POR JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT, MATEUS COUTINHO E FAUSTO MACEDO
Documento indica que a maior empreiteira do País fez depósitos em offshores que transferiram recursos para Nelson Martins Ribeiro, custodiado temporariamente na Lava Jato
O Ministério Público Federal afirma, em relatório anexado aos autos da Operação Lava Jato, que o doleiro Nelson Martins Ribeiro ‘lavou dinheiro em favor do Grupo Odebrecht e de funcionários corrompidos da Petrobrás’ como o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Nelson Martins Ribeiro foi preso na segunda-feira, 16, na Operação Corrosão, 20ª fase da Lava Jato.
Documento
O documento da Procuradoria da República cita também o doleiro Bernardo Freiburghaus, apontado pelos investigadores como operador de propinas da Odebrecht. “Nelson Martins Ribeiro, por intermédio de sua casa de câmbio N e A Viagens Turismo e Câmbio LTDA., é um operador financeiro que, juntamente com Bernardo Freiburghaus, desenvolveu diversos atos de lavagem transnacional de ativos em favor do Grupo Odebrecht por intermédio da realização de transações financeiras ilícitas no exterior a partir de contas sediadas nas Ilhas Cayman em nome das offshores Crown International LTD, Enterprise Tech Industries Inc. e Apple Capital Corp”, sustenta a Procuradoria da República.
A investigação do Ministério Público Federal partiu de documentos das contas bancárias de Paulo Roberto Costa, mantidas na Suíça. Segundo os procuradores, as offshores Quinus Services SA e Sygnus Assets SA, controladas pelo ex-diretor, um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobrás, recebiam ‘altos repasses’.
As transferência eram oriundas de contas mantidas em instituições bancárias das Ilhas Cayman em nome das empresas Crown International LTD, Enterprise Tech Industries e Apple Capital Corp. Os investigadores afirmam que estas três empresas depositaram US$ 5,6 milhões nas contas de Paulo Roberto Costa, entre 2009 e 2012. Os repasses ‘são representativos de recebimentos de propinas’ para a Procuradoria. A Sygnus recebeu US$ 4.479.024 milhões e a Quinus, US$ 1.184.801.
Além dos depósitos feitos a Paulo Roberto Costa, os procuradores sustentam que entre 22 de agosto de 2008 e 26 de outubro de 2012 as contas de Nelson Martins Ribeiro ‘receberam recursos’ das offshores Klienfeld Services LTD., Innovation Research, Trident Inter Trading e Constructora International Del Sur que, por sua vez, ‘receberam valores das empresas do Grupo Odebrecht’.
“Em diversos casos é possível verificar nas contas objeto da cooperação (internacional – Crown International, Enterprise Tech Industries e Apple) aportes oriundos de contas nas quais as empresas do Grupo Odebrecht depositavam, aos quais se sucediam, poucos dias depois, depósitos em favor de Paulo Roberto Costa nas contas Quinus Services SA e Sygnus Assets SA”, aponta o documento subscrito por 11 procuradores da força-tarefa da Lava Jato.
O relatório do Ministério Público Federal aponta também que Nelson Martins Ribeiro manteve ‘diversas conversações’ entre 2013 e 2014 com o doleiro Bernardo Freiburghaus, apontado pelos investigadores como operador financeiro da Odebrecht. Segundo a Procuradoria da República, o número telefônico de Nelson Martins Ribeiro ‘efetuou e recebeu mais de 30 chamadas dos terminais pertencentes’ a Bernardo Freiburghaus.
Um dos delatores do esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014, Paulo Roberto Costa admitiu ter recebido propinas. O Ministério Público Federal recebeu da Suíça extratos bancários de contas em que o ex-diretor mantinha, diretamente ou por meio de parentes, aproximadamente US$ 26 milhões. “Todo o dinheiro de Paulo Roberto Costa na Suíça, como ele confessou, era produto e proveito dos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro”, destaca a Procuradoria.
A reportagem procurou o advogado Leandro Bezerra Aguiar Ferreira, que defende Nelson Martins Ribeiro, por telefone e mensagem de texto, mas ele não retornou ao contato.
COM A ADVOGADA FERNANDA TELLES, ADVOGADA DE BERNARDO FREIBURGHAUS
O Bernardo é agente autônomo de investimentos, sócio de uma empresa, Diagonal Investimentos, distribuidora de fundos, administrados por várias instituições financeiras. Ele jamais atuou como intermediador e operador de propinas, tão pouco tem poderes para abrir contas no exterior ou aceitar depósitos ou fazer transferências. Tanto é assim que, o material enviado por autoridades suíças sequer menciona o nome do Bernardo nas contas das muitas empresas offshores investigadas.
COM A PALAVRA, A ODEBRECHT
“A Odebrecht refuta as imputações feitas pelo Ministério Público Federal. A empresa não tem relacionamento com a pessoa citada, tampouco é detentora das contas em questão.”
Fonte:
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