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Copa

Dicionário de dois Brasis: A a L

VEJA contrasta o Brasil de 1950 com o de 2014 em quase todos os domínios da vida — estética, cultura, economia, política, comportamento e, claro, futebol

Rinaldo Gama
NO RIO… O Maracanã na inauguração: andaimes no meio dos torcedores. E EM SÃO PAULO… arquibancadas provisórias do Itaquerão: sem teste
NO RIO… O Maracanã na inauguração: andaimes no meio dos torcedores. E EM SÃO PAULO… arquibancadas provisórias do Itaquerão: sem teste (Acervo/Collection Herculano Gomes/Suderj / Rodrigo Gazzanel/Futurapress/Folhapress)
Imagine a cena de um filme de ficção científica em que um torcedor fecha os olhos no Maracanã em 24 de junho de 1950, data de abertura do primeiro Mundial realizado aqui, e quando volta a abri-los está no Itaquerão, nesta quinta-feira 12, palco do primeiro jogo desta Copa. O que se verá nas próximas páginas é a tentativa de recriar com fotografias e textos a estupenda experiência sensorial daquele choque do futuro do personagem fictício. A seguir, de A a Z, VEJA contrasta o Brasil de 1950 com o de 2014 em quase todos os domínios da vida — estética, cultura, economia, política, comportamento e, claro, futebol. Alguns vícios brasileiros, atraso, por exemplo, parecem invencíveis. Mas o resultado da caminhada civilizatória desses 64 anos que se passaram desde a Copa de 50 é, como se verá, animador. Abaixo as letras de A a L. As letras de M a Z serão publicadas neste domingo
AAtraso
​​No futebol, o time que atrasa a bola para o goleiro costuma ser vaiado. Sobram vaias para o Brasil na organização de seus dois Mundiais. Em 1950, a 39 dias da abertura da Copa, não se sabia qual seria a cidade-sede do Nordeste. Projetado para ser o maior estádio do planeta, o Maracanã só foi inaugurado uma semana antes do início da competição. Inacabado. Em 2014, a um mês da primeira partida, o país tinha concluído menos da metade das metas que havia se comprometido a cumprir. E, a onze dias de a bola começar a rolar, o Itaquerão, palco da estreia, não pôde ser inteiramente testado pela Fifa. Vaias, vaias.
BBibi Ferreira
Estadão Conteúdo
Bibi Ferreira
LONGEVIDADE – A atriz e cantora em 1950 e hoje; na ativa
Às vésperas do primeiro Mundial no Brasil, a companhia de Bibi Ferreira estreou a peçaEscândalos 1950. Considerada uma superprodução para a época, a revista tinha um quadro dedicado ao torneio. “A Mara Rúbia simbolizava a Copa e descia do palco toda vestida de dourado. Era desejada por todos, como seria a Jules Rimet nos gramados”, lembra a atriz e cantora. Ela, no entanto, não guarda boas recordações daquela montagem. “O teatro em que estávamos pegou fogo. Perdi tudo e precisei pedir dinheiro emprestado para sobreviver.” Aos 92 anos, a carioca segue na ativa: acaba de estrear em São Paulo Bibi, Histórias e Canções. Como se vê, quem supõe que o gosto — e o talento — dos brasileiros por musicais seja algo recente está enganado.
Burocracia
O título, estampado na primeira página do jornal O Globo de 3 de fevereiro de 1950, intrigava: “As uvas do pobre e os pêssegos dos granfinos”. O texto, entre irônico e arrastado, comentava de que modo a burocracia, essa impertinência do Brasil, impedia o transporte de uvas pelo território nacional. Barcos estrangeiros estavam impedidos de transportar 30 000 caixas de uvas gaúchas, que apodreciam. Enquanto isso, pêssegos, mais caros, iam de avião. A burocracia, como se sabe, ainda atrapalha os negócios em 2014. Navios de cabotagem precisam cumprir doze normas burocráticas, sem muito sentido — nos EUA, basta declarar quem e o que está a bordo. É um dos motivos de o transporte de carga no país ser predominantemente rodoviário.
CConstituição
Getty Images / Reuters
Constituição
A charge acima (O Globo, 1950) alfineta o iminente retorno de Getúlio Vargas ao poder. A Constituição hoje não corre risco. A discussão recorrente é sobre a judicialização da política.
DDutra e Dilma
Getty Images / Reuters
Dutra e Dilma
VENDO FANTASMAS – Ano eleitoral: volta, Vargas; volta, Lula
Assim como agora, a Copa de 1950 aconteceu em ano eleitoral. O general Eurico Gaspar Dutra, que havia assumido a Presidência quatro anos antes, vivia momentos de apreensão. Com a inflação em alta e a crise energética fustigando o país (leia o verbete Racionamento), Dutra tinha na volta de Getúlio Vargas, a quem ajudara a depor em 1945, um fantasma de carne e osso. Seu candidato era o mineiro Cristiano Machado, eleito deputado constituinte em 1946. Sessenta e quatro anos depois, Dilma Rousseff atravessa fase semelhante — talvez mais grave porque tenta a reeleição. Além de ter de driblar os simpatizantes do “Volta, Lula” — o ex-presidente que a levou ao Planalto —, recebe críticas por não controlar bem a inflação e, apesar de o país ser abundante em recursos renováveis, um racionamento não é descartado por falhas no planejamento.
EEstética
Estética
