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Considerado um ícone do jornalismo potiguar fala sobre a força da comunicação, problemas com Micarla de Sousa e atual momento do jornalismo policial
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Conrado Carlos
Editor de cultura
Na tarde de ontem (6), peguei uma lotação ali nas ‘Mangueiras’, ao lado do Nordestão de Igapó, em direção a Rio do Fogo, cidade distante 70 km de Natal, com a missão de entrevistar um dos ícones do jornalismo potiguar: Josimar Gomes da Silva, o Jota Gomes. Desde fevereiro passado, ele e sua esposa Graciete ocupam uma casa à beira mar na bela praia, após a professora de português ser contratada pela rede municipal de ensino. “Tem dia que eu acordo as quatro, cinco horas da manhã e vou ali me deitar na areia, só pra relaxar”. Aos 58 anos de idade, Jota tem uma saúde frágil, decorrente de uma patologia grave e progressiva no coração, que invalida seu ventrículo esquerdo – o que na prática determina insuficiência de oxigenação de sangue para tudo quanto é canto. Jota precisa de um transplante do músculo-mor, mas não do juízo, ainda pronto para embates sobre temas diversos. O pente de sua metralhadora retórica continua cheio de bala, quente como se tivesse acabado de usar.
Dos tempos em que era a única voz ouvida por presos no mítico Caldeirão do Diabo, a extinta Colônia Penal Dr. João Chaves, mantém a lucidez sobre a segurança pública do Estado. Era disso que eu estava atrás. Neste dia 7 de abril que homenageia a classe jornalística, desvelar a queda e a glória de um homem que marcou época na televisão potiguar é não só atrativo para o leitor, como um estímulo para reflexões acerca de uma profissão sempre questionada. Jota Gomes contabiliza seis infartos, três dias de coma profundo, três pontes de safena e duas mamárias, três stents no peito e uma lobectomia – que vem a ser a retirada de apenas um lobo pulmonar, quando uma parte do pulmão é afetada por um enfisema ou tumor. Cigarro e maconha ele garante nunca ter sido viciado. Só com o álcool manteve caso tórrido, desses que merecem música e poesia. “Sempre bebi Campari com leite, cachaça, mas não sou bebedor de cerveja. Hoje eu bebo menos. Antes eu viva para beber. Mas aqui é um convite, né?”.
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O ‘aqui’ é Rio do Fogo, lugar para onde os desafetos afirmam que ele se bandeou com medo de ameaças. Foi no município que possui três praias turísticas, a saber, Pititinga, Zumbi e Punaú, que ele foi em busca de paz – sob insistência dos amigos Pedro e Laerte Paiva e Josiane Rodrigues, respectivamente, ex e atual prefeito, e a presidente da câmara dos dez mil riofoguenses. “Essa conversa de ameaça é besteira, não aconteceu. Antigamente aconteciam ameaças que eu atribuo muito mais a brincadeiras de amigos, do que aos verdadeiros bandidos”. Na única vez em que a coisa ficou séria, segundo o próprio, as palavras intimidadoras partiram do então secretário de defesa civil, General José Carlos Leite. Estávamos na cozinha de sua casa. Tínhamos acabado de trocar o som das ondas pelo de umas galinhas criadas no quintal, com almoço posto (arroz, pirão, panelada, carne assada e uma garrafa de Pepsi), na hora de sua versão.
“Ele tentou me agredir, partiu pra cima de mim, porque eu disse ‘General, vá olhar aquelas bundas bonitas lá da praia de Ipanema, onde você estava morando, porque de segurança pública do Rio Grande do Norte você não sabe de nada’. Eu nem desci do carro, mas estava doido que ele batesse porque, para mim, ia ser matéria nacional, como foi. Foi o destaque do Aqui Agora nacional”. Quem conhece Jota Gomes sabe que atrevimento e falta de papa na língua divide espaço com a simpatia constante em sua personalidade. Órfão de pai e mãe aos 27 anos, ele começou a sofrer traumas psicológicos ainda aos 17, com uma viuvez precoce. “Eu era um menino quando casei. Quando ela morreu, fui embora para São Paulo, morei em Roraima, no Rio Grande do Sul e fui bater até em Rosário, na Argentina”. Nascido em Almino Afonso, batizado em Umarizal, registrado em Martins e criado em Mossoró, ele é filho de uma lavadeira com um ferroviário.
