Mirthyani Bezerra
Do UOL, em São Paulo
“Zika não atingiu o meu bebê"Grávida descobriu estar com vírus na gestação e filha nasceu saudável.
- Arquivo PessoalGeovanna está sendo acompanhada por uma equipe multidisciplinar, porque ainda há riscos de ela vir a desenvolver problemas neurológicos
No telejornal, o repórter falava de uma possível relação do aumento do número de bebês nascidos com uma má-formação na cabeça com o vírus da zika, pouco estudado pela ciência. Aos sete meses de gravidez, Gisele Gonçalves de Lima, 22, estava em casa com o marido, em Jundiaí (SP), quando a notícia a deixou paralisada.
Ela tinha ouvido falar do vírus pela primeira vez em agosto do ano passado, da boca de uma médica em um pronto-socorro no interior de Alagoas. Estava com a barriga saliente, de quatro meses de gestação, quando durante uma viagem feita à cidade natal, Coité do Noia, Gisele começou a sentir febre, muitas dores no corpo, principalmente nas articulações, tontura. "Dois dias depois apareceram umas manchas vermelhas no meu corpo que coçavam bastante. Fiquei com medo e procurei um médico", conta.
Se para tomar banho em Coité do Noia, município de 12 mil habitantes a 93 km de Maceió, é preciso carregar água em balde e as casas não possuem saneamento básico --o que torna o local ambiente propício para o desenvolvimento do Aedes Aegypti --, imagine os exames laboratoriais por lá.
Tinha muita gente com os mesmos sintomas que eu lá, mas elas ficavam em casa, esperando passar. A médica suspeitou que era dengue e me mandou fazer os exames. Eu fui para Arapiraca (cidade vizinha) e o exame deu que eu tinha zika
Gisele só ligou as peças do quebra-cabeça naquela noite em casa com o marido, o pedreiro José Vicente, 25, vendo o telejornal, já com a barriga enorme. Ela sentiu medo, muito medo, e correu para o hospital para saber se estava tudo bem com o bebê. "Não dava mais para medir a cabecinha dela. Ela já estava quase pronta para nascer. Os médicos não tinham como me dizer nada", contou.
Meu marido não gostava de falar sobre o assunto
Os dias que faltavam para o nascimento da irmã do pequeno Kayk Mateus, 5, foram um verdadeiro calvário para a família de Gisele. Ninguém falava sobre o assunto, como se falar sobre ele fosse fazer as hipóteses virarem realidade. "A gente não conversava sobre a possibilidade de ela nascer com microcefalia. Meu marido não gostava de falar sobre o assunto. Quando passava algo na televisão, ele me dizia para ter fé que ela ia nascer bem, saudável", diz.
No dia 17 de dezembro, após seis horas de dores intensas, a médica se assustou ao tirar a pequena Geovanna de dentro de Gisele. O coração da mãe gelou. Mas, foi só o cordão umbilical que havia estourado. O parto aconteceu no Hospital Universitário de Jundiaí, cheio de médicos residentes.
"Colocaram ela em cima de mim e nesse momento eu senti alívio, chorei muito, agradeci a Deus."
Alívio? Em partes. Desde que Geovanna nasceu, ela vive rodeada de médicos.
Mal fui para o quarto com ela e já apareceram os médicos fazendo exames, cheios de perguntas. Já me falaram que a doença é nova, que não há informação, que ainda há a possibilidade de ela não se desenvolver bem. Eu tenho medo, é tudo muito novo.
Geovanna passou uma semana na UTI neonatal tratando um quadro de anemia, que os médicos ainda não sabem se teve algum tipo de relação com a zika. A menina teve alta com a mãe oito dias depois do parto.
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