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POR ANDREZA MATAIS, VERA ROSA E FAUSTO MACEDO


Segundo revista 'IstoÉ', senador apontou tentativa de Dilma de interferir na Lava Jato via STJ e disse que Lula ordenou acordo com Cerveró
Delcídio do Amaral. Foto: Alex Silva/Estadão
Delcídio do Amaral. Foto: Alex Silva/Estadão
O senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) fez acordo de delação premiada perante o grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República na Operação Lava Jato. Ele citou vários nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhou os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás, entre outros assuntos. As primeiras revelações do ex-líder do governo fazem parte de um documento preliminar da colaboração.
Nesta fase, o delator indica temas e nomes que pretende citar em seus futuros depoimentos após a homologação do acordo. Delcídio foi preso no dia 25 de novembro do ano passado acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e solto no dia 19 de fevereiro. Desde que saiu da prisão, Delcídio nega ter feito delação premiada.
A revista IstoÉ divulgou os detalhes da delação de Delcídio que teria 400 páginas e trechos do depoimento. O senador acusou a presidente Dilma Rousseff de atuar três vezes para interferir na Operação Lava Jato por meio do Judiciário. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio na delação, segundo a revista.

Cardozo deixou esta semana o ministério alegando sofrer pressões do PT para interferir na Lava Jato. Ele foi nomeado por Dilma para a Advocacia Geral da União (AGU).
Uma das investidas da presidente Dilma passou pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”, informou a IstoÉ. Delcídio contou aos procuradores que a estratégia foi discutida com Dilma no Palácio da Alvorada, residência oficial dos presidentes da República, e que sua tarefa era conversar “com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”, da Andrade Gutierrez. Conforme a IstoÉ, o senador se reuniu com Navarro no Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera. Fato que poderia ser comprovado pelas câmeras de segurança. No STJ, Navarro votou a favor da soltura dos empresários, mas foi voto vencido.
Outros pontos da delação revelados pela IstoÉ:
Dilma. Três supostas tentativas de Dilma Rousseff de interferir na Lava Jato. Segundo a IstoÉ, Delcídio afirmou na delação que um encontro entre a presidente Dilma Rousseff, o então ministro José Eduardo Cardozo e o presidente do STF, Ricardo Levandowski na cidade do Porto, em Portugal, em 07/07/2015 , teve como tema “a mudança nos rumos da Lava Jato. Contudo, a reunião foi uma fracasso, em função do posicionamento retilíneo do ministro Lavandowski, ao afirmar que não se envolveria.”
A segunda tentativa envolveria indicar para uma das vagas no STJ o presidente do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer. Em contrapartida, o ministro convocado para o TJ votaria pela libertação dos acusados Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo. “A investida foi em vão porque Trisotto se negou a assumir tal responsabilidade espúria. Mais um fracasso de José Eduardo em conseguir uma nomeação”, contou a IstoÉ. A terceira tentativa foi a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ.
Pasadena. A presidente Dilma Rousseff tinha conhecimento das irregularidades envolvendo a compra da refinaria nos Estados Unidos: “Dilma Rousseff, como então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de Pasadena e de tudo o que esse encerrava. A alegação de Dilma de que ignorava o expediente habitualmente utilizado em contratos desse tipo, alegando desconhecimento de cláusula como put option, absolutamente convencional, é, no mínimo, questionável. Da mesma forma, discutir um revamp de refinaria que nunca ocorreu, é inadmissível. A tramitação do processo de aquisição de Pasadena durou um dia entre a reunião da Diretoria Executiva e o Conselho de Administração. Delcídio esclarece que a aquisição de Pasadena foi feita com o conhecimento de todos. Sem exceção”. 
 
Lula. Partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ordem para que Delcídio tentasse convencer Nestor Cerveró, preso na Lava Jato, a não implicar José Carlos Bumlai numa eventual delação premiada. Delcídio foi preso ao ser gravado pelo filho de Cerveró prometendo atuar junto a ministros para interferir na Lava Jato.  “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró”. Segundo a IstoÉ, os R$ 50 mil entregues pelo senador ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, saíram do bolso do empresário Maurício Bumlai. No total, foram R$ 250 mil. A IstoÉ diz que a revelação pode indicar que o ex-presidente Lula tentou interferir na Lava Jato, mesmo motivo que levou a prisão de Delcídio. 
Mensalão. Segundo a IstoÉ, Delcídio também contou aos procuradores que em 2006, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci compraram o silêncio do empresário Marcos Valério sobre o esquema do mensalão. O valor prometido foi R$ 250 mil para sanar uma dívida. Valério não teria recebido toda quantia, mas se manteve calado sobre o esquema de compra de apoio político no governo Lula.O senador também mencionou, segundo a revista, ter testemunhado na madrugada do dia 5 de abril de 2006 as “tratativas ilícitas para retirada do relatório da CPI dos Correios (que investigou o mensalão) dos nomes de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acordão com a oposição”. Delcídio foi o presidente da CPI. E citou que a CPI dos Bingos, que funcionou concomitantemente a do mensalão, foi encerrada quando “o governo percebeu que as várias quebras de sigilo levariam à campanha Dilma 2010.” Ele afirmou, conforme a revista, que “orientados pelo tesoureiro de campanha de Dilma, José Di Filippi, os empresários faziam contratos de serviços com as empresas de Adir Assad, um dos alvos da CPI, que repassava recursos para as campanhas eleitorais”.

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