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Conversa da mandatária com ex-presidente sugere manobra para livrá-lo de detenção de Moro. Justiça torna públicas gravações de Lula em que reclama da “República de Curitiba”



São Paulo / Brasília



Manifestantes protestam na av. Paulista, em São Paulo.  AFP
Milhares de pessoas tomaram a avenida Paulista, em São Paulo, nesta quarta feira, para pedir a renúncia de Dilma, depois do vazamento do diálogo entre a presidenta e o ex-presidente Lula. O grampo vazado pelo juiz Sérgio Moro, noticiado a exaustão nas TVs e redes sociais, caiu como uma bomba. Ao telefone, a presidenta avisa que está enviando a Lula o termo de posse para se tornar ministro “e só usa em caso de necessidade”, o que insinua que seria um documento para protegê-lo de uma eventual detenção. O Planalto negou e afirmou que o diálogo se justificou porque o novo ministro da Casa Civil não sabia ainda se compareceria à cerimônia de posse coletiva, então “a Presidenta da República encaminhou para sua assinatura o devido termo de posse. Este só seria utilizado caso confirmada a ausência do ministro”, afirmou em nota.
O conteúdo do diálogo despertou a ira dos manifestantes anti-PT que já haviam lotado a Paulista neste último domingo, dia 13. Por volta das 20 horas, cerca de 1500 manifestantes, segundo a Polícia Militar, começaram a se reunião na frente do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Uma hora depois, mais de 5.000 pessoas se espalhavam pela avenida cantando músicas de apoio ao juiz Sergio Moro e protestando contra Lula e o Governo do PT.
Bandeiras do Brasil e camisas da seleção brasileiras se misturaram com a roupa social de quem acabava de sair do trabalho e adiou a volta para casa. Uma ciclista, que pedia calma no meio da avenida, foi xingada de “petista filha da puta” por outros manifestante, um ato hostil presenciado pela reportagem.
Na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a poucos metros do Museu, patos amarelos gigantes foram inflados como no domingo. A Federação colocou caixas de som viradas para a avenida e tocou o hino nacional, que foi entoado com toda a força pelos manifestantes. Estendeu, ainda, uma faixa preta gigante onde se lia “Renúncia Já”, levando as pessoas presentes ao ato ao delírio.
O protesto parou a avenida Paulista entre a rua Peixoto Gomide e a Alameda Campinas, um trecho de cerca de um quilômetro. Em vários bairros se ouviram panelaços e buzinaços para mostrar indignação com a nomeação de Lula ministro e com a divulgação dos áudios.
Em Brasília, outra multidão se aglutinou em frente ao Palácio do Planalto com cartazes contrários a Dilma, enquanto parlamentares de oposição cobraram aos gritos a renúncia no plenário da Câmara. O protesto começou por volta das 17 horas já para protestar contra a nomeação de Lula para ministro da Casa Civil. Cresceu depois da liberação dos áudios pela Justiça. Milhares de pessoas se concentraram, erguendo bandeiras do Brasil e faixas onde se lia “Fora Dilma”, e réplicas da Constituição. Em seguida, seguiram em marcha até a frente do Congresso.
Notícias da Globo News mostram que ao menos 15 cidades promoveram protestos, ainda que mais modestos, para aumentar o coro das manifestações. A divulgação dos diálogos telefônicos de Lula com vários interlocutores aumentou a fúria dos manifestantes anti-PT. “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos uma Superior Tribunal da Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado”, diz o ex-presidente a certa altura numa conversa com a presidenta Dilma. “Eu, sinceramente, tô assustado com a 'República de Curitiba', completou Lula.
Em outro momento, numa conversa com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o ex-presidente afirma que os “meninos da Polícia Federal e esses meninos do Ministério Público, eles se sentem enviado de Deus”. Em seguida ele completa: “É uma coisa absurda. Uma hora nós vamos conversar um pouco porque eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-los no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras”.
O áudio das dezenas de conversas foram repetidas exaustivamente na televisão. A ação é uma bomba para o Palácio do Planalto, que apesar do barulho, divulgou que a posse do ex-presidente como ministro para esta quinta, às dez da manhã – inicialmente estava marcada para a próxima terça. Dilma havia saído por volta das 18 horas e seguiu para a sua residência, no Palácio da Alvorada.
O Governo estava respirando aliviado com a nomeação de Lula para a Casa Civil quando se deparou com a “bomba” das escutas telefônicas divulgadas com a autorização do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. A presidenta já havia encerrado o expediente, retornado para o Palácio da Alvorada, quando o caso veio à tona.
Em cerca de uma hora, parte da cúpula governista estava reunida na residência oficial. Rousseff convocou o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e outros ministros para definir como se posicionariam. A solução foi fazer uma verdadeira ginástica para tentar explicar por qual razão a presidenta queria enviar o termo de posse para Lula mesmo antes de ele ser oficialmente empossado. Conforme os investigadores da operação Lava Jato, o objetivo era fazer com que ele evitasse ser preso por uma decisão de Moro.
Em princípio, a posse de Lula estava marcada para a próxima terça-feira. Seria uma cerimônia exclusiva, com toda a pompa que um ex-líder de Estado. Porém, a saída para Rousseff ter uma justificativa foi fazer um evento coletivo, às 10h desta terça-feira, no qual seriam empossados Lula na Casa Civil, Mauro Lopes, na Aviação Civil, Jaques Wagner, na chefia de Gabinete da Presidenta, e Eugênio Aragão, na Justiça. Em princípio, o evento está mantido.
Manifestantes prometem que estarão na frente do Palácio do Planalto no momento do evento. O Batalhão da Guarda Presidencial, formada por militares do Exército, já foi convocado para reforçar a segurança.
Leia na íntegra o diálogo entre Dilma e Lula que levou o juiz Sérgio Moro a concluir que poderia haver um movimento para proteger o ex-presidente.
Dilma: Alô
Lula: Alô
Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
Lula: Fala, querida. Ahn?
Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
Dilma: Tá?!
Lula: Tá bom.
Dilma: Tchau.
Lula: Tchau, querida.
Outro trecho também sugere, aos olhos de Moro, uma potencial tentativa de tráfico de influência, em um trecho do diálogo de Lula com o ministro Jaques Wagner, segundo relatório da Polícia Federal, em que a ministra do Supremo, Rosa Weber, é citada:
 Lula: Mas viu querido, “ela” tá falando dessa reunião, ô Wagner eu queria que você visse agora, falar com “ela”, já que “ela” tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram.
Wagner: Tá bom, falou! Combinado, valeu querido, um abraço. Um abraço na Marisa e nos meninos...


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