Jota queria ser engenheiro agrônomo, ainda que a facilidade para bancar o ator e fazer imitações na escola tenha acalentado sonhos na área de comunicação.  “Eu gosto de escrever, gosto da língua portuguesa. Sempre fui destaque nos colégios que passei, em teatro infantil, em imitar locutor, cantor. Quando eu ouvia rádio, eu queria saber como é que aquele homem ou aquela mulher estava ali dentro daquele receptorzinho. Aquilo não só foi me despertando a curiosidade da prática, como a curiosidade do profissionalismo. Eu queria me tornar um rádio falante, que era como eu chamava a profissão”. E assim foi. Em 1977, na rádio Difusora de Mossoró, ele estreou o programa Cidade Aflita, preâmbulo do que lhe daria a fama maior. O período na Paulicéia serviu de apuro profissional, o que lhe valeu o convite para vir a Natal sete anos depois, para compor o sistema Tropical e iniciar uma das mais interessantes batalhas por audiência no rádio, contra Ubiratan Camilo, da Cabugi.
Equipe do programa Patrulha Policial, nos anos 90. Foto: Cedida
Equipe do programa Patrulha Policial, nos anos 90. Foto: Cedida
Sucesso na televisão
É impossível um potiguar com mais de 35, 40 anos desconhecer Jota Gomes – hoje comentarista esportivo da rádio Agreste, em Santo Antônio. Ao final de entrevista, ele foi me deixar em Touros, de onde peguei o ônibus de volta para Natal. No trajeto (17 km), passamos por dentro da cidade de Rio do Fogo. Em ambas as localidades, fomos abordados por moradores aos gritos, ávidos por um mero cumprimento. Tudo se deve aos oito anos de TV Ponta Negra. Foi na emissora do falecido Senador Carlos Alberto que o sujeito de estatura baixa, cabelo cortado à moda sertaneja e garganta nervosa virou uma espécie de astro do jornalismo local. “Eu nunca comprava um cinto, um sapato, uma meia, uma camisa. A TV me dava de tudo. Ela tinha umas permutas, que me dava gravatas, roupa social. Sem contar que eu fazia comercial de supermercado, de loja de carro. Carlos Alberto pode ter sido tudo na vida. Não vou discutir a vida pessoal dele. Entretanto, eu fui muito prestigiado por ele. Sempre tive um bom relacionamento com ele e com a família. Só com Micarla [de Sousa, ex-prefeita de Natal] que eu tive um probleminha”.
Boa parte da classe jornalística sabe dessa história – nas versões simples e estendidas dos fatos. Jota Gomes e sua equipe, dentre os quais o hoje também popular repórter investigativo Genésio Pitanga, estavam em disparada para cobrir três pautas em uma manhã. Duas delas na João Chaves: a prisão de uma dupla de falsificadores e o choque entre os endemoniados ‘Chocolate’ e Fábio Cara-de-Jaca, que culminou com a morte deste. A terceira era um ‘crime menor’ no Paço da Pátria. Eis que acontece um acidente entre um trem e um fusca, congestionando a rota para a zona Norte, o que atrasou o cronograma e obrigou uma ligação urgente para a redação para tentar uma reposição no último compromisso. Sem celulares, orelhões faziam a vez da modernidade. Como a pressão do tempo é o maior tormento de um jornalista, ficou decidido que o editor seria contatado do telefone da própria Colônia Penal. Foi neste momento que a vida de Jota Gomes sofreu uma transformação inesperada.
