime contra o sistema financeiro nacional.
Os procuradores da força-tarefa Lava Jato sustentam que o dinheiro teve origem no esquema de corrupção instalado na diretoria Internacional da Petrobrás. A ação penal proposta na última segunda-feira, 6, foi recebida integralmente nesta quinta-feira, 9, pelo juiz da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que deu publicidade à acusação e determinou nova prisão de João Augusto Rezende Henriques.
Os investigadores apontaram que Cláudia tinha plena consciência dos crimes que praticava e é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014), valor totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
Segundo a Procuradoria, as contas de Eduardo Cunha no exterior eram utilizadas para, ’em segredo a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar propinas, produtos de crimes contra a administração pública praticados pelo deputado hoje afastado da presidência da Câmara’. Por meio da mesma conta Köpek, Cláudia Cruz teria se favorecido de parte de valores de uma propina de cerca de US$ 1,5 milhão que o marido teria recebido para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
Também são acusados nesta denúncia Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da estatal petrolífera, pelo crime de corrupção passiva; João Augusto Rezende Henriques, operador que representava os interesses do PMDB no esquema, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas; e Idalecio Oliveira, empresário português proprietário da CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl), pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA PIERPAOLO BOTTINI
Claudia Cruz responderá às imputações como fez até o momento, colaborando com a Justiça e entregando os documentos necessários à apuração dos fatos. Destaca que não tem qualquer relação com atos de corrupção ou de lavagem de dinheiro, não conhece os demais denunciados e jamais participou ou presenciou negociações ilícitas.
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