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Por: Roberto Campello

Protesto tem objetivo de continuar pressão pela melhoria dos hospitais e das condições de trabalho dos profissionais. Foto: José Aldenir
Às vésperas do Carnaval, os médicos do Estado colocaram o bloco na rua em protesto contra o Governo do Estado e em apoio ao presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremern), o cirurgião Jeancarlo Cavalcante. Ao invés da festa, o luto, uma vez que não há nenhum motivo de alegria para comemorar. A crise da saúde, em especial a situação caótica da maior unidade hospitalar do Rio Grande do Norte, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, foi o enredo dos manifestantes, no protesto intitulado Marcha do Fio de Aço.
Ao som de palavras de ordem em apoio ao presidente do Cremern, Jeancarlo Cavalcante, “Doutor Jean é nosso amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”, centenas de manifestantes, entre profissionais de saúde, em sua maioria médicos, representantes da sociedade civil organizada, estudantes, políticos e apoiadores do movimento, saíram em caminhada da sede da Associação Médica do RN em direção ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Durante o protesto houve também o terceiro enterro do Governo do Estado, simbolizado por um caixão preto.
Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed/RN) e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), disse que o protesto deste sábado é uma forma de continuar a pressão pela melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde nas unidades hospitalares do Estado. “A falta de fio de aço foi o estopim para mostrar o descaso e o desgoverno dessa administração, pois um cirurgião não ter fio de aço para fechar o paciente é o cúmulo do descaso. Há tempos, este governo abandonou a saúde a própria sorte. Se a situação continuar como está vai desencadear um clamor na sociedade pelo afastamento da governadora, tal como foi feito com a ex-prefeita Micarla de Sousa, por absoluta incompetência em solucionar os problemas do Estado, em especial da saúde”, destacou.
O presidente da Fenam participou nesta sexta-feira (25), de uma reunião no Ministério do Trabalho e ficou definido que será criada uma comissão para realizar uma sindicância a fim de fazer um levantamento das condições de trabalho da classe médica do Rio Grande do Norte. Até a segunda quinzena de março, a comissão deverá estar desembarcando no Estado para começar as atividades. “Esse é o primeiro governo que vejo conjugar a medicina com insensibilidade, que se arma de arrogância para punir e perseguir aqueles que lutam em defesa de melhores condições para os profissionais e para uma melhor assistência à população”, afirmou Geraldo Ferreira.
Diante do descaso do governo com a saúde pública, os médicos ficam ainda mais decepcionados, segundo Geraldo Ferreira, pelo fato de a governadora ser uma médica. “Os médicos nunca quiseram nenhum tipo de privilégio, mas tínhamos a perspectiva de que fosse um governo que tivesse um olhar especial para a saúde, mas o que aconteceu foi o contrário, a saúde caminha cada vez mais para a falência e, para complicar, a situação a governadora ainda elegeu a categoria médica como inimiga. O governo quer sucatear ao máximo a saúde pública para entregá-la a iniciativa privada. É um governo covarde, incompetente e frustrado”, desabafou o presidente dom Sinmed/RN.
A camisa usada pelo presidente do Cremern, o cirurgião Jeancarlo Cavalcante, bem como por diversos manifestantes, dava a tônica do protesto. A arte foi desenvolvida pelo médico, que também é desenhista, Sólon Maia, como uma sátira a situação que gerou toda a polêmica pela falta de fio de aço para fechar um paciente durante uma cirurgia realizada há duas semanas no Hospital Walfredo Gurgel. Na arte apresenta um manual de técnica de cirurgia. O texto, acompanhado das imagens, diz: “Na falta de fio de aço poderá fechar o tórax do paciente com cinto, cadarço, faixa, gesso, fita adesiva e cadeado de portão”. A imagem está nas redes sociais e em poucos dias já teve mais de 1.500 compartilhamentos.