As mulheres de 1950 preferiam cabelos arrumadinhos, com todos os fios mantidos no devido lugar à base de muito laquê (spray fixador). Os penteados tinham sempre algum volume e o rabo de cavalo despontava como nova tendência, depois que a atriz Helen Gallagher o tornara moda nos Estados Unidos. Na maquiagem, a pele era pálida, sem o rosado do blush; os olhos, destacados com delineador; e os lábios, coloridos em tons de vermelho. Hoje, equipamentos práticos facilitam a tarefa de se embelezar. A maioria das mulheres recorre à chapinha para eliminar qualquer traço de volume nos cabelos. Elas preferem usá-los lisos. A maquiagem é usada com parcimônia, buscando um resultado mais natural — e que transmita um ar saudável.
F
Com 126,7 milhões de fiéis, o Brasil é hoje o maior país católico do planeta. Em 1950, com 48,5 milhões de brasileiros que declaravam pertencer à fé romana, já ocupávamos o primeiro lugar na classificação internacional das nações católicas. Um olhar mais profundo, porém, revela um cenário um pouco diferente. De lá para cá, a proporção de católicos em relação à população geral caiu drasticamente. Há sessenta anos, eles representavam um bloco monolítico, com 93,4%. Agora, são 65%. O rebanho vem sendo ceifado pelo avanço acelerado de outros credos, sobretudo dos evangélicos, que despontaram a partir dos anos 90. Os espíritas cresceram, mas pouco: de 1,59% para 2,17% da população.
GGeopolítica
Corbis/Latinstock / Reuters
Geopolítica
No dia seguinte à abertura da Copa de 1950, os jornais brasileiros noticiavam a invasão da Coreia do Sul, aliada dos Estados Unidos, pela comunista Coreia do Norte. O Brasil resistiu à pressão americana para mandar tropas. O jogo não é mais capitalismo x comunismo, mas a geopolítica mundial afeta o Brasil. Edward Snowden revelou que Dilma foi espionada, e a presidente cancelou sua visita aos EUA.
Gasolina
A gasolina, importada, custava 1,98 real o litro. A Petrobras só seria criada três anos depois — mas o movimento “O petróleo é nosso” estava nas ruas. Hoje, o Brasil produz 1,9 milhão de barris de petróleo por dia, mas, mesmo subsidiada, a gasolina, ainda importada, custa quase 50% a mais e vale 2,80 reais o litro nos postos. É difícil entender esse quadro. Uma CPI do Senado apura a corrupção na Petrobras.
Gordura
A obesidade não preocupava, e a hipercalórica gemada era sucesso entre as crianças. A sorveteria Kibon tinha a marca semipronta mais popular de gemada, anunciada como “alimento completo” e de fácil preparo. Hoje, 39% das crianças brasileiras estão acima do peso e as dietas calóricas são desaconselhadas para elas pelos médicos.
HHino
Frederico Rosario/Folhapress
Hino
PERDA DE IDENTIDADE – A brasilidade de Lamartine Babo deu lugar ao pop de Claudia Leitte
A melodia que embalou a Copa de 1950 foi a Marcha do Scratch Brasileiro, composta por Lamartine Babo e sucesso na voz de Sílvio Caldas: “Eu sou brasileiro, tu és brasileiro (...) Vamos torcer com fé”. Neste ano, além da música oficial, há todo um álbum em homenagem ao torneio. A canção-tema, We Are One, interpretada pelo rapper Pitbull, com Jennifer Lopez e Claudia Leitte, é um pop eletrônico que só lembra o Brasil nos escassos trechos cantados pela estrela nacional e nas batidas do Olodum.
IIngressos
Ingressos
MUITO MAIS CARO – Um ingresso hoje para a final sai por 1 980 reais
O ingresso mais caro para a final da Copa de 1950 custava 150 cruzeiros, o equivalente a 154 reais. Com o salário mínimo de então (380 cruzeiros, ou 390 reais), era possível comprar duas entradas — e ainda sobrava algum para a pipoca. Hoje, ver a decisão do Mundial na categoria 1, a mais cara do Maracanã, custa 1 980 reais. O salário mínimo de 2014 (724 reais) não cobre metade de um ingresso.
JJoão e John
Maria de Lourdes Teixeira/Folhapress / Gilberto Tadday
João e John
MENOS POESIA – João Cabral de Melo Neto e John Green
O destaque literário de 1950 foi O Cão sem Plumas, do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Hoje, a poesia não mobiliza mais. O líder de vendas de livros no Brasil é o americano John Green, autor de A Culpa É das Estrelas, um romance juvenil.
KKombi
Divulgação / Jonne Roriz
Kombi
FIM DE LINHA – O modelo da VW: 63 anos de história no país
As três primeiras chegaram prontas ao Brasil em 1950. Três anos depois, começaram a ser montadas aqui. A perua da VW foi aposentada em 2013. Hoje, o Brasil produz 3,7 milhões de veículos das marcas mais famosas do mundo, como a alemã BMW.
LLei da Copa
Só na antevéspera do início da Copa de 1950 o comitê organizador vetou a entrada, nos estádios, de fogos de artifício, garrafas e laranjas, das quais jogadores e juízes eram alvos contumazes. A Lei da Copa de 2014, sancionada há dois anos pela presidente Dilma, teve foco mais comercial, reservando à Fifa os direitos de uso de termos como “pagode” e “Brasil 2014”.
Loteria
O ganhador do grande prêmio da Loteria Federal em 1950 recebia o equivalente a 5 milhões de reais. Dava para comprar seis apartamentos de frente para o mar em Copacabana. A M­­ega-Sena já pagou 244 milhões de reais. É muito mais dinheiro, e Copacabana perdeu prestígio para Ipanema e Leblon. O felizardo de hoje poderia comprar 87 apartamentos em Copacabana.
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