ANGUS MCDOWALL, REUTERS
Os planos do reino vão para além da transformação da economia e diminuição da dependência do petróleo. Programa "Visão 2030" também inclui propostas de mudança da organização social, com mais liberdade para as mulheres e menos religião nas escolas
Os radicais planos da Arábia Saudita para ajustar a sua economia nos próximos anos são acompanhados de propostas de transformações sociais que incluem combater a violência doméstica, aumentar o espaço de parques urbanos e reduzir as mortes nas estadas.
A atenção tem estado centrada nas propostas de reformas contidas na “Visão 2030” que visam reduzir a dependência de Riad em relação ao petróleo e incentivar o sector privado, mas algumas das mudanças mais consequentes entre as previstas têm como alvo a sociedade saudita. “O objectivo do ‘Visão 2030’ e de outros programas é mais do que transformar a economia. A intenção é também transformar a sociedade e enfrentar as necessidades da geração mais jovem e as suas aspirações”, disse há dias a um grupo de jornalistas o ministro da Informação, Adel al-Toraifi.
As estritas tradições sociais do reino e o seu rápido desenvolvimento criaram uma nação que valoriza o sentido de comunidade mas tem poucas oportunidades para se reunir em público. As restrições religiosas são particularmente influentes no desenho da sociedade, limitando muito o papel da mulher, impondo regras rígidas de moralidade pública e impedindo alguns esforços do Governo para modernizar os sistemas de educação e de justiça.
Ao mesmo tempo, o crescimento vivido desde a descoberta do petróleo, em 1938, não foi acompanhado pela capacidade dos dirigentes fornecerem serviços e as cidades explodiram de dimensão sem que as necessidades sociais dos seus habitantes tivessem sido tidas em conta.
Num país cujo destino escapa aos seus cidadãos, e onde a diminuição dos lucros do petróleo significa que os horizontes económicos das pessoas deverão contrair-se nos próximos anos, a melhoria da satisfação da população com a vida quotidiana é importante para garantir a estabilidade política da monarquia.
Reformas duras
Reformar a educação é a prioridade, dizem a maioria dos analistas. Também é o mais difícil. Implica agitar a burocracia e mudar a mentalidade de professores muitas vezes treinados para ver a sua profissão através da perspectiva religiosa.
“Os planos parecem-me bons mas preocupa-me que a máquina burocrática não esteja à altura. Tem de haver verdadeira vontade política para levar isto adiante”, afirma Khaled Almaeena, ex-editor dos jornais Arab News e Saudi Gazette.
O plano envolve duplicar a escolarização das crianças entre os três e os seis anos e fornecer novas oportunidades de treino a muitos dos professores. A ambição é melhor a média dos resultados dos estudantes a matemática e a ciências em 15% nos próximos cinco anos. A religião, um grande componente do actual programa, não foi mencionada na apresentação das reformas sobre educação.
Outro objectivo é aumentar o número de sauditas que faz exercício físico semanal de 13 para 20% (a obesidade é um problema). Actualmente, há religiosos que desaprovam o exercício entre as mulheres e a maioria das escolas femininas não oferece educação física. Os ginásios para mulheres estão registados como “centros de saúde”, o que faz com que sejam muitos mais caros. Uma das iniciativas anunciada passa por investir milhões na melhoria dos procedimentos para os centros desportivos femininos obterem licença para funcionar.
Outra área onde as contradições entre a modernização e a tradição (dita islâmica) estão evidentes é no novo foco no combate à violência doméstica. Os planos passam por investir nos serviços para vítimas de violência familiar (que deverão passar de 58 centros para 200), com o objectivo de resolver três quartos dos incidentes até três meses depois da denúncia, e ainda pelo aumento das campanhas públicas sobre o tema.
Mas num país onde a lei é a sharia, numa interpretação ortodoxa, muitos juízes vêem o uso de violência pelos patriarcas de uma família como permitido em diferentes circunstâncias. Recentemente, um líder religioso enunciou na televisão as melhores formas de bater numa mulher sem provocar ferimentos.
As mulheres continuam a ser obrigadas a ter um “guardião” masculino, normalmente o pai, marido ou irmão, que tem o poder de tomar grandes decisões sobre elas, e são ainda impedidas de conduzir.
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