“Agi institucionalmente, mas o Governo deu a resposta agindo de forma pessoal, o que gerou toda essa revolta da classe médica e da sociedade, que se mostra presente neste protesto. A lógica não se fez no Rio Grande do Norte, uma governadora médica e a saúde encontra-se nessa situação caótica. Quando pensamos que está no fundo do poço, a situação ainda pode piorar. Chegamos a um ponto que não tem mais retorno, não há fio de aço que segure esse governo. Jamais poderia imaginar que aquela madrugada quente de janeiro, com a cirurgia sendo realizada em condições inadequadas, pela falta de fio de aço para fechar o paciente, poderia tornar-se em um grito de indignação da sociedade. Hoje me sinto com o dever cumprido, não me perdoaria se tivesse sido omisso. Faria tudo outra vez”, destacou o presidente do Cremern, Jeancarlo Cavalcante.
O senador Paulo Davim, que também é médico e militante na área da saúde, também participou do protesto e não poupou críticas ao Governo do Estado. Sofrível. Assim, o senador avalia o Governo do Estado em relação à saúde pública. “A situação é grave e não tem como se dobrar a evidência. O caos existe e é fato. O que está sendo levado para as televisões, em nível nacional, os médicos do Estado já vivenciam isso diariamente há muitos anos. Estamos cansados de vivenciar esse descaso e é preciso que seja dado um basta nesta situação”, ressaltou o senador.
Paulo Davim também manifestou solidariedade ao presidente do Cremern. “Que governo é esse que maltrata os profissionais de saúde e não garante o mínimo de assistência à população? Que governo é esse que persegue, ameaça, e aponta o dedo dizendo que um médico com mestrado e doutorado em cirurgia torácica não sabe cirurgiar? Que governo é esse que bate diuturnamente no médico, enfermeiros, e demais profissionais de saúde e não se sensibiliza aos gemidos da categoria médica? Esse é o governo do Estado, que tem o descaso e descompromisso com a saúde pública”, desabafou o senador, que também é médico.
O presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Marcos Dionízio, que também somou-se ao movimento, por considerar a saúde como um direito inerente a condição humana e a crise instaurada na saúde fere esse direito básico da população. “O Hospital Walfredo Gurgel que historicamente foi um centro de salvar vidas passa por uma crise sem explicação. O Governo ao invés de equacionar os problemas e garantir a assistência, preferiu processar um médico sério que apenas mostrou a realidade da saúde. O governo tenta fazer uma política de caça às bruxas e de uma forma perversa está aprofundando o sofrimento mental dos profissionais que trabalham no Walfredo Gurgel, pelas precárias condições de trabalho. A saúde é apenas a ponta do Iceberg, pois todas as políticas públicas do Estado estão falidas”, destacou.
A presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde Pública do RN (Sindsaúde/RN), Sônia Godeiro, que também é pediatra no Hospital Walfredo Gurgel relata que, assim como o cirurgião Jeancarlo Cavalcante, também sofre com a falta de insumos no hospital. A pediatra conta que além da falta de medicamentos, respirador e lençóis, os profissionais ficam aflitos quando chega uma criança em situação de urgência, precisando de leito de UTI, pois geralmente não há vagas. “Ficamos aflitos porque normalmente não há vagas e temos que medicar e garantir a vida das crianças sem a menor condição de trabalho. A nossa decepção maior é que a governadora é pediatra e a situação na saúde só piora e caminha de mal a pior”, afirmou a sindicalista.
Marcos Martins é presidente da Associação dos Trabalhadores da praia de Ponta Negra e também participou do protesto em apoio ao presidente do Conselho e contra o descaso do “governo Rosa”. “A saúde deveria ser a menina dos olhos dessa governadora, mas ela a trata como escanteio. Estamos aqui para unir forças para denunciar e protestar contra o descaso. Os médicos não estão sozinhos, é uma briga não dos médicos, mas sim da sociedade. É um dever moral estarmos aqui. Um homem que tinha tudo para se calar, teve coragem e hoje se torna um exemplo de cidadão destemido, honrado e corajoso”, disse.
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