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Ligação feita, um funcionário do presídio teria ironizado o ato, como uma debilidade hierárquica, uma dependência patronal. É assim que ele termina de contar o episódio. “Um soldado lá, não sei se Miguel, se Rafael, disse que eu tinha muito medo de Carlos Alberto, de perder o emprego, pois tinha que justificar tanto, me humilhando, só porque eu não ia fazer uma matéria. Só que ele disse isso num tom de brincadeira, completamente sem conhecer o tempo para a gente, jornalista. Eu disse: ‘Rapaz, você não me conhece. Medo é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário. Para mim tanto faz eu dialogar com presidente, delegado, bandido, policial, canceroso, aidético, canalha, Micarla, Carlos Alberto’. Aí foram dizer para Micarla, eu acho que foi um dos meninos da minha equipe, que eu tinha chamado Carlos Alberto de canalha e canceroso, isso no auge da doença dele [o senador morreu em 1998 de leucemia]. Fui demitido por justa causa”.
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Cobertura atual
O prejuízo seria maior. Segundo Jota Gomes, o senador Carlos Alberto teria lhe dado um apartamento em Lagoa Nova, como mérito pelo bom trabalho, dentro de sua notória generosidade. “Ele pegou a chave e disse: ‘Tá aqui, transfira para seu nome, é seu. No dia que você sair da TV fica pela metade da rescisão”.  Quis a desorganização pessoal que o gesto burocrático fosse negligenciado, para sua futura lamentação. Na confusão com Micarla de Sousa, sempre de acordo com o autor do bordão Na Marca da Exclusividade, o imóvel foi tomado, quase com ares de comédia pastelão. “Eu estava chegando em casa, entrei na rua, quando vi uns cacarecos na calçada. Eu disse: ‘Ei, eu conheço aquilo ali’. Estavam jogando fora tudo que era meu. O erro foi meu, em não ter transferido o apartamento para meu nome”.  A paz teria sido selada durante a campanha eleitoral de 2008.
Crítica sustentada ele volta para a cobertura jornalística da segurança pública atual. Sobretudo na tevê. Correm boatos em redes sociais sobre um atrito entre o vigente e o primeiro apresentador do Patrulha Policial, na TV Ponta Negra, Cyro Robson e Mário César, na ordem. Este teria vindo de Boa Vista, onde é vereador e líder de audiência na televisão de Roraima, para visitar amigos na emissora natalense. E aquele teria recusado entrevista-lo, com fervor. Se ciente ou não da peleja, ou se direcionado ou não para o ‘Papinha’, Jota Gomes ‘soltou o verbo': “Pra mim, ele [Mário César] é o maior apresentador da linha investigativa que o Rio Grande do Norte já teve. O jornalismo investigativo atual, que cobre a segurança pública, é falho. Eu não posso acreditar numa reportagem policial cujo autor não sabe diferenciar o que um estupro de um atentado violento ao pudor. Só existe estupro, o artigo 213, quando é sexo oposto. Sendo do mesmo sexo, jamais haverá estupro. Um homem não estupra um garoto de tantos anos, é atentado violento ao pudor”.

Ele segue com sua acidez verbal característica, famosa por sair de um cara que afirma que o Código Penal foi e é sua revista em quadrinhos. Jota Gomes é duro, por vezes, debochado em seus comentários, ainda que se esforce em controlar o que diz sobre o meio que atuou. “Quando você se propõe a apresentar um programa policial você vai mostrar o lado negro da vida. Vai mostrar uma família enlutada por um ente perdido na violência, e uma outra família destroçada porque está vendo um ente querido procurado pela polícia por ter sido o autor daquele ato delituoso. Aí você fica se balançando, se requebrando, contando piada? Um apresentador de programa ficar ameaçando, dizendo ‘Se eu tivesse aí eu ia mostrar o que é um homem, ia bater na sua cara’. Um desembargador, um ministro do Supremo não lhe dado o direito de fazer isso. Então você vai se trocar com um bandido?”. Polêmica armada, fica a lembrança de um jornalista-celebridade, com força para movimentar tanto o poder público, quanto a cafua cheia de bandido.  Gostem ou não, Jota Gomes é para poucos.


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